Podcast Economistas: Protagonismo feminino nas finanças
Em mais uma edição voltada ao protagonismo feminino, economistas abordam finanças pessoais, educação financeira e empreendedorismo para mulheres
Está no ar mais um episódio do podcast Economistas! Em homenagem ao Mês da Mulher, apresentamos um novo tema sobre protagonismo feminino, desta vez abordando finanças pessoais, educação financeira e empreendedorismo. Mais do que formas de empoderamento, esses são assuntos bastante desafiadores para muitas mulheres. Nesta semana, ouvimos as economistas Nayara Castro, Janile Soares e Chirlene Maia e o episódio pode ser ouvido na sua plataforma favorita ou no player abaixo.
Finanças pessoais
Há diferença na forma masculina e feminina de tratar as finanças pessoais? Para a economista Nayara Castro, sim – e uma das principais seria que os homens possuem mais foco no longo prazo e crescimento patrimonial, enquanto as mulheres estão mais empenhadas no planejamento e em proporcionar melhores condições de vida às pessoas que amam.
“Nós, mulheres, estamos mais ativas em realizar um planejamento financeiro e melhorar a gestão dos recursos domésticos. Entretanto, mostramos mais dificuldade que os homens na escolha adequada de produtos financeiros e, principalmente, no investimento de longo prazo”, avalia Nayara. “Em resumo, os homens focam mais em um crescimento agressivo e acumulação patrimonial, enquanto as mulheres focam na segurança e na estabilidade, em dar condições melhores a quem amamos”.
No cenário econômico que o Brasil vivencia, em que a inflação tem corroído o poder de compra das famílias, as mulheres enfrentam dificuldades para se manterem dentro do orçamento. Ela menciona, entre os fatores que levam a isso, a dificuldade na obtenção de crédito, a pressão para manter um padrão de beleza e, sobretudo, a disparidade salarial em relação aos homens.
“A combinação desses fatores afeta nossas decisões e impacta o orçamento das mulheres. Veja, 89,8% das mulheres já tiveram pedido de crédito negado no Brasil – e, quanto mais jovem, mais difícil é conseguir crédito”, apontou Nayara. “A pressão para manter padrões de beleza também é um desafio para segurar o orçamento doméstico. E embora as mulheres estejam desmistificando esses padrões, além de lidar com as barreiras de mercado, elas estão preocupadas com a segurança financeira da família e o bem-estar de todos. Isso tem um preço e pesa no orçamento”.
Educação financeira
A educação financeira é um elemento importante para que as mulheres possam tomar decisões mais autônomas, reduzindo a dependência e conquistando maior estabilidade. “As mulheres enfrentam desafios específicos decorrentes de fatores históricos, culturais e sociais. Um deles é a desigualdade salarial: mesmo ocupando posições semelhantes, elas ainda tendem a receber salários inferiores. Essa disparidade acaba limitando a capacidade de gastar, poupar e investir”, afirma a educadora financeira Janile Soares, editora do blog A Economista de Batom. “Temos também as interrupções da carreira, que são decorrentes das pausas que elas fazem para cuidar de filhos ou familiares, fator proveniente daquela visão de que só a mulher é cuidadora. Isso resulta em atrasos e perda de renda e de oportunidades de progressão profissional”.
Janile também menciona o fenômeno da feminilização da pobreza. “As mulheres são mais propensas a viver em condições de vulnerabilidade, especialmente as chefes de famílias monoparentais. Esse fenômeno é influenciado por fatores como acesso limitado a educação e oportunidades de emprego”, pontua a economista. “É essencial abordar algumas estratégias, como a própria educação financeira em ofertas de programas voltados especificamente para mulheres”.
Na visão da economista Janile Soares, ois temas são particularmente importantes na educação financeira para mulheres: o endividamento e o acesso ao crédito. Este último envolve vários aspectos, como a orientação sobre o uso correto e a otimização dos recursos. “Segundo pesquisa realizada pela Serasa, 93% das mulheres têm responsabilidade financeira em suas famílias, sendo que 33% são as únicas responsáveis. É um percentual elevado, que mostra como é urgente e necessário trazer orientação financeira para elas”, argumenta Janile. “Para fortalecer o protagonismo financeiro feminino através da educação financeira, recomendo iniciativas que tratem do acesso ao crédito, juntamente com a orientação para a utilização de forma correta e a otimização dos recursos”.
Empreendedorismo feminino
O empreendedorismo também é uma ferramenta importante para o empoderamento feminino. Neste sentido, o acesso ao crédito é uma das principais dificuldades que elas encontram para empreender. Pesquisa do Sebrae Nacional com dados do Banco Central do primeiro trimestre de 2024 aponta que a taxa média de juros anuais contratada por homens empreendedores foi de 36,8%, enquanto a contratada pelas mulheres foi de 40,6% – quase quatro pontos percentuais a mais.
“Quando se oferta uma linha de crédito para uma mulher, não se ensina como utilizar este recurso. Então, quando falamos de formação para mulher empreendedora, não é só saber fazer, não é só ter um curso técnico, abrir um salão ou loja, mas saber administrar este recurso”, argumenta a economista Chirlene Maia. “Muitas vezes ela até sabe administrar, mas não tem crédito suficiente e as linhas acabam ficando um pouco restritas, com taxas de juros que não são atrativas”.
Chirlene também aponta que uma das dificuldades enfrentadas pelas mulheres no empreendedorismo está no preconceito e na dúvida das pessoas quanto à sua capacidade. A economista destaca que as mulheres enfrentam uma desconfiança maior quando oferecem serviços, sobretudo em áreas técnicas ou que exigem alta especialização. Em campos de trabalho como economia, contabilidade, tecnologia da informação ou finanças, enfrentam muitos questionamentos sobre a sua competência, mesmo quando possuem qualificação e experiência.
“Empreendedorismo não é só abrir negócios, mas também oferecer serviços. Na área de formação da mulher economista, uma mulher que fala de investimentos e educação financeira muitas vezes é desacreditada”, conta Chirlene. A economista aponta para um preconceito específico: “Você fala de finanças? Mas mulher não é mais consumista”.
Um dos grandes desafios do empreendedorismo feminino é o reconhecimento do papel que as mulheres desempenham na economia. Além das barreiras no acesso ao crédito e da desconfiança sobre a sua capacidade, elas também enfrentam a desvalorização do trabalho que realizam. Quando se dedicam ao trabalho remunerado de cuidado, o pagamento que recebem por ele é muito baixo; e quando exercem a atividade de forma não remunerada, esta desvalorização impede que ela tenha um reconhecimento adequado em sua atividade remunerada.
“Muitas vezes o que se paga para uma empregada doméstica ou uma babá é muito inferior ao que, de fato, poderia valer aquele serviço dela quando se faz uma equiparação das horas que a mulher deixa de se dedicar ao trabalho profissional ou à vida acadêmica”, comenta Chirlene. “Muitas vezes não dão um cargo para ela por achar que ela já tem muitas demandas ou que vai faltar por causa do filho. São tabus que temos que mudar”.
Economistas participantes
Nayara Fernanda Castro é economista, graduada pela Faculdades Integradas de Cacoal (UNESC/RO), com especialização em Didática do Ensino Superior, Ensino de Ciências e Matemática e Educação Financeira, Investimento e Empreendedorismo. Conselheira do Corecon-RO.
Janile Soares é economista, consultora e educadora financeira, Conselheira do Corecon-RS e editora do Blog A Economista de Batom.
Chirlene Maia é economista, graduada em Ciências Econômicas pela Univerisdade Federal do Piauí e especialista em Gestão e Contabilidade Tributária. Tem experiências nas áreas administrativa de gestão e de qualidade, gerencial, financeira e educacional. Conselheira do Corecon-DF.