XXVI CBE: Gilneu Vivan, diretor do Banco Central, realizou palestra de encerramento

Diretor do Banco Central defende inovação, competição e inclusão financeira como caminhos para ampliar crédito e reduzir desigualdades

O economista Gilneu Vivan, diretor de Regulação do Banco Central do Brasil, foi o responsável pela palestra de encerramento do XXVI Congresso Brasileiro de Economia. Ele destacou que enquanto as discussões se concentram majoritariamente em temas macroeconômicos, são as mudanças micro — aquelas que afetam o funcionamento do sistema financeiro no cotidiano de empresas e cidadãos — que vêm impulsionando inovação, ampliando a concorrência e criando novas oportunidades na economia brasileira.

“Não vim falar sobre macroeconomia, mas sobre reformas microeconômicas que têm trazido novas oportunidades. O debate microeconômico não ocupa o espaço que deveria no Brasil”, afirmou. Ele destacou que, embora as reformas estruturais sejam essenciais, muitas vezes o impacto transformador vem justamente das mudanças que aprimoram regras, ampliam o acesso ao crédito e reduzem custos financeiros. “Você consegue, por meio do microeconômico, mudar o dia a dia de várias empresas e milhões de pessoas”, pontuou.

Ao traçar uma linha histórica da atuação do Banco Central, Vivan afirmou que inovação faz parte do DNA da instituição. “O BC sempre foi associado à ideia de inovação. Posso contar várias histórias de iniciativas do Banco Central que foram mudando o Brasil”, disse, citando exemplos como o Sisbacen, o avanço na contabilidade do sistema financeiro, a criação do SPB (Sistema de Pagamentos Brasileiro) e, mais recentemente, a regulamentação das instituições de pagamento. “Todas essas medidas foram pensadas para reduzir a concentração, aumentar a competição e gerar benefícios concretos para os usuários do sistema financeiro”, explicou.

Vivan também destacou medidas recentes que estão revolucionando o mercado de crédito. Uma delas é o sistema de registro de ativos financeiros, que permite usar recebíveis e outros instrumentos como garantias. “Estimamos que existam cerca de R$ 13 trilhões em ativos que podem ser utilizados como garantia e que ainda não estão sendo aproveitados pelo sistema financeiro”, declarou. Ele também ressaltou o sucesso do Pix, que em apenas cinco anos praticamente eliminou o uso de dinheiro em espécie para pagamentos cotidianos. “O Pix é um sucesso incontestável. Reduziu custos para os bancos, aumentou a inclusão financeira e melhorou a eficiência do sistema.” O diretor também citou o Open Finance como outra mudança profunda: “Hoje mais de 60 milhões de brasileiros já utilizam o Open Finance. Estamos devolvendo ao cliente o poder sobre seus dados financeiros e ampliando seu poder de negociação com os bancos.”

Encerrando sua fala, o diretor abordou o próximo ciclo de transformação do sistema financeiro, baseado em tokenização de ativos, digitalização do crédito e novas fronteiras para financiamento produtivo. Para ele, a criação de um sistema financeiro mais dinâmico passa pela modernização da infraestrutura de mercado. “A tokenização permite transformar qualquer ativo em representação digital negociável, reduzindo custos, aumentando transparência e dando velocidade às operações”, afirmou. Vivan também destacou que, apesar do avanço tecnológico, é preciso ter responsabilidade no uso de ferramentas como inteligência artificial. “A IA tem enorme ganho de escala, mas traz desafios quando reduz a criatividade e a tomada de decisão crítica. Precisamos usar tecnologia sem perder o elemento humano”, alertou. Segundo ele, inovação deve ser instrumento de desenvolvimento econômico e inclusão, nunca exclusão: “A agenda do Banco Central é baseada em competitividade, inclusão e sustentabilidade. Inovamos para gerar oportunidades para todos”.

XXVI Congresso Brasileiro de Economia 

O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS. 

O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro. 

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