“Shutdown tão prolongado mina confiança dos investidores”, afirma conselheiro federal
Gustavo Casseb Pessoti falou ao portal Exame sobre a paralisação dos serviços do governo federal dos Estados Unidos e analisou impactos sobre o Brasil
O conselheiro federal Gustavo Casseb Pessoti falou sobre a paralisação dos serviços do governo federal dos Estados Unidos – o chamado shutdown. A medida (que chegou a seis semanas nesta quarta-feira) aconteceu devido à falta de acordo entre republicanos e democratas no Senado para aprovar o orçamento anual – são necessários três quintos dos votos, o que só foi alcançado nesta terça-feira (11).
“O cenário combina inflação persistente, desaceleração do mercado de trabalho e juros altos. Um shotdown tão prolongado agrava estes fatores e mina a confiança dos investidores. Estima-se que a paralisação possa custar entre 10 e 15 bilhões de dólares por semana”, afirmou Pessoti.
O economista também vê efeitos em cascata para as economias emergentes: a incerteza leva investidores a buscar ativos mais seguros, fortalecendo o dólar e pressionando as moedas locais. Além disso, se a economia americana desacelerar, a demanda por importações cai, o que afeta exportadores de países emergentes – ainda que os Estados Unidos não sejam o principal destino das exportações brasileiras.
“O real tende a se enfraquecer, o que encarece importações e eleva custos de produção no Brasil. Também há menor fluxo de capital estrangeiro e aumento da volatilidade nas taxas de juros internas”, observa o economista.
Outra consequência do shutdown é a percepção externa de fragilidade institucional e política nos Estados Unidos – o que pode minar a credibilidade americana como “âncora” de estabilidade global. Uma transmissão global desta percepção pode gerar efeitos na estabilidade de mercados e nas estratégias de investimento globais.
A delegada regional do Corecon-SP Natalie Verndl também foi ouvida pela Exame. “Historicamente, essas paralisações tinham efeitos de curto prazo, mas o cenário atual é diferente. O governo americano enfrenta uma lacuna estatística sem precedentes – sem dados oficiais de emprego, inflação ou produção, o Federal Reserve fica no escuro para ajustar a política monetária”, comenta a economista. “Isso ocorre em meio a um ambiente de crescente risco fiscal, dívida elevada e juros longos pressionados, o que amplia a incerteza e a instabilidade institucional”.
Os setores brasileiros mais expostos, na visão d Natalie, são os ligados a exportações e cadeias produtivas com os Estados unidos. “Agroexportadores de carne, café e suco de laranja, além da indústria aeroespacial, como a Embraer, podem sentir os primeiros impactos”, diz a delegada regional. Segundo ela, atrasos em inspeções e certificações americanas podem desorganizar cronogramas logísticos e elevar custos.
A matéria publicada pelo portal Exame pode ser lida clicando AQUI.
