XXVI CBE: Financiamento, inovação e desenvolvimento da economia criativa
Especialistas discutem financiamento, inovação e oportunidades para o crescimento do setor no Brasil
A economia criativa é um setor que vem ganhando relevância como vetor de desenvolvimento econômico e social, gerando emprego, renda e novas formas de produção baseadas em conhecimento e talento. No entanto, os desafios ainda são expressivos, especialmente no que diz respeito ao financiamento, à formação de ecossistemas de inovação e à transformação criativa em valor econômico. O XXVI Congresso Brasileiro de Economia teve um painel de debates sobre o tema, com participação dos economistas Leandro Antonio de Lemos, Luiz Alberto Machado e Abdon Barreto.
Lemos, que atua na área de desintermediação financeira no Brasil, abordou a questão do financiamento. “No setor de turismo temos quase 8% do PIB brasileiro. O setor de economia criativa, que envolve linhas de moda, design, gastronomia, games, economia digital, entre outras áreas, já gera em torno de 2%. Esportes, um setor extremamente amador, já gera em torno de 1% do PIB. O grande desafio é fazer estes ecossistemas atuarem de forma estratégica. Como financiar essas atividades, que muitas vezes não são protagonistas dos modelos de desenvolvimento e das políticas públicas?”, questionou. “Já vi R$ 100 milhões de dólares aprovados para 17 municípios e nenhum real ser utilizado porque faltou dentro dos municípios o conhecimento regulatório e capacidade de captação. O grande desafio não é dinheiro. É saber operar e estruturar projetos com inteligência financeira.”
“Estamos vivendo uma revolução financeira com a digitalização e a tokenização de ativos. Já estruturamos fundos internacionais com custo financeiro entre 1,5% e 4,5% ao ano, sem passar necessariamente por bancos. Hoje, qualquer projeto público, privado ou de terceiro setor pode se financiar de forma direta. Mas falta preparo: os economistas e advogados das prefeituras não sabem sequer formular perguntas sobre o marco regulatório dos fundos”, comentou. “De uma forma geral, estamos num momento em que é permitido que cada um de nós criar nossa moeda. As pessoas não entendem por que o bitcoin se valoriza mais que o dólar. Um criptoativo tem mais credibilidade que a moeda, tem várias camadas de segurança dentro da blockchain”.
Luiz Alberto Machado abordou a área da criatividade e, antes de explicar o que ela é, tratou de contextualizar o que ela não é. “A criatividade não é um dom reservado a poucos iluminados. Todos nascem criativos — o que acontece é que crescemos com bloqueios culturais que vão podando essa capacidade. Pais, professores, patrões, preguiça, perfeccionismo e preconceitos moldam nossa forma de perceber o mundo e limitam nosso potencial criativo”, comentou. Criatividade não é magia, nem loucura, nem inspiração mística. É uma função inventiva da imaginação que pode ser desenvolvida com método e disciplina.”
“Quando falamos de economia criativa, falamos de transformar talento em valor econômico”, afirmou o economista. Ele contextualizou cinco gerações de estudos sobre criatividade, começando com o desenvolvimento de habilidades na década de 1950 e evoluindo até chegar à economia criativa. Por fim, falou sobre cidades criativas: “Para que uma cidade seja criativa, precisa reunir os três Ts: Talento, Tecnologia e Tolerância. A UNESCO já reconhece mais de 350 cidades criativas no mundo, 14 delas no Brasil. Qualquer território pode se tornar criativo se for capaz de gerar oportunidades e atrair talentos”.
Na sequência, o economista Abdon Barreto falou sobre alguns casos práticos. “A economia criativa só faz sentido quando gera impacto real — e isso acontece quando criatividade encontra inovação. Todo mundo é criativo, mas nem todo mundo é inovador. Inovar exige testar, provar usabilidade, gerar resultados”, comentou. “Quando criei o primeiro sistema eletrônico de reservas de hotel do Brasil, ainda na era do telex, ninguém acreditava. Construímos uma ponte entre dois computadores e, anos depois, nos tornamos o primeiro hotel do país com reserva on-line. Criatividade sem aplicação é apenas ideia; inovação é execução”.
“Os setores criativos representam uma das maiores fronteiras de desenvolvimento do Brasil. Já são 4 milhões de trabalhadores criativos e a projeção é de mais 1 milhão de empregos até 2030. E com boa remuneração: o salário médio da economia criativa é de R$ 4.018, bem acima da média nacional. Isso envolve cultura, design, turismo, games, marketing, audiovisual, patrimônio, entretenimento e tecnologia. Com estratégia e visão, a criatividade pode transformar territórios”, mencionou Barreto. Ele também falou sobre um trabalho que realizou: a criação do mascote Dinotchê para incentivar o turismo paleontológico (o Rio Grande do Sul é reconhecido como a terra dos dinossauros mais antigos do mundo), que virou referência e conquistou reconhecimento internacional.
XXVI Congresso Brasileiro de Economia
O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.
O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.