Conheça a economia verde
Modelo busca equilibrar o crescimento econômico com a preservação ambiental, energia limpa, infraestrutura resiliente e uso racional dos recursos naturais
Como transformar a economia em uma aliada do meio ambiente? Esta é a proposta da economia verde: promover o crescimento, ao mesmo tempo em que conserva recursos naturais e reduz emissões de carbono. No podcast Economistas desta semana, o professor Carlos Eduardo Young fala sobre o assunto. Ouça na sua plataforma favorita ou no player abaixo.
A economia verde propõe que o motor do crescimento econômico sejam os investimentos em preservação ambiental, energia limpa e infraestrutura resiliente, com uso racional dos recursos naturais. “Ela é baseada na ideia de que o gasto em investimento e na melhoria das condições ambientais pode ser o dinamizador da atividade econômica. Desse modo, o crescimento, entendido como aumento da produtividade e do emprego, é compatível com a melhoria da qualidade ambiental”, aponta Young. “Contudo, essa possibilidade de conciliar o aumento da atividade econômica e a melhoria ambiental é uma entre várias e não ocorrerá espontaneamente. É fundamental que haja uma orientação de políticas públicas neste sentido”.
Uma das características da economia verde é a forma como as coisas são feitas. Uma mesma atividade produtiva, como é o caso da geração de energia elétrica, pode ser realizada com base em combustíveis fósseis e emissão de gases de efeito estufa ou pode ter o foco em energias limpas. O professor Young fala a respeito usando o exemplo da agricultura.
“Agricultura é absolutamente essencial – mas precisamos incentivar uma agricultura de baixo carbono, orgânica, familiar, que produz alimentos com muita intensidade do fator trabalho, e parar de incentivar a atividade predatória que gera desmatamento, que aumenta as emissões de gases de efeito estufa, que utiliza agrotóxicos em grande quantidade”, pontuou o economista.
Adaptação
A crise climática não é mais um problema do futuro. Ela já impacta vidas, territórios e economias hoje. As enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul no último ano não são um fenômeno isolado. As periferias urbanas e zonas rurais são as primeiras áreas a sentir os efeitos de um clima desregulado, mas as consequências também chegam aos centros urbanos. Assim, as cidades precisam se adaptar ao cenário de mudanças climáticas – e essas adaptações envolvem os mais variados setores.
“As cidades precisam se readequar para o que nós estamos prevendo do ponto de vista de mudanças climáticas. Isso significa investimentos em habitação adequada, descentralização do transporte, aumento do transporte coletivo de qualidade – inclusive para poder desafogar os centros”, comenta Young. “Há uma série de investimentos necessários que são intensivos em construção civil, em emprego e que contribuem significativamente para uma maior resiliência com relação às mudanças climáticas”.
Incentivos econômicos
Diante dos desafios ambientais e da necessidade de uma transição ecológica justa, o economista destaca a importância de repensar as formas de produção e o papel dos instrumentos econômicos na promoção das atividades sustentáveis. Assim, é preciso proteger os serviços prestados pelo ecossistema e criar incentivos econômicos para atividades que facilitem essa transição.
“É importante proteger os serviços ecossistêmicos e criar políticas de incentivo a atividades econômicas que são harmônicas com a conservação. Por exemplo, o pagamento por serviços ambientais”, explica Young. “Mas o pagamento por serviços ambientais não pode ser visto como forma de financiar o status quo da agricultura. É o contrário: precisamos incentivar a produção comunitária, os pescadores que trabalham de forma artesanal, a produção com saber local, e não a produção massificada”.
“Temos a possibilidade de usar instrumentos econômicos para incentivar atividades que são positivas, associadas a uma visão de avanço. Elas são muito intensivas em mão de obra e, portanto, facilitam a transição justa, na medida em que geram mais empregos e eles tendem a ter uma maior qualidade e estabilidade em relação ao modelo predatório de atividade econômica”, prossegue o professor. “Também são formas de competitividade autêntica, que não dependem de fatores escuros de competitividade, como a exploração de recursos sem considerar as externalidades negativas. Se eu vou subsidiar o crédito, que seja para uma atividade que traga benefícios para a sociedade como um todo”.
A criação de incentivos econômicos que tenham objetivos socioambientais é uma ferramenta que também precisa ser usada para controlar as emissões de gases causadores do efeito estufa. Neste particular, a tributação tem um papel importante no sentido de penalizar atividades poluentes e incentivar práticas sustentáveis. Além disso, revisar subsídios e incentivos fiscais que favorecem modelos predatórios de uso da terra e dos recursos naturais é essencial para que o sistema tributário brasileiro esteja alinhado com os compromissos climáticos e com a justiça socioambiental.
“É fundamental que seja implementado o princípio do poluidor pagador. Perdemos uma grande oportunidade com a reforma tributária. Sabemos como é difícil avançar neste tema, mas é importante manter a mensagem de que as atividades poluidoras e geradores de prejuízo à população precisam ser desincentivadas, inclusive com sistemas de tributação por emissões, como é feito nos países desenvolvidos”, argumenta Young. “Da mesma forma, precisamos de uma política mais realista de cobrança dos recursos naturais. A produção mineral hoje tem uma tributação invertida: é fiscalmente mais interessante vender o produto in natura do que exportar ele manufaturado. É fundamental que haja uma revisão desta política”.
Carlos Eduardo Young
O professor Carlos Eduardo Young é professor titular do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pela mesma instituição ele é graduado em Ciências Econômicas e mestre em Economia da Indústria e da Tecnologia, com doutorado em Economia pela University College London.