Podcast Economistas: Um profissional muito além dos números 

Primeiro episódio da série organizada pela Comissão de Mercado de Trabalho e Valorização Profissional aborda a importância do economista, os desafios, a regulamentação e as novas fronteiras de atuação

Agosto é o mês em que se comemora o Dia do Economista e o podcast Economistas desta semana trata do mercado de trabalho e do papel que este profissional tem na sociedade. O episódio – o primeiro de uma série organizada pela Comissão de Mercado de Trabalho e Valorização Profissional, coordenada pela conselheira Lucia dos Santos Garcia – pode ser escutado na sua plataforma favorita ou no player abaixo. 

Durante o curso de graduação, um estudante de ciências econômicas mergulha em um conjunto diversificado de áreas do conhecimento. Ele estuda teoria econômica, macroeconomia, microeconomia, econometria, finanças, disciplinas de sociologia e história, entre várias outras áreas. É uma formação que combina visão estratégica e compreensão das realidades sociais, preparando o profissional para interpretar e transformar o mundo à sua volta.  

“Quando pensamos nas habilidades e competências do economista, muitas vezes vem à mente o domínio técnico, os cálculos, os modelos, gráficos, teoria econômica e métodos quantitativos. Isso é parte importante da formação. Mas ser economista vai muito além”, comenta a presidenta do Cofecon, Tania Cristina Teixeira. “Economista é alguém que desenvolve a capacidade de compreender sistemas complexos e transformá-los em ações. Aprendemos a ler a realidade não apenas em números, mas em movimentos da sociedade, do mercado, do Estado, dos movimentos sociais e das organizações governamentais e não-governamentais. Podemos dizer que competências como análise crítica, visão sistêmica, capacidade de síntese e leitura da realidade a partir dos instrumentos teóricos são competências fundamentais”. 

“Estamos falando de uma profissão que tem incidência direta sobre políticas públicas e econômicas, desenvolvimento social e humano, distribuição do crédito destinado a fomentar negócios ou permitir o consumo das famílias”, prossegue a presidenta. “Isso nos impõe um compromisso: atuar com base em evidências, mas com o olhar realmente voltado para o bem-estar coletivo e para o bem viver. Não adianta ser um profissional que só vê o processo da empresa, microeconômico, desprezando o macro, porque há interligação entre os dois. O Século XXI exige do profissional a capacidade técnica e científica de compreender os grandes problemas econômicos, associando aos desafios locais e regionais”. 

A formação em ciências econômicas permite ao profissional atuar em uma ampla variedade de atividades. “É um privilégio e uma grande responsabilidade. Podemos atuar no governo, nas atividades empresariais, em organizações não governamentais, em instituições de cooperação internacional, na educação, na saúde, nos estudos de setores dinâmicos da economia”, acrescenta Tania Teixeira. “Um economista tem uma formação complexa que lhe permite ter uma atuação grandiosa na atividade econômica, social e política do país”.  

Muito mais do que números 

Quem pensa que os economistas lidam apenas com números e gráficos está enganado. A responsabilidade e o campo de atuação vão muito além disso. O economista é, ao mesmo tempo, um cientista social e um estrategista, alguém que observa a realidade com um olhar crítico e busca compreender as engrenagens que movem a produção, a distribuição e o consumo.  

“Aos economistas cabe o exame das formas de organização da subsistência, produção e reprodução dos grupos humanos, o que envolve divisão do trabalho, desenvolvimento de forças produtivas ou progresso tecnológico e formas de repartir o produto social, o resultado da riqueza produzida”, analisa a conselheira federal Lucia dos Santos Garcia. “Isso inclui todos os obstáculos e conflitos colocados no caminho produtivo e do desenvolvimento, como a composição entre trabalho e natureza, viabilidade de saltos tecnológicos e gêneros institucionais, determinantes de padrões distributivos entre territórios ou classes sociais”. 

“Por outro lado, a aplicabilidade do conhecimento econômico sempre andou de braços dados com o Estado ou a superestrutura institucional da sociedade, incluída aqui a divisão de classes, sempre com o objetivo de prever situações ou criar cenários para intervir no futuro em prol da abundância, da estabilidade, do progresso ou da justiça social”, observa Lucia. “Valorizações sobre mérito e reparação e o entendimento sobre o lócus da geração dos avanços (como empresas, mercados e comunidades) são exemplos de opções ou diferenças que acabam se consolidando, cercando ou formando repertórios de economistas, e é sobre essa base que modelagens, manejos de cálculos e boas análises vão ser válidas”. 

Lucia também explica em que a atuação dos economistas se diferencia dos campos de outros profissionais de áreas correlatas nas áreas da gestão e das ciências sociais. “Enquanto contadores e administradores aplicam técnicas ou sua arte para atingir o melhor resultado ou objetivos de gestão, os economistas interpretam e traçam o futuro para a esfera a que se dedicam a analisar, a partir de uma inserção no contexto de desenvolvimento”, aponta Lucia. “Já em relação a outros cientistas sociais, como sociólogos e antropólogos, os economistas costumam se distinguir pelo propósito, o olhar para a estrutura material da sociedade, e também pelo método, por preponderar na economia a racionalidade dedutiva e uma abstração bastante elevada para que se distingam apenas as relações econômicas, e isso faz com que usemos estas lógicas e arquétipos para a produção de modelos bastante diferentes dos nossos colegas da área social”. 

Sistema Cofecon/Corecons 

O Sistema Cofecon/Corecons tem um papel importante na fiscalização e ampliação do mercado de trabalho, mas existem outras ações que também são importantes para a inserção de economistas. O conselheiro federal José Luiz Pagnussat, vice-coordenador da Comissão de Mercado de Trabalho do Economista e Valorização Profissional e ex-presidente do Cofecon, falou a respeito. 

“O Conselho está sempre atento, tanto na busca de novos campos de atuação como na sua capacitação e aperfeiçoamento contínuo, para garantir que o economista tenha uma boa inserção no mercado”, comentou Pagnussat. “Eu acompanho a contratação e formação de quadros para o setor público e vejo a rapidez com que os economistas ascendem aos cargos e funções importantes dentro do governo, e isso ocorre também no setor privado”.  

“O economista precisa estar atento às novas informações, metodologias e formas de atuação que o mercado vai exigindo. Daí a importância da capacitação e de estar atento à atualidade. E os Conselhos vêm disponibilizando dados, informações e convidando os economistas para participar dos eventos e das análises de conjuntura”, ressalta Pagnussat. “Essa é uma forma de propiciar que ele se mantenha atualizado e ocupando espaços no mercado de trabalho. Novas formas de atuação se abrem todo o tempo e grande parte delas demanda economistas”. 

Embora o economista seja amplamente reconhecido como um profissional essencial para compreender e orientar os rumos da economia e para a tomada de decisões estratégicas, a profissão também enfrenta obstáculos importantes que afetam sua atuação. Um dos principais desafios diz respeito à atuação de profissionais de outras áreas em campos que são típicos da formação do economista. 

“Profissionais sem formação na área acabam realizando um trabalho que, muitas vezes, é deficiente e traz uma imagem negativa para a profissão, sendo que um economista com formação específica dificilmente vai cometer esses erros – até porque ele se submete ao código de ética do economista”, argumenta Pagnussat. “E se houver alguma ineficiência no seu trabalho, o Conselho recebe a denúncia, porque os Corecons também atuam neste campo”. 

Atualização da legislação profissional 

Outro desafio importante que a profissão enfrenta diz respeito à regulamentação. A ampliação da complexidade da economia e o surgimento de novos campos de atuação tornaram evidente a necessidade de atualizar a legislação vigente e de detalhar de forma mais precisa as atribuições do economista, adaptando-as à realidade contemporânea.  

No ano passado foi apresentado à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 3.178/2024, de autoria dos deputados Reginaldo Lopes e Mauro Benevides. Além de reconhecer as áreas mais tradicionais, o projeto busca explicitar um conjunto diversificado de atividades que vão desde a análise econômica e financeira até a realização de perícias, planejamento estratégico e avaliação patrimonial. Todas essas funções demandam uma visão amplia e integrada, uma característica central na formação do economista.  

“O projeto busca atualizar os termos das atividades dos economistas. Se tomarmos a Lei 1.411/1951, veremos que ela faz um resumo, mostrando que o economista atua em economia e finanças. Depois temos o decreto 31.794, de 1952, que regulamentou a lei e detalha alguns itens”, explica o coordenador da Comissão de Normas e Legislação do Cofecon, conselheiro Pedro Afonso Gomes. “Aqueles termos são um resumo do que nós fazemos hoje. A diferença é que hoje o mercado analisa de outra forma e dá outros nomes. As funções nobres do economista são mais de 50, algumas delas muito valorizadas hoje, como avaliação patrimonial de bens tangíveis e intangíveis, perícias, análises econômicas e financeiras, projeções, cenários, planejamento estratégico e várias outras que são próprias do economista, sem demérito de quaisquer profissões correlatas”. 

“O economista, em sua graduação, recebeu um conjunto de informações que faz com que ele enxergue primeiro a floresta e depois a árvore”, aponta Gomes. “O economista não quer substituir ninguém; quer ser aquele que pode contribuir com a sociedade numa análise global, para que todos possam usufruir de maior aumento de renda e riqueza”. 

Inteligência artificial 

O avanço tecnológico, especialmente no campo da inteligência artificial, está transformando profundamente a forma como as profissões atuam, e a economia não é uma exceção. Para o economista, o domínio destas ferramentas não é meramente uma questão de acompanhar tendências, mas de potencializar sua capacidade de análise, tomada de decisões e proposição de soluções. Pedro Afonso Gomes aponta que, para continuar tendo relevância no mercado de trabalho, é essencial compreender e utilizar as inovações tecnológicas.  

“Isso faz parte do DNA do economista. Ele sempre vai buscar a solução que traz mais resultados com menos recursos. Apenas uma das inteligências artificiais, o ChatGPT, contém em seu conjunto de fontes material escrito e captado da internet da ordem de 30 mil anos de leitura, e quando pedimos alguma coisa, a tecnologia condensa as informações em poucos minutos”, comenta Gomes. “Este é um excepcional ganho de conhecimento e eficiência, embora todos saibamos que é necessário que haja o crivo humano para verificar as informações. E quando fazemos um estudo econômico, podemos influenciar a vida de milhões de pessoas, empregos, impostos e outros. A responsabilidade é muito grande. Mas também precisamos da agilidade e de novas formas de conhecimento”. 

Para Gomes, não adianta fechar os olhos ou dizer que não gosta de ferramentas tecnológicas. “Não sabemos até que ponto vai chegar a inteligência artificial, mas só vai progredir e entrar deste mundo novo no restante do Século XXI aquele que conseguir dominar essas tecnologias. Por isso, minha recomendação é que o economista sempre busque esta atualização, que se informe, faça cursos, leia e busque informações na própria inteligência artificial”. 

Conselhos aos jovens economistas 

Para os estudantes de ciências econômicas ou jovens economistas, a presidenta do Cofecon, Tania Cristina Teixeira, dá dois conselhos principais: conhecer novas áreas e participar das redes de discussão de economia. “Explore possibilidades e se interesse por temas que vão além do currículo mínimo e que estejam presentes na vida real, como desigualdades, sustentabilidade, planejamento urbano, economia digital, economia circular, economia solidária, economia criativa, bioeconomia, economia da saúde e da educação”, enumera Tania. “Há uma diversidade de campos que podem ser explorados, que permitem que o economista possa não apenas se especializar, mas manter ativa essa curiosidade de cientista social. Isso é fundamental”. 

“Outro ponto que eu gostaria de valorizar é a participação desta rede, que chamamos de Sistema Cofecon/Corecons. Estar dentro das redes que discutem economia em âmbito local, regional, nacional e internacional é muito importante. Destaco o Corecon Acadêmico, que é a primeira rede com que vocês podem trabalhar”, recomenda Tania. “Participe dos eventos presenciais e virtuais organizados pelo Sistema Cofecon/Corecons, dos cursos, seminários, grupos de estudos, conversas com colegas, fóruns, e esteja próximo dos professores, dos economistas mais experientes, dos pesquisadores e dos jovens economistas que atuam no mercado. A profissão se fortalece quando existe essa relação de troca”. 

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