A Expansão dos Institutos Federais e a Formação Profissional em Economia
Formar para transformar: a inserção das Ciências Econômicas na Rede Federal de Educação Profissional. Confira o artigo de opinião da presidente do Corecon-ES, Érika Leal
Em 2024, quando os Institutos Federais no Brasil comemoraram 15 anos de criação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica no país, com previsão de criar mais 100 novos Institutos Federais. Em 2023, de acordo com o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), com base em um levantamento do MEC, existiam 656 campi em 578 municípios em todo o território nacional.
Em 2021, o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES/Campus Cariacica), em parceria com o Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), realizou um levantamento a partir de dados disponibilizados pelo Conif e constatou a diversidade de modalidades de cursos de graduação presentes nos Institutos Federais. Observamos a oferta de cursos de graduação e pós-graduação nas áreas das Engenharias, Ciências Exatas e da Terra, Ciências da Saúde, Humanidades, Ciências Sociais Aplicadas e, curiosamente, constatamos ausência da oferta do Curso de graduação em Ciências Econômicas na Rede Federal Nacional.
Voltando o olhar para a Lei de Criação dos Institutos Federais (Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008), observamos que esses Institutos têm como finalidade contribuir para o desenvolvimento regional sustentável, tendo suas ações voltadas ao fortalecimento dos Arranjos Produtivos Locais (APLs).
O profissional de Ciências Econômicas, por excelência, é formado para desenhar e executar políticas que promovam o progresso social e o desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional, tal como preconizado na Lei de Criação dos Institutos Federais. Entendemos que as instituições, ao ofertarem cursos de Economia, realizam uma ação em total aderência à sua Lei de Criação.
Além disso, entendemos que a oferta do curso de Ciências Econômicas pelos Institutos Federais é uma ação estratégica e que deve ser apoiada pelos Conselhos Regionais de Economia, uma vez que esses Institutos possuem uma capilaridade imensa no território nacional, alcançando regiões remotas do país onde nem mesmo as universidades federais chegaram, apesar da vertiginosa expansão universitária que passamos.
Nesse cenário, concebemos no Instituto Federal do Espírito Santo (IFES/Campus Cariacica) a criação do primeiro curso de graduação em Ciências Econômicas dos Institutos Federais do Brasil.
O Primeiro Curso de Ciências Econômicas dos Institutos Federais do Brasil
O Espírito Santo possui uma economia alicerçada em commodities. O estado registrou um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 186,3 bilhões, em 2021, o que representa 2,1% do PIB nacional. Somos a 14ª maior economia do país e a 9ª maior em PIB per capita (IJSN, 2023).
A Lei de Criação dos Institutos Federais preconiza que os Institutos Federais
devem orientar sua oferta formativa em benefício da consolidação e fortalecimento dos arranjos produtivos, sociais e culturais locais, identificados com base no mapeamento das potencialidades de desenvolvimento socioeconômico e cultural no âmbito de atuação do Instituto Federal, (BRASIL, 2008, p.1).
Nesse sentido, a oferta de cursos em cada localidade deve estar vinculada às características da economia da região. A cidade de Cariacica (ES), onde está sediado o primeiro curso de Ciências Econômicas dos Institutos Federais do Brasil, é um município conhecido por agregar diversas atividades logísticas.
O Ifes Campus Cariacica possui cursos técnicos em Ferrovias (somos vizinhos da Vale), Logística, Portos, Administração e graduação em Engenharia de Produção e Licenciatura/bacharelado em Física (atendendo a um dos objetivos dos Institutos Federais previstos na referida Lei de Criação). Além disso, sediou diversas reflexões sobre a necessidade de fortalecer a profissão de Economista e unir profissionais para potencializar a produção de estudos sobre o desenvolvimento regional, a inovação tecnológica e a modernização da estrutura produtiva. Nesses debates foi se consolidando a proposta de criação do curso de Graduação em Ciências econômicas do Ifes.
Projeto Pedagógico do Curso: Tradição e Modernidade
A elaboração de um Projeto Pedagógico de Curso (PPC) de Ciências Econômicas precisa observar as Diretrizes Curriculares Nacionais. Nesse sentido, a comissão de trabalho se debruçou sobre a tarefa de organizar as disciplinas de forma que contemplem todos os
conteúdos que revelem inter-relações com a realidade nacional e internacional, segundo uma perspectiva histórica e contextualizada dos diferentes fenômenos relacionados com a economia, utilizando tecnologias inovadoras, e que atendam aos seguintes campos de formação: (…) formação geral, teórico-quantitativa, formação histórica e teórico-práticos (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007, p.2).
O Instituto Federal é uma escola técnica por natureza. Então, foi estabelecido um diálogo com a sociedade e construímos os componentes curriculares com a previsão de utilização das tecnologias para a solução de problemas. Os exercícios presentes nas disciplinas tradicionais, como macroeconomia e microeconomia, deverão ser resolvidos utilizando os recursos tecnológicos.
Além das atividades interdisciplinares, disciplinas como Ciência de Dados e Programação Estatística são componentes obrigatórios do curso. Vivemos a era da ampliação das análises de grandes bases de dados e a inserção do pensamento computacional no curso foi privilegiada na matriz curricular.
Observando também a necessidade de articulação do tripé ensino, pesquisa e extensão, o projeto possui 300 horas de atividade de extensão, em que o estudante será orientado por professores em diversos projetos junto à sociedade. A inserção dos jovens nas comunidades resolvendo problemas reais durante o curso de graduação já é uma prática em cursos de Ciências Econômicas de referência nos cenários internacional e nacional.
O currículo contempla, ainda, disciplinas voltadas à Economia e Meio Ambiente, transição energética, emergência climática e políticas públicas voltadas para a redução das desigualdades em todas as suas formas.
Por fim, um curso que pretende contribuir para a inclusão social precisa olhar atentamente as condições de seu público-alvo. Assim, o curso também é pioneiro no estado ao ser o primeiro curso de Ciências Econômicas da rede pública ministrado no turno noturno, possibilitando o acesso do jovem trabalhador e daqueles que sempre tiveram interesse em cursar, mas que pelas adversidades da vida não conseguiram escolher o curso em sua primeira graduação.
Acreditamos que, dadas as competências existentes na Rede Profissional de Ensino Federal em termos de docentes que pesquisam sobre as novas tecnologias e inserção de temas como a sustentabilidade, desigualdades e justiça social, é possível avançar na estruturação de outros campi para a oferta do curso de Ciências Econômicas.
Nossa expectativa é que esse produto que estamos construindo no IFES/Campus Cariacica não fique restrito ao Espírito Santo, mas que outros campi da rede em todo o País possam se unir ao nosso estado na oferta de mais cursos de graduação em Ciências Econômicas. Contribuiremos, assim, para a missão dos Institutos Federais na promoção do desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional, ao mesmo tempo em que executaremos uma estratégia de fortalecimento da formação do Profissional de Ciências Econômicas no Brasil.
Autora:
Érika de Andrade Silva Leal
Professora e Coordenadora do Curso de Ciências Econômicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes/Campus Cariacica). Coordenadora do Observatório do Desenvolvimento Capixaba e atualmente é Presidenta do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo.
