XXVI CBE: “O problema do mundo hoje não é econômico, é de organização política e social”, afirma Dowbor

Economista participou de painel de debates sobre cidades e desenvolvimento econômico

O economista Ladislau Dowbor, professor da PUC-SP, realizou uma análise dos desafios contemporâneos do desenvolvimento, destacando que vivemos uma contradição histórica: nunca houve tanta capacidade produtiva e tecnológica no mundo, mas a desigualdade social segue crescendo. Segundo ele, a concentração de riqueza e o domínio do sistema financeiro sobre a economia real representam os principais entraves à redução da pobreza e à promoção do bem-estar social.

Ao tratar das transformações aceleradas pela tecnologia, Dowbor afirmou que estamos numa mudança de era, não apenas de modelo produtivo. “A moeda mudou, o dinheiro se tornou imaterial e circula na velocidade da luz. O mundo está conectado e a base da economia hoje são sistemas de informação e conhecimento, não mais as máquinas”, disse, lembrando que a mudança em curso é considerada por cientistas “dez vezes maior que a Revolução Industrial”. Para ilustrar a diferença entre economia material e imaterial, Dowbor comparou: “Se alguém compra um relógio, outra pessoa fica sem relógio. Mas se compra uma ideia, duas pessoas ficam com a ideia. O conhecimento se multiplica com o uso, e isso muda tudo”.

Para o economista, a desigualdade deixou de ser um problema técnico e tornou-se uma escolha política. Ele lembrou que a concentração de renda atingiu níveis insustentáveis: “O 1% mais rico do planeta tem patrimônio de 213 trilhões de dólares, enquanto a metade mais pobre tem 5 trilhões. Um imposto de apenas 2,5% sobre esse 1% seria suficiente para dobrar a renda dos mais pobres.” Para ele, a solução passa por redistribuição de renda e fortalecimento da demanda: “Se colocar dinheiro na base da sociedade, gera produção, emprego e consumo. O Brasil está com 71% da capacidade industrial parada porque não tem para quem vender.”

Dowbor criticou o atual modelo financeiro e defendeu um novo paradigma econômico. “Hoje a exploração não é mais pelo salário baixo, porque para explorar via salário é preciso gerar emprego. Agora a extração de riqueza acontece pelo sistema financeiro, pelos juros abusivos. Só no Brasil, entre 7% e 10% do PIB é esterilizado pela Selic”, afirmou. Segundo ele, países como a China têm sucesso porque entenderam que desenvolvimento exige inclusão: “Eles inverteram a lógica neoliberal. Não esperaram o bolo crescer para distribuir, começaram distribuindo para crescer”. E concluiu com um chamado à reflexão: “Precisamos resgatar a função social da economia. É hora de pensar o que parece inatingível e mudar a visão sistêmica. A economia deve servir à sociedade, e não o contrário.”

XXVI Congresso Brasileiro de Economia

O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.

O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.

Share this Post