XXVI CBE: Brasil precisa transformar potencial marítimo em desenvolvimento sustentável
Painel de debates destaca como o litoral brasileiro pode se tornar um vetor de inovação
O oceano cobre mais de 70% da superfície da Terra e é responsável por cerca de metade do oxigênio que respiramos, além de regular o clima e garantir o sustento de milhões de pessoas. Ainda assim, continua sendo uma das fronteiras mais negligenciadas da economia mundial. No XXVI Congresso Brasileiro de Economia (CBE), realizado em Porto Alegre, o painel “Economia Marítima” chamou a atenção ao destacar como o Brasil pode transformar seu vasto patrimônio marítimo em vetor de desenvolvimento sustentável e inovação. O debate foi mediado pelo economista, professor da UCS (RS), Mosar Leandro Ness.
O oceano como protagonista da nova economia
A economista Andréa Carvalho, professora e pesquisadora da FURG RS, abriu o painel lembrando que a economia azul — conceito que integra sustentabilidade e uso racional dos recursos marinhos — é uma das chaves para o futuro econômico global. “O oceano é vida, é emprego, é alimento, é transporte, é energia. E, no caso do Brasil, é também uma oportunidade imensa de desenvolver políticas públicas que unam crescimento e preservação ambiental”, afirmou.
Segundo Andréa, o país ainda explora de forma tímida o potencial de sua costa de mais de 8 mil quilômetros. “A economia do mar não se limita à pesca ou ao turismo. Envolve logística portuária, biotecnologia marinha, energias renováveis, transporte, educação e pesquisa. É um ecossistema de atividades que, se integrado de forma estratégica, pode gerar riqueza com responsabilidade”, explicou.
Ela destacou também o papel do Planejamento Espacial Marinho, uma metodologia usada por países que buscam conciliar o uso econômico e a proteção dos ecossistemas oceânicos. “O Brasil precisa organizar o seu território marítimo como organiza o terrestre. É um espaço de disputa por recursos e de construção de políticas. Sem planejamento, corremos o risco de repetir os erros de exploração predatória que marcaram outros setores”, alertou.
Desafios ambientais e sociais
O economista Gustavo Inácio de Moraes, professor da PUCRS, complementou o debate reforçando a interdependência entre a economia e a saúde dos oceanos. “Os mares são grandes reguladores climáticos. Qualquer desequilíbrio — poluição, pesca excessiva, aquecimento das águas — impacta diretamente a produtividade agrícola, o abastecimento de água e o bem-estar das populações costeiras”, afirmou.
Gustavo lembrou que a economia do oceano é, ao mesmo tempo, uma oportunidade e um alerta. “Temos a chance de desenvolver cadeias produtivas sustentáveis e inovadoras, mas também o dever de evitar a degradação. A poluição plástica, por exemplo, é um problema global que exige regulação, inovação tecnológica e educação ambiental. Sem isso, os custos sociais e econômicos serão cada vez maiores”, pontuou.
O economista também ressaltou que a pauta da economia azul precisa dialogar com a redução das desigualdades. “As comunidades litorâneas, em especial as que vivem da pesca artesanal, precisam ser incluídas no debate. Não há economia sustentável se ela não for também inclusiva. É preciso garantir renda, capacitação e acesso a tecnologias para essas populações”, destacou.
Agenda de oportunidades
Durante o debate, Andréa apresentou experiências internacionais bem-sucedidas que podem inspirar o Brasil, como a criação de clusters de economia azul em países como Portugal, Noruega e Chile, que integraram universidades, empresas e governos locais em torno de objetivos comuns. “Precisamos reconhecer o mar como parte da nossa identidade produtiva e científica. O investimento em pesquisa e inovação é o caminho para transformar o potencial marítimo brasileiro em desenvolvimento sustentável”, disse.
Gustavo acrescentou que o país já possui base técnica e científica para avançar nessa direção, mas precisa transformar conhecimento em ação. “O Brasil tem centros de pesquisa de ponta e uma das maiores zonas econômicas exclusivas do planeta. O que falta é traduzir isso em políticas públicas, investimentos e marcos regulatórios que incentivem a inovação verde e a economia circular”, defendeu.
Encerrando o painel, os economistas convergiram em uma mensagem de urgência e esperança. Para Andréa, “o oceano não é apenas um espaço geográfico — é um ativo estratégico que precisa ser visto como parte essencial do planejamento econômico do país”. Gustavo reforçou que o desenvolvimento sustentável depende de decisões tomadas agora. “O futuro da economia está no equilíbrio entre crescimento e preservação. E o oceano é o maior símbolo desse equilíbrio que precisamos aprender a respeitar.”
XXVI Congresso Brasileiro de Economia
O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.
O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.
