Podcast Economistas: Crédito do Trabalhador, o novo consignado dos celetistas

Roberto Piscitelli analisa o impacto, as oportunidades e desafios do programa que, em seus primeiros 13 dias de vigência, movimentou R$ 3,1 bilhões em empréstimos

Está no ar mais uma edição do podcast Economistas e o tema desta semana é o Crédito do Trabalhador, programa criado para ampliar o crédito consignado aos profissionais celetistas. Até o dia 30 de abril a modalidade havia movimentado R$ 8,9 bilhões em empréstimos para 1,6 milhão de trabalhadores, e quem falou a respeito foi o economista Roberto Piscitelli, integrante da Comissão de Política Econômica do Cofecon. O podcast pode ser acessado na sua plataforma favorita ou no player abaixo.

Segundo dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o crédito consignado para trabalhadores do setor privado totalizava R$ 40,4 bilhões de reais antes do programa. O governo espera que, nos três primeiros meses, sejam contratados R$ 100 bilhões em novas operações – um número que Piscitelli considera realista.

“É provável que o governo tenha acertado em cheio na previsão. A possibilidade de que exista crédito consignado mais fácil e barato para os trabalhadores do setor privado, antes restrita ao pessoal do serviço público, aposentados e pensionistas, é um nicho até agora inexplorado”, aponta o economista. “Atende a uma demanda potencial e se constitui numa forma democrática de inserir milhões de pessoas no mercado de consumo e aliviar a situação de endividamento em que muitas famílias mergulharam nesses tempos de escassez de crédito e de juros bancários exorbitantes”.

O principal impacto desta modalidade na economia é que os trabalhadores celetistas poderão encontrar crédito a uma taxa de juros. Desta forma, eles podem trocar dívidas que possuem juros mais altos por outras na modalidade de crédito consignado e com juros mais baixos. Mas, como em toda operação de crédito, é preciso tomar algumas precauções.

“Em qualquer operação de crédito, o tomador deve levar em conta alguns cuidados especiais aplicáveis às diversas situações que envolvem comprometimento de sua renda disponível”, observa Piscitelli. “Deve buscar as taxas de juros mais favoráveis, os prazos de pagamento mais compatíveis com as condições e perspectivas de seu emprego, harmonizar seu empréstimo com as demais obrigações remanescentes e, sobretudo, o menor comprometimento possível de sua renda em função de suas restrições orçamentárias e da manutenção da melhor qualidade de vida pessoal e familiar”.

O crédito consignado é uma modalidade que alcançou volumes expressivos entre outros públicos. Para aposentados e pensionistas do INSS a modalidade dispõe, inclusive, de um limite máximo para os juros, que atualmente é de 1,85% ao mês; ao final de 2024, o volume total de crédito contratado era de 270 bilhões de reais. Já para os servidores públicos, o volume era ainda maior: 365 bilhões de reais. Mas será que as condições oferecidas no programa Crédito do Trabalhador serão igualmente vantajosas?

“Em tese, as condições mais vantajosas do empréstimo consignado em relação a outras modalidades de crédito são comparáveis”, comenta Piscitelli. “No grupo dos celetistas há uma maior instabilidade resultante das relações de vínculo e de níveis de remuneração, mas é inegável que com certas garantias, como as representadas pelo FGTS, viabilizou-se uma similaridade do ponto de vista do acesso e dos encargos referentes às diversas categorias de beneficiários”.

E para que o uso do crédito seja de fato uma solução na vida das pessoas e não uma fonte de novas dores de cabeça, a educação financeira é fundamental. Neste sentido, o Brasil ainda precisa avançar muito, na opinião do economista.

“A necessidade de educação financeira se estende a todas as categorias de mutuários, independentemente da estabilidade e das remunerações. A população brasileira, de modo geral, ainda é carente de orientação a respeito e apresenta um comportamento dúbio e inconsistente”, pontua Piscitelli. “Mas uma certa dose de inconsequência é partilhada tanto por devedores como por credores. E as instituições financeiras poderiam contribuir para uma melhoria nas informações e nos métodos de relacionamento das partes envolvidas”.

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