XXVI CBE: Fórum sobre Perspectivas do Desenvolvimento Regional Brasileiro
Seis palestrantes discutiram o papel das instituições de financiamento nas políticas de desenvolvimento praticadas no Brasil e no exterior
O desenvolvimento regional brasileiro exige articulação entre políticas públicas, bancos de desenvolvimento e iniciativas privadas, buscando equilibrar crescimento econômico, inclusão social e sustentabilidade. Estas e outras conclusões foram apresentadas no Fórum sobre Perspectivas do Desenvolvimento Regional Brasileiro, realizado durante o XXVI Congresso Brasileiro de Economia (CBE), com participação de seis especialistas que apresentaram experiências práticas, dados estratégicos e lições nacionais e internacionais para fortalecer regiões com diferentes desafios socioeconômicos.
O debate foi dirigido pela conselheira federal Ana Cláudia Arruda – que, em 2025, coordena a Comissão de Desenvolvimento Regional e Local do Cofecon. Durante os meses anteriores, a Comissão realizou diversos eventos com especialistas que discutiram desenvolvimento territorial, desigualdades regionais, políticas públicas e planejamento. Mais do que um espaço de discussões no CBE, o tema teve uma atenção prioritária do Sistema Cofecon/Corecons ao longo do ano.
Banrisul: apoiando o Rio Grande do Sul durante as inundações
Durante um dos momentos mais críticos enfrentados pelo Banrisul, a sede do banco ficou com dois metros de água na entrada, colocando em risco não apenas a operação do banco, mas também o atendimento aos clientes. “Além de resolver os próprios problemas, porque o Banco estava afetado, precisávamos ajudar mais rapidamente a economia do estado. Tínhamos inaugurado um data center, e era fundamental que ele assumisse totalmente nossas operações em tempo recorde”, explicou Irany de Oliveira Sant’Anna Júnior. Com agilidade, a equipe conseguiu transferir as funções críticas para o data center 2, garantindo que todas as operações continuassem sem sobressaltos, mesmo em meio à crise.
O executivo destacou que o impacto sobre clientes e colaboradores exigiu uma ação ampla e rápida. “Naquele momento, muitas pequenas e médias empresas tinham suas atividades paradas, e pessoas físicas também precisavam de apoio. Concedemos mais de 4,8 bilhões em prorrogações de crédito, 7 bilhões em capital de giro, e 3,4 bilhões no Pronampe Solidário. Além disso, substituímos gratuitamente maquininhas danificadas, criamos linhas especiais para prefeituras e hospitais, e destinamos recursos para o agronegócio e projetos culturais”, relatou Irany, ressaltando que o esforço foi determinante para manter 100% das operações do banco em funcionamento durante a emergência.
BRDE: buscando fundos para desenvolver o sul do Brasil
O Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), segundo maior banco de desenvolvimento do país, desempenha um papel estratégico no apoio a projetos que transformam vidas e fortalecem a economia regional. “Nossa missão é apoiar quem produz e transformar vidas. O BRDE financia desde a construção de uma nova fábrica até a infraestrutura urbana, passando por hotéis e empreendimentos que agregam valor aos negócios. Virtualmente, tudo o que seja investimento com potencial de impacto positivo nós podemos apoiar”, comentou Leonardo Busatto, destacando que a instituição atua tanto de forma direta, com recursos próprios e funding nacional, quanto de forma indireta, por meio de cooperativas e redes conveniadas, totalizando 512 colaboradores engajados no processo.
O executivo ressaltou a relevância social e econômica do banco. “Para cada R$ 1 liberado pelo BRDE, gera-se R$ 1,20 de valor adicional, incluindo salários, ICMS e outros impactos econômicos. Além disso, nossas operações contribuem diretamente para a geração de empregos — a cada R$ 1 milhão liberado, são 15,9 empregos criados. Atuamos também com foco nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: 82% das nossas operações têm alinhamento com pelo menos um ODS, e destinamos recursos significativos a projetos de resiliência climática, como o Programa Sul Resiliente em parceria com o Banco Mundial, e à promoção de uma visão regional sustentável para 2040”, afirmou Busatto, reforçando que o legado do BRDE para a sociedade vai muito além do crédito, atuando na construção de cidades resilientes e no fortalecimento das cadeias produtivas.
Instrumentos de desenvolvimento da Amazônia
A Amazônia Legal, rica em biodiversidade e recursos naturais, representa um enorme desafio para o desenvolvimento sustentável do país. “A região ocupa 58,9% do território nacional, abriga 772 municípios, 13% da população do Brasil e responde por 9,5% do PIB nacional. No entanto, a desigualdade é evidente: dois municípios estão entre os 100 melhores IDHs do país, enquanto 58 estão entre os 100 piores. Roraima, Amapá e Acre contribuem com apenas 0,2% do PIB cada, e o Pará com 2,3%”, contou Kleber Mourão, presidente do Corecon-PA/AP, destacando que o Amazonas, com 70% de seu território preservado e economia concentrada no Polo Industrial de Manaus, é um exemplo do potencial econômico ainda não plenamente aproveitado.
Para Mourão, políticas públicas e instrumentos financeiros são essenciais para viabilizar o desenvolvimento regional. “O governo federal estruturou a PNDR com três instrumentos principais: fundos constitucionais para financiar quase todo tipo de atividade econômica, incentivos fiscais para atrair indústrias e fundos de desenvolvimento. Por exemplo, para cada R$ 1 aplicado pelo Fundo de Desenvolvimento da Amazônia, outros R$ 4 são investidos na região. É graças a esses mecanismos que a Amazônia está hoje interligada no sistema de energia elétrica. Precisamos fortalecer instituições, garantir segurança jurídica, verticalizar a indústria e gerar valor sem destruir o meio ambiente, encontrando alternativas de compensação monetária para a preservação da floresta”, observou, ressaltando a importância de equilibrar desenvolvimento econômico e conservação ambiental.
Sudene, BNB e o desenvolvimento do Nordeste brasileiro
O Nordeste brasileiro, apesar de sua riqueza cultural e potencial econômico, ainda enfrenta desafios significativos em termos de desenvolvimento regional. “Atuamos em nove estados no Nordeste, além do norte de Minas Gerais e do Espírito Santo, abrangendo mais de 59 milhões de habitantes e 13% do PIB nacional. Nosso trabalho envolve planejamento territorial, fomento ao setor produtivo e articulação com entes nacionais e subnacionais, sempre seguindo a perspectiva de Celso Furtado de gerar transformação regional”, explicou o presidente do Corecon-CE, José Wandemberg Almeida, destacando a importância da interiorização da economia nordestina e da descentralização do desenvolvimento para reduzir desigualdades e impulsionar a geração de renda.
Para Wandemberg, políticas públicas, fundos e incentivos fiscais são essenciais para potencializar a economia local. “O Banco do Nordeste é o maior banco da América Latina em microcrédito, com programas como Crediamigo e Agroamigo, transformando a realidade do pequeno empreendedor. Criamos também o FNE Mulher, para apoiar mulheres empreendedoras, e o FDNE, focado em infraestrutura para atrair empresas e gerar emprego. Além disso, incentivamos energia solar e eólica, bioeconomia e indústrias estratégicas. Nosso objetivo é reduzir desigualdades, fortalecer a indústria local e estimular inovação com sustentabilidade. O recurso aplicado está gerando emprego, renda e aumentando a capacidade de investimento da região”, afirmou, reforçando o compromisso com um crescimento equilibrado e responsável.
BNDES: rapidez no enfrentamento aos eventos climáticos
O BNDES tem tido uma atuação importante frente aos desafios climáticos e às emergências regionais, mostrando que a presença do banco vai além do financiamento tradicional. “Durante a pandemia de Covid-19 em 2020 e as inundações de 2023/24, tivemos que agir rapidamente para apoiar empresas e municípios. Em situações de emergência, o crédito precisa sair de forma ágil, e nem sempre havia linhas perenes previamente estruturadas, como foi o caso no Rio Grande do Sul”, explicou Fernanda Silveira, gerente do Departamento de Eventos Extremos da instituição, destacando a importância de programas emergenciais e preventivos para manter a economia e a infraestrutura resilientes.
Para a economista, a estratégia do banco combina monitoramento, prevenção e reconstrução. “Trabalhamos ações preventivas, emergenciais e de reconstrução, monitorando diariamente os eventos extremos no Brasil. Hoje, com o BNDES automático emergencial, o Programa de Liquidação de Dívidas Rurais e soluções financeiras para empresas em dificuldade, conseguimos dar fôlego a quem precisa. Também desenvolvemos o Programa BNDES Cidades Resilientes, que apoia municípios na implementação de soluções climáticas, e o BNDES Periferias, promovendo inclusão produtiva em favelas e periferias. Nosso objetivo é fortalecer a resiliência e garantir que a economia esteja preparada para enfrentar desastres naturais”, pontuoui.
Lições da China
Elias Jabbour provoca uma reflexão sobre os limites das teorias econômicas tradicionais ao analisar o fenômeno de desenvolvimento da China. “Uma pergunta que surge diante de alguns fenômenos: como os chineses conseguiram construir em 15 anos 45 mil km de trens de alta velocidade e urbanizar 200 milhões de pessoas em apenas uma década, oferecendo saúde, educação, emprego e moradia para todos? Esse é o principal paradigma teórico que precisamos compreender. As leis ortodoxas não explicam, e é preciso estudar os canais financeiros, o investimento público e a estratégia estatal para entender o crescimento extraordinário do país”, disse. Para ele, o exemplo chinês desafia o pensamento econômico clássico, mostrando que o investimento massivo e coordenado do Estado é capaz de gerar renda e desenvolvimento de forma acelerada.
Jabbour enfatiza que o papel do setor público é decisivo para viabilizar o desenvolvimento sustentável e inclusivo. “Quem abre caminho para o desenvolvimento não é o setor privado, mas o setor público. Na China, o capital está subordinado ao poder público, há 96 grandes conglomerados estatais em setores estratégicos, bancos públicos que criam moeda fiduciária, e cada capital de província tem seu próprio banco. É uma economia socialista organizada para servir à sociedade. O Brasil precisa se organizar enquanto projeto nacional de desenvolvimento. Temos poucos anos para agir, e o papel dos economistas é gigantesco nesse esforço. Precisamos aprender com exemplos concretos e adaptar políticas para reduzir desigualdades e acelerar o crescimento”, recomendou.
XXVI Congresso Brasileiro de Economia
O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.
O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.
