XXVI CBE: A inteligência artificial e o futuro da profissão de economista
Economistas Lauro Chaves Neto e Nelson Seixas dos Santos discutem impactos, riscos e oportunidades da IA na atuação profissional
O painel sobre Inteligência Artificial trouxe reflexões profundas sobre o impacto das novas tecnologias na economia, no trabalho e no papel do economista. Os palestrantes Nelson Seixas dos Santos e Lauro Chaves Neto convergiram em uma mensagem central: a IA não é uma tendência distante, mas uma realidade que já transforma métodos analíticos, demandas de mercado e competências profissionais. Em vez de substituir economistas, afirmaram, ela reorganiza o trabalho e exige novos repertórios, especialmente na fronteira entre análise de dados, ciência econômica e programação.
Nelson abriu a mesa defendendo que o núcleo do trabalho analítico permanece o mesmo, ainda que o ferramental se transforme rapidamente: “Todos nós precisamos coletar dados, escolher modelos de análise e estimar parâmetros. Em alguma medida, nossos empregadores ou clientes esperam que tenhamos uma bola de cristal. Com a inteligência artificial, parte desse processo pode ser automatizada — mas isso torna o trabalho humano ainda mais necessário, e não o contrário”, afirmou. Para ele, o verdadeiro desafio é duplo: “Como evitar ser substituído pela IA e como usá-la para alavancar nossa carreira?”.
Seixas reforçou que a IA está para esta geração como a internet esteve para os profissionais nos anos 1990. “Quando a internet surgiu, muitos acharam que o conhecimento estaria tão disponível que os especialistas se tornariam desnecessários. Aconteceu exatamente o oposto: com um excesso de dados, aumentou a demanda por quem sabe transformar informação em análise”, disse. Ele também deixou um alerta direto aos jovens economistas: “Para os profissionais júnior, entender de ciência de dados e IA é condição sine qua non. E para os sênior, será indispensável aprender a dialogar com algoritmos e entender o que eles fazem. A IA veio para ficar — e a palavra final sobre seu uso ainda será nossa, dos profissionais”, concluiu.
Lauro trouxe uma reflexão estratégica sobre a transformação em curso e a necessidade de adaptação acelerada. “Estamos aqui mais para colocar dúvidas do que respostas. Nenhum especialista em IA hoje sabe dizer como estará essa tecnologia em um ano. A única certeza é que ela já mudou a forma de trabalhar e vai continuar mudando”, disse. Citando Garry Kasparov, ele resumiu a nova lógica produtiva: “Não se trata mais de competir com as máquinas, mas de colaborar com elas”.
Chaves destacou que a IA deve ser vista como oportunidade por quem souber usá-la: “A inteligência artificial não é sobre fazer mais — é sobre fazer melhor. Ela não substitui o humano: amplia o possível. A ameaça não é a IA, mas não aprender a utilizá-la. A verdade é simples: a IA não vai substituir economistas. Mas economistas que usam IA vão substituir os que não usam”, afirmou. Ele encerrou com uma provocação pragmática: “Quer saber qual a primeira regra para usar IA? Comece. Só aprende quem coloca na prática”.
XXVI Congresso Brasileiro de Economia
O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.
O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.