Lacerda comenta notícias econômicas no Jornal da Cultura
Conselheiro federal participou da bancada do noticiário televisivo no dia 01/04 e falou sobre recuperações judiciais no agronegócio, transparência nas emendas parlamentares e a aprovação no Senado da possibilidade de retaliação comercial
O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda esteve na bancada do Jornal da Cultura no dia 1º de abril para comentar as matérias veiculadas no noticiário televisivo. Entre os temas abordados, destacam-se a aprovação de um projeto de lei que permite a retaliação comercial, o impacto das tarifas de Donald Trump (que foram anunciadas no dia seguinte), a transparência nas emendas Sparlamentares e as recuperações judiciais no agronegócio.
O Senado aprovou o projeto de lei de reciprocidade econômica, que estabelece que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) seja o órgão responsável por adotar as medidas de retaliação a países estrangeiros que executarem ações comerciais contra o Brasil – como no caso das tarifas de Donald Trump ou das possíveis restrições da União Europeia contra a carne brasileira. Para Lacerda, a decisão do Brasil é uma ação necessária dentro de um cenário global em transformação.
“Será uma reação a uma eventual taxação do governo Trump ou de outro país. Me parece um instrumento necessário porque as leis domésticas precisam se adaptar ao cenário”, observou Lacerda. “O cenário prevalente anteriormente era o da globalização, em que todos estavam, em tese, abrindo suas economias. Desde a crise de 2008, e mais ainda após a pandemia, este cenário mudou e é bom que o Brasil tenha este instrumento”.
Acerca do choque tarifário cujo anúncio ocorreu no dia seguinte, Lacerda afirmou que poderia, sim, causar um abalo na economia mundial. “A história mostra que sim e a teoria econômica também. No século passado, por ocasião da crise de 1929, a resposta, a começar pelos EUA, foi exatamente essa: vamos criar barreiras para, em tese, incentivar a produção e consumo local, o que gera mais inflação, recessão e desemprego”, repassou o economista. “Isso vai acontecer novamente. O mundo vive um período turbulento porque aquele paradigma da liberação comercial vigente até então foi alterado pela pandemia, depois os efeitos da crise climática e mais recentemente as tensões geopolíticas. Veja, 90% dos chips, microprocessadores utilizados mundo afora, são produzidos em Taiwan, para se ter uma noção do risco que isso representa”, mencionou Lacerda, em referência ao momento em que a China realizou manobras militares próximas a Taiwan.
E como o Brasil deveria responder? “De fato, a retaliação é uma medida burra, se você imaginar do ponto de vista em que todos perdem. Mas não resta muita alternativa, como um decisor de política econômica doméstica, pelo menos para criar uma situação de negociação”, observa o conselheiro federal. “Não há dúvida que isso representa dificuldade, exige uma capacidade muito grande de análise e negociação, estratégia, quase que uma arte da guerra, a guerra comercial, no caso”.
O Supremo Tribunal Federal suspendeu o repasse de emendas parlamentares – as chamadas “emendas pix” – a universidades de oito estados. “Há dois grandes problemas envolvidos. O primeiro deles é uma espécie de deslocamento do poder de execução do orçamento do Executivo para o Legislativo. Nos últimos anos, as emendas parlamentares ganharam uma dimensão significativa, chegando a 50 bilhões de reais neste ano”, comentou o economista. “O segundo, que o ministro Dino tem destacado com muita propriedade, é a total falta de transparência na utilização destes recursos, o que leva a desperdício de recursos públicos e a desvio de funções. Todo aprimoramento que seja feito na busca de corrigir as distorções na alocação de recursos e dar maior transparência é fundamental para manter o pacto federativo e para um uso adequado do orçamento”.
O ano de 2024 apresentou um recorde de pedidos de recuperação judicial no agronegócio. “O que aconteceu foi quase que uma tempestade perfeita no sentido da combinação de fatores adversos muito significativos: uma oscilação cambial muito grande, o fator da variação de preços internacionais, porque estes produtos são cotados em dólares no mercado internacional, e há ainda fatores climáticos adversos, enchente em um lugar, seca em outro, houve quebra de safra”, explicou Lacerda. “Essa combinação leva a uma situação em que muitas vezes o produtor é obrigado a tomar o crédito, não aquele que ele recebeu para conduzir a sua atividade, mas no mercado com taxas de juros muito elevadas. Eu concordo com a conclusão do colega que caracterizou o problema como conjuntural. O setor é altamente competitivo, o Brasil vai bem, crescimento de safra e de produtividade, isso vai ser superado”.