Pagnussat analisa deflação registrada em agosto e não vê grande influência do tarifaço 

Conselheiro federal falou à TV Câmara. Ele vê um efeito sazonal na redução dos preços dos alimentos e aponta o bônus de Itaipu como principal responsável pela queda de 0,11% no IPCA 

O conselheiro federal José Luiz Pagnussat participou nesta segunda-feira (15) do programa Painel Eletrônico, da TV Câmara. Ele foi entrevistado a respeito das causas e consequências da deflação registrada em agosto: o Índice de Preços ao Consumidor Amplo registrou queda de 0,11%. A entrevista pode ser assistida no YouTube, clicando AQUI.

Pagnussat mencionou que há um efeito sazonal de redução de preços em meados do ano. “Tem a entrada da safra e a melhoria das condições de alguns produtos hortigranjeiros, o que puxa a inflação para baixo. Já temos três meses de deflação nos alimentos”, comentou o conselheiro. “Mas, no caso específico deste mês, houve uma influência muito grande do bônus de Itaipu, que reduziu a tarifa de energia elétrica residencial. Assim, o setor de habitação foi o grande responsável pela deflação registrada no mês de agosto em quase todas as capitais”. 

Pagnussat também vê uma inflação mensal menor até o fim do ano – próxima dos 0,2%, contra 0,4% a 0,5% no ano passado. “A economia vem diminuindo a atividade, o comércio está negativo há quatro meses, somente o setor de serviços está positivo”, pontuou. “Há uma redução na demanda, que influencia o comportamento dos preços no fim do ano. E tudo porque a taxa de juros está num patamar bastante elevado”. 

Há alguma influência das tarifas de Donald Trump na deflação registrada em agosto? “Os principais itens que sofreram com as tarifas ainda não tiveram redução de preços, com exceção de alguns poucos”, citou. “O café vinha em queda e não teve a trajetória alterada; exportamos mais soja e o mesmo ocorreu com outros produtos. Talvez só o frango ainda tenha a possibilidade de manter os preços mais baixos ao longo do ano”. 

O economista comentou que outros mercados se abriram e o Brasil teve um resultado muito positivo na balança comercial de agosto. “Fiz uma análise por país. A China aumentou a importação de vários produtos, o Canadá também. Exportamos mais carne para o México em função de uma doença na pecuária deles”, analisou. “O grande problema do tarifaço são aqueles milhares de pequenos negócios que têm no mercado americano o seu nicho. A manga, o mel de algumas regiões do Brasil, esses realmente sofreram muito. Mas os grandes produtos têm uma demanda internacional favorável”. 

Inflação dentro da meta? 

A inflação acumulada em 12 meses é de 5,13% – um pouco acima do teto da meta utilizada pelo governo (3%, com margem de 1,5 ponto). “Penso que poderemos chegar ao limite superior da meta até o final do ano, mas o mercado ainda não prevê isso”, observou. “Eu coloco essa possibilidade dentro da minha projeção, dado que os efeitos da taxa de juros mais elevada levam um tempo para impactar o lado da demanda, e penso que vamos perceber este fenômeno com maior força neste final de ano”. 

Mas, na linha contrária, Pagnussat também menciona que os preços administrados devem pressionar a inflação no segundo semestre. “A própria energia elétrica, que foi o que determinou uma deflação mais forte em agosto, vai pressionar nos próximos meses”, afirmou. Ele também citou outros efeitos sazonais do fim de ano: “A área de transportes tem uma instabilidade de preços muito grande, seja aquela vinda dos combustíveis, seja aquela vinda do aumento da demanda por passagens”. Pagnussat ainda vê espaço para redução dos preços das passagens nos próximos meses, mas dentro de uma estabilidade, e um aumento mais próximo do final do ano. 

Taxa de juros 

É possível uma redução da taxa básica de juros – atualmente em 15% ao ano – ainda em 2025? “Olhando para o processo de decisão do Banco Central, penso que não. Mas há espaço para a redução – do contrário, o freio na economia será muito grande”, respondeu Pagnussat. “Já temos queda em vários setores determinada pela redução da demanda, que é influenciada pela taxa de juros. O Banco Central deveria começar, sim, a reduzir, porque temos a maior taxa de juros real do mundo e não é viável manter a atividade econômica em crescimento e o emprego com a Selic neste patamar”. 

No tocante ao emprego, Pagnussat observa que o setor de serviços tem ajudado a sustentar o emprego neste momento. “Mas ele está crescendo muito lentamente”, lamentou. “O Banco Central, a exemplo de outras instituições, deveria olhar, além da inflação, o comportamento do PIB e do desemprego. Se olharmos as atas de bancos centrais ao redor do mundo, eles sempre olham essas duas variáveis: desemprego e inflação. Se o nosso BC resolver olhar com mais cuidado para este lado, pode começar a reduzir os juros até o final do ano”. 

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