Podacst Economistas: O protagonismo feminino na economia 

Primeiro episódio da quinta temporada destaca a participação das mulheres nos cursos de ciências econômicas e no mercado de trabalho, bem como a luta por equidade de gênero 

Está no ar mais uma edição do podcast Economistas, a primeira da quinta temporada, e o tema desta vez é o protagonismo feminino na economia, em linha com a campanha pela valorização da profissional economista, realizada pela Comissão Mulher Economista e Diversidade, coordenada pela conselheira Teresinha de Jesus Ferreira da Silva. 

O mercado de trabalho vem passando por mudanças significativas, mas a presença feminina ainda enfrenta desafios. No podcast Economistas desta semana, Janaína Alves, Beatriz Barros, Michele Aracaty e Janine Alves falam sobre o protagonismo das mulheres na economia, a importância da equidade de gênero e as barreiras que ainda precisam ser superadas. 

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Aproximar o curso de ciências econômicas das mulheres 

Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) mostram que, entre os concluintes dos cursos de graduação, a maioria é composta por mulheres. Nos cursos de Ciências Econômicas, entretanto, a realidade é outra: a proporção de mulheres entre os concluintes é de cerca de 40%. 

“No panorama geral da educação superior brasileira as mulheres têm sido maioria. Segundo o INEP, são 59% dos concluintes do ensino superior, embora no curso de economia esta realidade seja diferente”, comenta a economista e professora Janaína Alves, citando estudos acadêmicos a respeito. “Há uma maior concentração feminina em áreas de ciências humanas e da saúde. Cursos como pedagogia e enfermagem são predominantemente femininos”. 

Acerca do curso de economia, Janaina mencionou que “é considerado difícil, porque tem a matemática, a estatística, a parte histórica. Precisamos informar mais as mulheres sobre o curso de economia, a riqueza, trazer uma visão global sobre este curso que proporciona uma formação bem diversa e interessante. Precisamos trazê-lo mais para o contexto das mulheres”. A economista também observa que “é importante desconstruir esta imagem masculina e trazer para as meninas, no ensino médio, a importância da mulher na economia. Não é um curso de exatas, nem puramente histórico, mas que alia todas essas ferramentas, de cunho quantitativo, qualitativo e histórico”. 

Participação na indústria 

Existem setores da economia que têm pouca participação feminina. Um deles é a indústria, no qual as mulheres são apenas um quarto do total de empregados. Segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), seis em cada dez empresas do setor possuem programas ou políticas voltadas para a igualdade de gênero. Empresas que adotam a diversidade e a inclusão se tornam mais inovadoras e dinâmicas, além de possuírem um melhor clima organizacional. 

“É notório que a participação feminina na indústria tem crescido, mas ainda enfrentamos desafios significativos. Embora haja um aumento no número de mulheres em funções de liderança, em áreas tradicionalmente dominadas por homens, como tecnologia, engenharia, matemática, a igualdade de gênero ainda não foi plenamente atingida”, aponta a economista Beatriz Barros, coordenadora da Comissão de Assuntos Étnico-Raciais do Corecon-MG. Em cargos de liderança, as mulheres eram 24% em 2008 e 32% em 2021. “Mas há problemas que não foram resolvidos. Muitas mulheres ainda enfrentam barreiras no acesso a oportunidades de emprego e promoção, devido a preconceitos e estereótipos”. 

Recorte de raça 

Quando se aplica um recorte de raça às questões de gênero, as mulheres negras têm menor participação no mercado de trabalho e taxas de desemprego mais altas que os demais grupos demográficos. “As lutas enfrentadas pelas mulheres negras diferem significativamente das enfrentadas pelas brancas, especialmente no nosso contexto brasileiro”, comenta Beatriz. “O acesso a educação e empregos dignos foi historicamente negado a elas – que, muitas vezes, eram relegadas a trabalhos domésticos e de servidão. Apesar da melhoria na escolaridade das mulheres negras, a desigualdade racial na educação ainda é significativa”. 

Das mulheres brancas, cerca de 28% possuem ensino superior, contra 14,7% das negras. Além disso, quase 48% das mulheres negras ocupadas estavam em situações informais. “Mesmo com todas essas barreiras sociais impostas, elas desempenharam e continuam desempenhando um papel vital na luta por direitos e reconhecimento”, observa a economista. “Elas transcenderam essas limitações e deixaram legados em diversas áreas, e são exemplos inspiradores de força, dignos de ser celebrados. Sua história deve ser contada como parte integrante da narrativa do desenvolvimento nacional”.    

Mulheres na Amazônia 

Na Amazônia, a evasão escolar é um indicador que reflete a desigualdade de gênero. Ela é maior entre as mulheres, que muitas vezes abandonam os estudos para se dedicar ao cuidado de familiares. Esta realidade cria dificuldades para a população feminina da região no mercado de trabalho. 

“Dadas as peculiaridades logísticas e infraestruturais, são elas quem mais abandonam a escola, seja para se dedicar aos cuidados de familiares (idosos ou acamados), seja para gestar seus filhos em uma gravidez precoce, que é a realidade regional”, explica a economista Michele Aracaty, presidente do Corecon-AM/RR e professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). “As amazônidas têm um cuidado especial com a natureza, o que garante a conservação da floresta, o bem-estar e a própria existência da sua comunidade”. 

“Essas mulheres guerreiras da floresta são responsáveis pelo ativismo e liderança em prol da cultura e das tradições familiares, além de serem responsáveis pela sustentabilidade ambiental”, prosseguiu Michele. “Precisamos com urgência de políticas públicas direcionadas ao capital humano feminino, dadas as particularidades regionais e as dificuldades logísticas e infraestruturais que são realidade da nossa Amazônia”. 

No contexto amazônico, as mulheres desempenham um papel fundamental em suas comunidades, cabendo a elas a busca por soluções para a conservação ambiental, assumindo a função de ativistas e defensoras da floresta para a preservação das sementes. Elas também são detentoras dos saberes tradicionais, que são essenciais para a sobrevivência de suas comunidades. 

“Elas desempenham função de liderança em suas comunidades, cabendo a elas a busca por soluções para a conservação ambiental, assumindo a função de ativistas e defensoras da floresta para a preservação de sementes, cuidando de animais, das suas roças, cuidando da água e, principalmente, levando em consideração o conhecimento em relação à variedade de espécies alimentícias e medicinais, que são criadas por elas em seus quintais ou roças”, continua Michele. “Elas cuidam dos idosos e dos filhos, o que possibilita compartilhar e transmitir conhecimento entre as inúmeras gerações, o que garante a sustentabilidade da sua comunidade em termos de longevidade”. 

Economia do cuidado 

Um assunto que vem ganhando muito espaço no debate econômico de gênero é a chamada economia do cuidado. Esta atividade, remunerada ou não, está muito associada às mulheres, e este fenômeno tem um impacto fundamental na colocação feminina dentro do mercado de trabalho, não só porque as atividades remuneradas acabam sendo exercidas predominantemente por mulheres, como também porque seu exercício de forma não remunerada atrapalha na busca por um emprego melhor. 

“Esta é uma questão fundamental quando falamos sobre desigualdade de gênero no mercado de trabalho, porque nós, mulheres, historicamente assumimos a maior parte das responsabilidades do cuidado, seja dentro de casa, seja em profissões como enfermagem, educação infantil e trabalho doméstico”, aponta a vice-presidente do Corecon-SC, Janine Alves. “Isso tem impactos diretos tanto na nossa inserção no mercado de trabalho quanto nos rendimentos. A carga de trabalho não remunerado limita a nossa disponibilidade para empregos formais e bem remunerados. Os dados mostram que as mulheres gastam, em média, 21 dias a mais por ano do que os homens apenas com tarefas domésticas. Significa menos tempo para investir na carreira, se qualificar, buscar promoções e até mesmo manter o emprego estável”. 

Janine aponta também que as profissões ligadas ao cuidado, mesmo quando são remuneradas, pagam salários médios bem menores do que as profissões predominantemente masculinas. “Isso acontece mesmo com a exigência semelhante de qualificação”, critica. “Enquanto o trabalho de cuidado for visto como uma obrigação das mulheres, e não uma responsabilidade compartilhada, e enquanto não houver políticas públicas para dividir esta tarefa, a desigualdade vai continuar existindo”. 

E que políticas seriam essas? “Ampliação da licença paternidade. Os homens têm apenas cinco ou 20 dias de licença, enquanto nós podemos ter até seis meses. Isso reforça a ideia de que os cuidados com a família são uma responsabilidade exclusivamente feminina”, comenta. “Outra política essencial é o investimento em creches, escolas de tempo integral. Muitas de nós já tivemos que abrir mão de oportunidades de trabalho ou aceitar empregos mais precários simplesmente por não ter onde deixar nossos filhos”. 

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