Banco Central eleva juros para o maior patamar em quase 20 anos
Presidenta do Cofecon, Tania Cristina Teixeira, fez ressalvas: “medida carrega consequências amplas e preocupantes para a economia real”. Última vez que a Selic chegou a 14,75% foi em 2006
O Banco Central do Brasil elevou nesta quarta-feira (07) a taxa básica de juros para 14,75% ao ano – uma elevação de 0,5 ponto percentual que coloca a Selic no patamar mais alto desde 2006. A medida foi alvo de ressalvas por parte da presidenta do Cofecon, Econ. Tania Cristina Teixeira. Ela destacou que a alta penaliza especialmente os mais pobres.
“O Brasil volta a um nível de juros que carrega consequências amplas e preocupantes para a economia real, sobretudo num momento de desaceleração da atividade econômica e aceleração do endividamento das famílias”, argumenta a presidenta do Cofecon. “Os efeitos da Selic se fazem sentir em diversos setores. No comércio e na indústria, o crédito mais caro reduz investimentos e dificulta o giro de capital, principalmente para micro e pequenas empresas. No consumo das famílias, o encarecimento do crédito pessoal e do financiamento habitacional inibe compras e pressiona o orçamento doméstico, já comprometido com dívidas”.
O impacto da alta dos juros sobre o setor público também é preocupante, na opinião da economista. “A elevação da Selic encarece o serviço da dívida, aumentando os gastos com juros e limitando a capacidade do Estado de investir em áreas sociais e produtivas. É necessário pensar numa política econômica coordenada, que articule os aspectos monetário, fiscal e industrial, em vez de sobrecarregar os juros como único instrumento de controle da inflação”, pontuou Tania.
A presidenta do Cofecon também questiona quais são as propostas do governo para a manutenção ou elevação do crescimento econômico diante da taxa de juros. “Precisamos retomar os níveis de investimento, tendo políticas ativas com vistas à manutenção e elevação do nível de emprego”, argumenta Tania. “O Cofecon defende uma política econômica que traga estabilidade com desenvolvimento. O combate à inflação deve caminhar lado a lado com o estímulo à produção, ao emprego e à redução das desigualdades, ao investimento produtivo e ao crescimento sustentável, sem penalizar a população que mais precisa de oportunidades”.
Juros chegam ao maior nível desde 2006
Para encontrar uma taxa Selic no patamar de 14,75% é preciso retornar praticamente duas décadas: na reunião de 20 de julho de 2006 ela foi reduzida de 15,25% para 14,75% ao ano – o que, naquele momento, representava um patamar inédito para a taxa básica de juros no Brasil, sendo o menor da série histórica até então.
Naquele período, o Brasil vivia um cenário econômico bastante diferente. Desde 2004 o PIB crescia de forma expressiva, com forte entrada de capital estrangeiro, superavit comercial robusto e redução gradual da inflação. Um ciclo de redução de juros havia iniciado em setembro de 2005: num período de dois anos, a Selic passou de 19,75% para 11,25% ao ano.
Desde então, os juros passaram por alguns ciclos de elevação (sete ao todo, sendo o último deles ainda em andamento), mas nunca mais haviam atingido o patamar de 14,75%. O primeiro deles, que elevou os juros para 13,75%, ocorreu em 2008, quando o Banco Central apontava um superaquecimento da economia brasileira e a inflação dos alimentos era uma preocupação relevante no exterior. O ciclo seguinte de elevações veio em 2010 (de 8,75% para 10,75%). O terceiro, já no início de 2011, levantou a Selic de 10,75% para 12,50%.
Entre 2013 e 2014, os juros partiram de 7,25% (na época, um novo mínimo histórico) para 11%; e em outubro de 2014 partiram de 11% para 14,25% em julho do ano seguinte – o patamar mais alto dos tempos recentes, superado apenas nesta semana. Era um período no qual a inflação se devia, sobretudo, ao reajuste de preços administrados, mas o país mergulhava em uma recessão.
Um novo ciclo de altas da Selic aconteceria somente em 2021, um ano de recuperação estatística após a recessão causada pelas medidas de isolamento social para conter a pandemia de Covid-19. O avanço da inflação global e os choques externos levaram o Banco Central a adotar uma trajetória agressiva de aumentos. A inflação chegou aos dois dígitos novamente e os juros passaram de 2% em março para 13,75% em setembro de 2022.
O ciclo mais recente iniciou-se em setembro de 2024 partindo de 10,50%; em dezembro, além de uma alta de um ponto percentual (11,25% para 12,25%), o comunicado do Copom sinalizou que a medida se repetiria em mais duas ocasiões – o que ocorreu em janeiro e março de 2025. A elevação de 0,5 ponto em maio sinaliza para o fim do aperto monetário, mas coloca a Selic num patamar nunca visto desde 2006.