XXVI CBE: Cenário econômico e geopolítico mundial

Painel debate desglobalização, tarifaço de Trump e novos arranjos de poder internacional

O painel Relações Econômicas Internacionais – Cenário Econômico e Geopolítico Mundial com o Tarifaço promovido por Trump analisou tendências recentes da economia global e seus impactos nas relações internacionais. Com abordagens complementares, os economistas André Azevedo e Mauro Salvo trouxeram perspectivas críticas sobre a dinâmica do comércio internacional, o retorno do protecionismo, o papel dos EUA e a disputa de hegemonia no mundo multipolar.

Azevedo destacou que as transformações estruturais da economia mundial que resultaram na globalização remontam às décadas de 1970 e 1980, com o avanço da automação e das cadeias globais de valor. “A automação levou à substituição de trabalhadores menos qualificados por capital e abriu espaço para um modelo produtivo globalizado, no qual empresas passaram a deslocar etapas produtivas para países com baixos custos e crescente capacidade tecnológica”, afirmou. Segundo ele, esse processo foi viabilizado pela revolução das tecnologias da informação, que impulsionou a globalização produtiva e o comércio interindustrial entre Norte e Sul.

Azevedo também analisou o movimento de reversão da globalização observado desde eventos como a crise de 2008, o Brexit e a eleição de Donald Trump em 2016. “Estamos vivendo o fim do período conhecido como hiperglobalização. Desde 2020 o comércio mundial não cresce mais do que o PIB global, algo inédito desde a Segunda Guerra Mundial”, destacou. Ao comentar as tarifas comerciais implementadas pelo ex-presidente Donald Trump, foi enfático: “O tarifaço não tem suporte técnico. Nenhum argumento protecionista justifica uma proteção tão ampla e irrestrita como a proposta pelos EUA. Trata-se de uma resposta equivocada para um problema real”, concluiu. Ele citou ainda que as tarifas estão associadas à “doutrina da mágoa”, segundo a qual uma América gentil seguiu as regras e foi traída por seus parceiros comerciais, e que esta doutrina seria um mandato para parar com a “exploração estrangeira”, punindo quem traiu os Estados Unidos.

O economista Mauro Salvo explicou que sua fala reflete a posição pessoal, e não da instituição em que trabalha, e trouxe uma reflexão geopolítica sobre os impactos da guerra comercial entre Estados Unidos e China e os efeitos do isolacionismo econômico norte-americano. “Com as novas tarifas, Trump abandona a negociação multilateral e parte para uma estratégia de disputa bilateral na qual os EUA se sentem mais fortes para impor condições”, explicou. Para ele, esse movimento ameaça corroer o sistema internacional construído ao longo de décadas. “Essa postura rompe com instituições criadas para reduzir custos e promover cooperação, e tende a gerar reações estratégicas de outros países na formação de novos blocos econômicos”, afirmou.

Salvo também argumentou que a interdependência econômica entre nações está sendo redesenhada. “Todos os países que foram tarifados pelos EUA, inclusive o Brasil, vão buscar novos parceiros comerciais e, ao mesmo tempo, fortalecer suas cadeias produtivas internas”, avaliou. Ele encerrou destacando o papel da política doméstica nas decisões internacionais, com base na teoria dos jogos de dois níveis de Robert Putnam: “Não há política externa sem cálculo interno. Toda decisão no cenário internacional precisa ser ratificada pela opinião pública e pelos interesses domésticos”, concluiu.

XXVI Congresso Brasileiro de Economia

O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.

O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.

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