O papel do economista no planejamento estratégico empresarial, na aplicação do conceito ESG e na prevenção de riscos
Artigo de opinião de Pedro Afonso Gomes, conselheiro federal. Este é o sexto texto da coletânea “Mercado de Trabalho para o Economista Profissional Liberal”.*Confira os anteriores: “A Chancela do Economista” (primeiro), “A atualização da legislação profissional do economista” (primeiro), A atualização da legislação profissional do economista (segundo), “Avaliação econômica de empresas, ativos tangíveis e intangíveis e passivos ocultos” (terceiro), “Atuação do/a economista em perícias judiciais e extrajudiciais” (quarto) e “Oportunidades de trabalho para economistas a partir dos dispositivos do Código Civil Brasileiro” (quinto)
Conselheiro efetivo do Conselho Federal de Economia (Cofecon), ex-presidente do Conselho Regional de Economia da 2ª Região (Corecon-SP) e ex-presidente do Sindicato dos Economistas no Estado de São Paulo (Sindecon-SP)
O planejamento estratégico, as práticas ESG (Ambiental, Social e Governança) e a prevenção de riscos empresariais compõem um arcabouço essencial para o sucesso e a sustentabilidade organizacional.
Esses elementos são interligados e fundamentais para garantir que as empresas não só alcancem seus objetivos econômicos, mas também atuem com responsabilidade social, ambiental e ética.
Neste artigo, serão aprofundados esses conceitos e ilustrados com exemplos reais, destacando o papel crucial do Economista como agente integrador e gestor desses processos.
Planejamento Estratégico: Fundamentos e Abordagem Prática
O planejamento estratégico é um processo contínuo e sistemático de definição de metas, objetivos e ações para que uma organização alcance os resultados almejados ao longo do tempo.
É necessária a análise contínua dos ambientes interno (“a árvore”) e externo (“a floresta”), contextualizando as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças para que seja possível definir as estratégias e a alocação eficiente dos recursos, entre outros aspectos.
Essa dinâmica deve promover o alinhamento entre os atores, desde a base até à cúpula dirigente, maximizar resultados e assegurar que a organização acompanhe as mudanças do mercado e aquelas decorrentes de alterações geopolíticas e institucionais.
A título de exemplo. Empresa com o objetivo de expandir seus negócios para o mercado latino-americano pode definir metas claras, como aumentar as vendas em 20% nos próximos três anos nesse mercado. Para isso, realiza análise para identificar oportunidades locais e ameaças competitivas. Em seguida, desenvolve estratégias específicas, como lançar produtos adaptados à cultura regional, investir em marketing digital direcionado e firmar parcerias com parceiros locais. O progresso é medido por indicadores-chave de desempenho (KPI), como número de clientes que se interessaram por seus produtos e/ou serviços, percentual de vendas efetivadas, receitas e despesas decorrentes e outros itens, dependendo do ramo de atividade. Esses indicadores alimentam constantemente o Planejamento Estratégico, para eventual alteração de rota ou maior ênfase em determinado item.
ESG: Integração para Sustentabilidade e Transparência
ESG representa um conceito gerencial que enfatiza o equilíbrio entre resultados econômicos e responsabilidades ambientais, sociais e de governança. As práticas ESG permeiam todas as áreas da empresa, influenciando desde a eficiência energética dos processos até políticas inclusivas de diversidade e estrutura de governança que assegura conformidade e ética corporativa.
A governança corporativa, por sua vez, é a base que sustenta o modelo ESG, garantindo transparência, responsabilidade e gestão de riscos. Ela assegura que interesses de acionistas, colaboradores, clientes e sociedade estejam alinhados, fortalecendo a reputação e a sustentabilidade da organização.
Exemplificando. Considerando o retorno que terá por adotar o planejamento estratégico, média empresa encomenda esse trabalho a um Economista, que detalha os riscos financeiros, operacionais e regulatórios associados às suas atividades. Além disso, integra à sua análise os conceitos do ESG, permitindo que a empresa possa desenvolver políticas rigorosas de compliance, monitoramento social e impacto ambiental, criando valor sustentável para seus clientes e investidores. Essa governança aprimorada contribui para decisões mais conscientes, segurança e reputação corporativa sólida, oferecendo as condições para que ela cresça paulatinamente. Como o Economista presta esse serviço a várias empresas, os custos de seu trabalho podem ser compartilhados, de modo que os honorários cobrados de seus clientes sejam suportáveis por tais clientes de pequeno e médio portes.
Prevenção de Riscos Empresariais: Pilar da Resiliência Corporativa
A prevenção de riscos empresariais tornou-se parte integrante da gestão estratégica e ESG, considerando não apenas o risco financeiro, mas também riscos ambientais, sociais, regulatórios e de governança. A abordagem atual exige uma gestão ampla e integrada dos riscos (Enterprise Risk Management – ERM), antecipando ameaças e implementando controles que minimizem impactos adversos.
Isso envolve a identificação e análise constante dos riscos que podem afetar o negócio, a criação de programas de compliance, auditorias e práticas éticas, além de planos de contingência para resposta rápida e eficaz a eventuais crises.
Na prática. Uma empresa do setor industrial pode implementar um sistema de gestão de riscos para prevenir impactos ambientais e operacionais, como vazamentos químicos ou acidentes de trabalho. Além disso, tem políticas rigorosas de compliance para evitar fraudes e garantir conformidade legal. A prevenção desses riscos assegura a continuidade dos negócios, evita penalidades legais e preserva a imagem da marca no mercado. A mensuração dos riscos, da sua probabilidade e do impacto sobre os resultados econômicos e financeiros (incluindo danos à imagem), requerem conhecimento amplo de Macro e Microeconomia e de Gestão Econômica de Empresa, que sinalizarão o quanto será gasto em prevenção dos eventos indesejados.
O Papel do Economista: Um Elo Essencial na Integração dos Processos
O Economista desempenha papel multifacetado e estratégico, atuando como analista, planejador e gestor dos processos de planejamento, ESG e prevenção de riscos. Seu conhecimento permite que decisões sejam tomadas sob rigor analítico, alinhando sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Principais contribuições do economista:
- Realiza avaliações econômicas e financeiras que incorporam critérios ESG e análise detalhada de riscos.
- Desenvolve modelos quantitativos e indicadores para acompanhar performance econômica, social e ambiental.
- Conduz análises de cenários que antecipam possíveis impactos e oportunidades, orientando estratégias mais robustas.
- Elabora e monitora planos de mitigação de riscos, integrando compliance e governança ética.
- Apoia a transparência na gestão, promovendo confiança de investidores, clientes e demais partes interessadas.
- Facilita o alinhamento entre objetivos econômicos e responsabilidades socioambientais para garantir sustentabilidade e competitividade.
Caso concreto que se tornou público. Na empresa Movida, atuante no setor de locação de veículos, o Economista foi decisivo na formulação do planejamento estratégico que envolveu modernização tecnológica, reestruturação do atendimento ao cliente e otimização de custos operacionais. Esse profissional analisou o impacto financeiro das ações, os riscos operacionais envolvidos e ajudou a criar métricas (KPIs) que monitoraram o progresso do plano. Como resultado, a empresa alcançou crescimento expressivo na participação no mercado (market shar, melhoria significativa do NPS (índice de satisfação) e redução de custos, mostrando a eficácia da integração entre estratégia, governança e prevenção de riscos.
Considerações Finais
A articulação entre planejamento estratégico, ESG e prevenção de riscos é essencial para empresas que almejam não apenas sobreviver como prosperar em um mercado dinâmico e exigente.
O papel do Economista é fundamental, pois une a capacidade analítica à visão sistêmica na criação de estratégias eficazes que promovem sustentabilidade econômica, responsabilidade social e ambiental, bem como ética e transparência.
O exemplo prático das grandes organizações evidencia que essas ações conjuntas impulsionam inovação, mitigam riscos, fortalecem a resiliência e geram valor sustentável para todos as partes interessadas no sucesso das empresas que se dispõem a investir um pouco para ganhar muito.
Cabe ao Economista preparar-se e estar constantemente atualizado para que, quando acionado, corresponda à confiança do contratante para desempenhar atividades nessa área.
E pertence ao rol de responsabilidades das instituições de ensino e das entidades dos Economistas dar suporte aos profissionais que pretendam dedicar-se à área, em papel de tão grande relevância para a economia e a sociedade em geral.