Desigualdade e produtividade: economistas destacam a educação como motor do desenvolvimento
Tema foi discutido no Painel “O combate à pobreza e à desigualdade social” do XXI CBE
Mais do que um tema econômico, a educação foi tratada no XXVI Congresso Brasileiro de Economia (CBE) como a base de um projeto de país. No painel “O combate à pobreza e à desigualdade social”, os economistas Naercio Menezes Filho e Jorge Abrahão Castro trouxeram dados e reflexões que mostraram como o investimento em capital humano deve estar no centro da agenda de desenvolvimento nacional para redução das desigualdades. O painel, mediado pelo economista João Manoel Gonçalves Barbosa, destacou a importância de pensar o crescimento econômico sob a ótica da inclusão e da sustentabilidade social, reforçando a necessidade de articular políticas públicas que unam educação, produtividade e oportunidades.
Educação como base da mobilidade social
O economista Naercio Menezes Filho, professor do Insper, iniciou sua exposição destacando a forte relação entre educação, renda e desenvolvimento econômico. “O Brasil é um país com alta desigualdade e baixa produtividade. Esses dois fatores estão diretamente ligados ao nosso atraso educacional”, afirmou.
Segundo ele, os ganhos de aprendizado na educação básica ainda são insuficientes para gerar transformações estruturais. “O problema não é só de acesso, mas de aprendizado. Muitas crianças concluem o ensino fundamental sem dominar leitura e matemática. Isso compromete a produtividade futura e perpetua o ciclo de desigualdade”, explicou.
Naercio apresentou dados que revelam o impacto da educação sobre o crescimento: “Cada ano adicional de estudo eleva em média 10% o rendimento de um trabalhador. Países que conseguiram melhorar a qualidade do ensino — como Coreia do Sul e Finlândia — experimentaram saltos expressivos na renda per capita e na inovação tecnológica.”
Ele também chamou atenção para a necessidade de políticas públicas baseadas em evidências. “Não basta gastar mais em educação; é preciso gastar melhor. Avaliar resultados, incentivar boas práticas e formar professores são medidas essenciais para garantir qualidade. A economia da educação tem mostrado que investimento bem direcionado traz retorno não apenas individual, mas para toda a sociedade.”
Na visão de Naercio, a educação é o principal caminho para a mobilidade social. “O Brasil tem uma das maiores transmissões intergeracionais de renda do mundo: o filho de uma família pobre tende a continuar pobre. A única forma de quebrar esse ciclo é por meio da escola pública de qualidade, com políticas que comecem na primeira infância e sigam até a formação técnica e superior.”
O economista ressaltou ainda que o investimento em primeira infância é o de maior retorno social e econômico. “As evidências mostram que quanto mais cedo a criança é estimulada, maior o impacto na vida adulta — em termos de escolaridade, renda e cidadania. É nessa etapa que se formam as habilidades socioemocionais que sustentam o aprendizado ao longo da vida.”
Desenvolvimento sustentável e redução das desigualdades
O economista Jorge Abrahão Castro, Coordenador-Geral da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, deu continuidade ao debate com uma análise sobre a relação entre desenvolvimento, bem-estar e sustentabilidade. Para ele, “o crescimento econômico por si só não garante qualidade de vida. O desafio é transformar riqueza em bem-estar, com políticas que reduzam desigualdades e melhorem as condições de vida da população.”
Abrahão apresentou dados que mostram a concentração de renda no Brasil e os efeitos da desigualdade sobre a coesão social. “Os 10% mais ricos concentram quase metade da renda nacional. Isso gera um país dividido, com baixa confiança social e grandes disparidades no acesso a serviços básicos. A desigualdade não é apenas um problema moral — é também um entrave econômico.”
Segundo o economista, o país precisa de uma nova métrica de progresso, que vá além do Produto Interno Bruto. “Desenvolvimento não pode ser medido apenas pela quantidade de bens produzidos, mas pela qualidade das relações sociais, pela inclusão e pela sustentabilidade ambiental. É preciso colocar as pessoas no centro das decisões econômicas.”
Abrahão destacou que educação e meio ambiente são pilares complementares para o desenvolvimento sustentável. “Não existe sustentabilidade sem conhecimento, e não há educação transformadora sem compromisso com o planeta. A escola tem papel central na formação de cidadãos críticos e conscientes do seu papel na construção de um futuro melhor.”
O economista também citou experiências municipais que vêm combinando políticas de educação, renda e sustentabilidade, como programas de compras públicas locais, ampliação da educação integral e incentivo à economia verde. “São políticas integradas que geram resultados duradouros, pois fortalecem as comunidades e criam oportunidades de desenvolvimento com base territorial.”
O papel do economista na construção de soluções
Ao encerrar o painel, os palestrantes convergiram em um ponto: a economia deve estar a serviço da sociedade. Naercio Menezes Filho reforçou que o economista tem um papel essencial na formulação de políticas públicas que priorizem o investimento humano. “Precisamos deixar de tratar educação e desigualdade como temas sociais e trazê-los para o centro do debate econômico. São eles que determinam o potencial de crescimento do país.”
Jorge Abrahão complementou destacando que o momento atual exige novas formas de pensar o desenvolvimento. “A economia precisa incorporar indicadores sociais e ambientais em sua lógica de planejamento. A verdadeira prosperidade é aquela que é compartilhada e sustentável.”
O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.
O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.