XXVI CBE: O comportamento e a tomada de decisão econômica
Especialistas em psicologia e economia comportamental discutem limites da racionalidade e impactos nas políticas públicas e finanças no XXVI Congresso Brasileiro de Economia
Um dos debates mais provocadores do XXVI Congresso Brasileiro de Economia foi o painel Economia Comportamental”, que colocou em evidência um tema cada vez mais central para a compreensão da dinâmica econômica: o comportamento humano. Participaram da mesa a psicóloga econômica Vera Rita Ferreira, o professor Fernando Nogueira da Costa e a economista Flávia Ávila. Em comum, os palestrantes defenderam que modelos econômicos sem conexão com a realidade psicológica e social das pessoas deixam de explicar o mundo como ele é – e, por isso, políticas públicas e estratégias financeiras precisam incorporar o conhecimento comportamental para gerar resultados concretos.
Vera brincou que veio para tentar “converter” os colegas economistas, já que ela é uma “infiltrada” no evento. “Eu sou psicóloga econômica, então vou trazer um pouco o olhar da psicologia econômica para as questões de desenvolvimento sustentável, que não é a mesma coisa que crescimento, e várias ciladas psicológicas que podem atrapalhar esse processo”, diz.
Ela falou sobre a compreensão do funcionamento mental; a relevância da psicologia econômica e das ciências comportamentais no enfrentamento dos desafios desse desenvolvimento sustentável; e a necessidade de um esforço coletivo, que Vera chama de ”quinteto fantástico”, composto por 1) psicologia econômica, 2) ciências comportamentais, 3) economia comportamental, 4) políticas públicas e 5) regulação.
Vera destaca que essas áreas devem trabalhar juntas para embasar ações como a arquitetura de escolha, a proteção do consumidor e a educação econômica e financeira, resultando num equilíbrio entre o entre crescimento econômico e a responsabilidade social.
Flávia falou sobre economia comportamental e destacou um ponto crucial que afeta tanto indivíduos quanto organizações: o descompasso entre intenção e ação. Segundo ela, muitas pessoas têm o desejo de agir de determinada forma, mas, no momento de colocar seus planos em prática, acabam não concretizando suas intenções. Esse “gap” entre o querer e o fazer é considerado alarmante.
A especialista explicou que, se apenas o acesso à informação fosse suficiente para gerar ação, “todos nós seríamos maratonistas, milionários e extremamente bem-sucedidos”. Contudo, a realidade mostra que o conhecimento por si só não é capaz de superar certos desvios sistemáticos que influenciam o comportamento humano.
Flávia ainda mencionou o conceito de “arquitetura de escolha”, que consiste em criar ambientes que incentivem mudanças positivas no comportamento das pessoas. Ela reforçou que as decisões nem sempre são tomadas com base na racionalidade e que é necessário considerar os fatores que influenciam o processo decisório.
Fernando Nogueira destacou a importância de adaptar os conceitos da área de economia comportamental à realidade brasileira, “em vez de reproduzir ideias estrangeiras”. Segundo ele, não considerar as especificidades locais, pode levar a decisões pouco práticas.
O palestrante enfatizou que a maior parte da riqueza no Brasil está na classe média e nos pequenos investidores, e não apenas nos clientes de alta renda dos bancos privados. Ele apontou mudanças recentes no comportamento financeiro dessas pessoas, como a migração da poupança para investimentos como CDBs e renda fixa.
Para ele, é preciso ensinar educação financeira não só ao público, mas também aos próprios economistas, para que estudem e adaptem suas análises ao contexto brasileiro. “Decisões financeiras devem ser baseadas em dados concretos e na realidade do Brasil, promovendo práticas mais eficazes e seguras para todos os envolvidos”, diz.
XXVI Congresso Brasileiro de Economia
O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.
O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.