Ana Cláudia Arruda: “Juros de 15% impedem o crescimento que o Brasil precisa”
Conselheira federal criticou a condução da política monetária e defendeu novas estratégias para impulsionar o desenvolvimento sustentável do Brasil
A conselheira federal Ana Cláudia Arruda concedeu uma entrevista à agência Safras na qual falou sobre a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. Para a economista, a medida reforça o perfil excessivamente conservador da política monetária brasileira e compromete o dinamismo da economia nacional.
A manutenção dos juros em 15% não foi uma surpresa. “O mercado já trabalhava há muito tempo com a estimativa de que a taxa seria mantida. Sabemos que a política conduzida pelo Banco Central é conservadora”, comentou Ana Cláudia. “Nossa taxa de juros é compatível com a de países que têm uma conjuntura bastante difícil ou mesmo que estão em guerra. E essa taxa tão elevada impede o crescimento econômico que a economia brasileira tanto precisa”.
A conselheira federal considerou muito duro o comunicado emitido pelo Copom após a reunião. “Ele afirma que a taxa de juros será mantida alta em um período prolongado, em função de problemas relativos às pressões do mercado de trabalho e outras questões de conjuntura adversa internacional”, pontuou a economista. “O mercado de trabalho brasileiro é frágil, muitos trabalhadores ganham até um salário mínimo e consomem tudo o que ganham. Que pleno emprego é esse? É preciso encontrar outra forma, não tão conservadora, de combater a inflação. O problema dos juros altos vem de décadas e inviabilizou o processo de crescimento e desenvolvimento sustentável”.
Ana Cláudia destacou que o setor produtivo é penalizado com uma taxa de juros tão elevada. “Ela impede os empresários que queiram pensar em investimentos inovadores de tomar capital emprestado. Como eles vão fazer isso com 15% ao ano?”, questionou. “Essa taxa de juros remunera os grandes detentores do capital. Ela favorece quem tem recursos, o mercado financeiro, uma elite parasita que vive de juros”.
Uma crítica levantada durante a entrevista foi o uso da taxa básica de juros como única ferramenta de combate à inflação. “Defendemos que sejam criados novos mecanismos. Conduzir uma política econômica de uma nota só, em cima das taxas de juros, isso já foi há décadas e tem sido um fator impeditivo ao desenvolvimento da economia brasileira. As taxas no mundo todo, no mundo desenvolvido, na União Europeia, são quase negativas, e a nossa taxa está no nível da Rússia”, observou.
Em relação ao quadro fiscal do Brasil – apontado, muitas vezes, como impeditivo para reduzir os juros – a economista mencionou que outros países possuem um nível de endividamento maior que o brasileiro. “Tem países com dívida acima de 100% do PIB, nós estamos longe disso. Hoje o problema é fazer o país crescer e, para isso, é preciso uma política macroeconômica que permita gerar emprego e aumentar a receita tributária. É possível reconduzir a atividade econômica monitorando o problema fiscal, que é comum a todas as economias”.
A entrevista da conselheira federal Ana Cláudia Arruda à agência Safras pode ser assistida na íntegra no player abaixo.
