Júlio Miragaya critica manutenção da Selic a 15% e alerta para impacto no crescimento
Integrante da Comissão de Política Econômica do Cofecon avalia que o cenário favorece grandes investidores, mas desestimula o crédito aos consumidores e empresas
O economista Júlio Miragaya, integrante da Comissão de Política Econômica do Cofecon, falou ao canal Times Brasil sobre a decisão tomada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) na semana passada ao manter a taxa básica de juros em 15%. O economista avaliou que o cenário é vantajoso para grandes investidores, mas desestimula o crédito para empresas e consumidores, afetando a atividade econômica.
“O Cofecon tem sido muito crítico dessa política do Banco Central. É injustificável a Selic a 15% quando temos uma inflação que vai fechar o ano perto de 4,5%, resultando numa taxa de juro real superior a 10%”, argumentou Miragaya. “Para o grande investidor é um panorama favorável, mas é um quadro ruim para a economia nacional, porque desestimula o crédito às empresas e ao consumidor. No fim do ano passado tínhamos um crescimento próximo de 4% e neste ano devemos fechar pouco acima de 2%”.
Questionado sobre o momento atual do emprego (dados da PNAD Contínua mostraram que o terceiro trimestre de 2025 teve uma taxa de desemprego de 5,6%, o melhor número da série histórica da pesquisa), Miragaya não se mostrou otimista. “Embora haja o pensamento de que o desemprego está baixo, se levarmos em conta o desalento (pessoas que deixaram de procurar emprego por não terem esperança de conseguir encontrar) nós temos um total de 8 milhões de pessoas desempregadas, sem falar no fato de que 40% da população ocupada está em atividades informais”, apontou.
O economista também falou sobre a meta de inflação de 3% ao ano. “Ela é muito rigorosa para um país com a estrutura econômica do Brasil. Em países com características semelhantes (Índia, Egito, Colômbia, México) o número é mais próximo de 5%”, explicou Miragaya. “Não podemos nos contentar com um crescimento de 2%. Temos tudo para crescer como a Indonésia, que tem uma taxa de 5% há oito anos, ou como a Índia”.
E quais são as possibilidades de a redução nos juros começar a partir de janeiro? “Acho que a tendência é não mudar no início do ano e que a redução deve começar só em março ou abril, com 0,25 ponto percentual. Penso que em 2026 ainda teremos uma Selic muito elevada”, prognosticou Miragaya. “Não podemos nos esquecer de que a Selic neste patamar é responsável por gastos com juros da dívida da ordem de 1 trilhão de reais por ano”.
O integrante da Comissão de Política Econômica do Cofecon também analisou o possível impacto que a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais pode ter sobre a inflação. “Há 20 anos, quando se decidiu elevar o salário mínimo em termos reais, dizia-se que a Previdência iria quebrar, que iria estourar o orçamento das prefeituras e a inflação. Não aconteceu, e muitas prefeituras até melhoraram pelo aumento da arrecadação”, comentou. “A inflação, no Brasil, está localizada em alguns itens específicos. Tivemos um problema com os alimentos no ano passado, em função dos estoques reguladores e da alta do dólar, que já foi debelado. Energia elétrica e combustíveis foram os grandes vilões e vão continuar sendo”.
O vídeo com a entrevista pode ser assistido clicando AQUI
