XXVI CBE: A mulher e o dinheiro: autonomia financeira e poder de escolha
O painel “A Mulher e o Dinheiro”, realizado dentro do Fórum da Mulher Economista e Diversidade, no XXVI Congresso Brasileiro de Economia, trouxe um debate marcado por reflexões profundas sobre segurança, autonomia e o futuro financeiro feminino. Com mediação da economista e professora Juliana Nascimento, o encontro reuniu as especialistas Dirlene Silva, Izete Pengo Bagolin e Karen Focchesatto, que trouxeram experiências distintas, mas complementares, sobre o papel da mulher nas finanças e na economia.
A economista Dirlene Silva, CEO da DS Estratégias e Inteligência Financeira, abriu sua fala destacando que falar de mulher e dinheiro é, antes de tudo, falar de autonomia, escolhas e futuro. “A economia não é apenas números e estatísticas — é sobre pessoas e sobre como as decisões econômicas impactam o nosso dia a dia”, afirmou. Ao compartilhar sua trajetória, Dirlene relatou como venceu estigmas e transformou a paixão pela economia em propósito: “Passei 30 anos no mundo corporativo e percebi que muitas vezes não exercia plenamente minha profissão. Hoje, meu trabalho é desmistificar economia e finanças, mostrando que conhecimento financeiro é poder e pode mudar vidas.”
A professora e economista Izete Pengo Bagolin, docente da PUCRS, reforçou a importância de compreender a economia sob a ótica social. “As mulheres estão cada vez mais à frente das decisões financeiras, mas continuam enfrentando desigualdades estruturais”, observou. Citando dados sobre chefes de família, ela destacou que quase metade dos lares brasileiros é liderada por mulheres, muitas delas com renda inferior à média nacional. “Elas decidem o consumo daquilo que mais importa para o futuro do país — os filhos. E fazem isso, muitas vezes, com recursos insuficientes. Esse esforço constante de equilibrar necessidades e desejos impacta diretamente seu bem-estar e o da família”, explicou.
Já Karen Focchesatto, consultora de investimentos da Unicred Porto Alegre, trouxe números reveladores sobre a presença feminina no mercado financeiro. “Apesar de 93% das mulheres participarem ativamente das finanças familiares, apenas 25% dos CPFs cadastrados na bolsa são de mulheres. E nove em cada dez não se sentem seguras para investir”, pontuou. Para ela, a falta de confiança é reflexo de uma cultura que historicamente delegou aos homens as decisões financeiras. “Ouço com frequência: ‘investimento é coisa do meu marido’. Precisamos quebrar essa crença. Investir é coisa de mulher, sim. Educação financeira é o caminho para a liberdade e a segurança emocional”, afirmou.
Dirlene aprofundou essa reflexão ao distinguir educação financeira de inteligência financeira: “Conhecimento é poder, mas só transforma quando colocado em prática. A inteligência financeira é justamente aplicar o que se aprende — é o conhecimento que liberta.” Ela lembrou que as mulheres só puderam frequentar o ensino superior há menos de 150 anos e que, por isso, cada conquista ainda tem um peso histórico. “A equidade passa pela apropriação do saber e da autonomia sobre o próprio dinheiro.”
Izete, por sua vez, ressaltou que a pressão financeira e emocional das mulheres afeta sua saúde e seu bem-estar. “O endividamento feminino é maior porque elas assumem responsabilidades que vão desde o supermercado até a educação dos filhos. Isso gera ansiedade, exaustão e até adoecimento. Precisamos de políticas públicas que garantam tempo e renda para que as mulheres cuidem de si mesmas”, defendeu.
Encerrando o painel, Dirlene resgatou um provérbio africano que resume o espírito do encontro: “Eduque um homem e estará educando um indivíduo. Eduque uma mulher e estará educando uma aldeia”. Para ela, quando uma mulher conquista autonomia financeira, transforma não só a própria vida, mas toda a comunidade ao seu redor.
XXVI Congresso Brasileiro de Economia
O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.
O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.
