Podcast Economistas: Conheça o trabalho da Comissão Sustentabilidade Econômica e Ambiental
Conselheira Elis Braga Licks lidera iniciativas que buscam posicionar os economistas com protagonismo frente à crise climática, levando propostas à COP30
Está no ar mais uma edição do podcast Economistas e o tema desta semana é o trabalho da Comissão Sustentabilidade Econômica e Ambiental do Cofecon. Quem conversa conosco é a conselheira coordenadora, economista Elis Braga Licks, professora da Universidade Federal do Espírito Santo. O podcast pode ser escutado na sua plataforma favorita ou no player abaixo.
O trabalho do Cofecon é estruturado por meio de comissões, que se ocupam de temas específicos. Neste sentido, uma novidade nos trabalhos do Cofecon em 2025 foi a criação da Comissão Sustentabilidade Econômica e Ambiental. Ela tem, entre suas atribuições: fomentar a economia verde, apoiar a transição para uma economia de baixo carbono, promover educação em sustentabilidade, analisar os impactos das mudanças climáticas na economia, desenvolver indicadores e investigar modelos econômicos sustentáveis, além de estabelecer parcerias com entidades ambientais e integrar a sustentabilidade ao planejamento estratégico dos Conselhos Regionais de Economia.
Um dos aspectos da teoria econômica tradicional é o fato de, historicamente, não ter levado em conta os limites físicos do planeta. O impacto de uma população cada vez maior de seres humanos sobre a Terra exige uma nova abordagem econômica, na qual o crescimento precisa ser equilibrado com a preservação do meio ambiente.
“A economia tradicional, ao longo da história, desconsidera os limites planetários, ou seja, a capacidade de carga da Terra. Os recursos naturais sempre foram vistos como bens livres, disponíveis para a exploração sem custos”, explica Elis. “Este paradigma se intensificou ainda mais com a revolução industrial, que ampliou a capacidade humana de intervir na natureza, muitas vezes sem considerar os impactos ambientais e sociais de longo prazo”.
“Temos, por exemplo, o uso de fertilizantes químicos, que trouxe soluções rápidas para aumentar a produtividade agrícola, mas ao custo da degradação dos solos e dos impactos negativos na saúde humana”, aponta a economista. “A dependência de combustíveis fósseis também acelera o crescimento econômico, mas desencadeou mudanças climáticas severas. Este processo nos levou ao que muitos cientistas chamam de antropoceno, a nova era geológica caracterizada pelo impacto do homem na Terra”.
É neste contexto que surge a economia ecológica. “É uma abordagem que busca integrar sistemas econômicos e ambientais, reconhecendo que o crescimento infinito é incompatível com os limites físicos do planeta. É preciso repensar valores e atitudes que contrariem a lógica da acumulação de capital e consumo desenfreado”, argumenta Elis. “Dentro deste cenário os desafios da Comissão são imensos, pois precisamos consolidar a sustentabilidade como eixo central das discussões econômicas no Sistema Cofecon/Corecons e influenciar políticas que incorporem os limites ambientais no processo decisório. Além disso, buscamos integrar diferentes setores, como academia, empresas e governos, para criar soluções que conciliem o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental de uma maneira justa”.
Essa transformação demanda não apenas um olhar atento para o financiamento verde e a transição energética, mas também a construção de diretrizes que orientem tanto o setor público quanto o privado. Neste sentido, a Comissão Sustentabilidade Econômica e Ambiental tem a missão de colocar o Cofecon como um protagonista deste debate.
“Ele pode exercer um papel estratégico no fortalecimento de uma nova visão de desenvolvimento, baseado num modelo econômico que concilie crescimento com proteção ambiental e promoção da equidade social”, aponta Elis. “esse modelo demanda a construção de diretrizes que orientem o setor público e o privado na transição para uma economia mais justa, resiliente e de baixo carbono”.
Ela vê o Cofecon com um papel de incentivar a transição para uma economia circular, o investimento em créditos com impacto social e ambiental e a educação financeira com foco em sustentabilidade, ampliando a compreensão da população sobre os impactos econômicos das mudanças climáticas e a importância do consumo consciente.
“O Cofecon também pode fortalecer sua atuação institucional promovendo o diálogo entre os economistas, governos, empresas e a sociedade civil sobre os mecanismos de financiamento verde, tributação ambiental, precificação de carbono e políticas de transição justa”, vislumbra Elis. “É essencial que o Conselho contribua com o debate sobre um novo modelo de desenvolvimento econômico”.
Um dos principais compromissos da Comissão é a construção de uma agenda permanente dentro do Sistema Cofecon/Corecons sobre mudanças climáticas. Esta iniciativa busca consolidar de forma institucionalizada o papel dos economistas no enfrentamento da crise ambiental e na formulação de soluções sustentáveis para o desenvolvimento do País.
“Entre as ações que estamos desenvolvendo, destaco a realização de seminários temáticos com especialistas, contribuindo não só para a construção do documento que o Cofecon levará à COP30, mas também para disseminar conhecimento técnico”, conta a coordenadora. “Eles abordam temas como a economia do clima, instrumentos de mitigação e adaptação, finanças sustentáveis, economia circular, bioeconomia, transição energética, desenvolvimento de baixo carbono e justiça climática. O objetivo é estimular o engajamento de jovens economistas e estudantes na construção de soluções transformadoras. Esta agenda é a consolidação do compromisso ético e técnico da nossa profissão com o futuro do planeta e a qualidade de vida das próximas gerações”.
A sustentabilidade muitas vezes é vista apenas como um custo adicional para as empresas e governos. Para Elis, é preciso desmistificar esta ideia. “Pelo contrário, ela pode ser um motor de inovação, competitividade e geração de empregos qualificados. Estamos comprometidos em apresentar dados e evidências concretas. O desenvolvimento sustentável não é só necessário, mas também economicamente viável e vantajoso”, afirma. “O mundo já tem adotado essa lógica com ganhos reais. Empresas que transformam resíduos plásticos em matéria-prima para novos produtos, cooperativas de reciclagem que geram renda e inclusão social ou cadeias de logística reversa que reduzem custos operacionais e impactos ambientais. Este modelo não só reduz a pressão sobre os recursos naturais, como também cria novas cadeias produtivas e postos de trabalho”.
A cidade de Belém receberá, nos dias 10 a 21 de novembro, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30. O evento busca o estabelecimento de acordos entre os países para o combate às mudanças climáticas. Em edições anteriores foram alcançados acordos importantes, como o Protocolo de Kyoto (1997), que estabeleceu metas e um cronograma para a redução de emissões, e o Acordo de Paris (2015), ampliando a discussão e propondo novas responsabilidades e buscando manter o aquecimento abaixo de um limite de dois graus acima dos níveis pré-industriais.
A realização da Cop30 no Brasil representa uma oportunidade para que o País reforce seu papel de destaque nas negociações sobre sustentabilidade global e mostre seus esforços nas áreas de energias renováveis, biocombustíveis e agricultura de baixo carbono.
A Comissão Sustentabilidade Econômica e Ambiental planeja apresentar ao Cofecon um documento para levar à COP30. “Esta é uma oportunidade histórica para que os economistas brasileiros ampliem sua presença no debate climático global”, comenta Elis. “Nossa categoria pode e deve ocupar esse espaço com protagonismo. A ação da Comissão está voltada para articular a construção de propostas concretas, que demonstrem que o desenvolvimento econômico pode e precisa caminhar lado a lado com a conservação ambiental e justiça social. Nosso objetivo é apresentar um conjunto de propostas que possa orientar a atuação do Cofecon, dos economistas e dos formuladores de políticas públicas frente aos desafios climáticos e ambientais do Século XXI”, finaliza.