Manifesto do XXVI Congresso Brasileiro de Economia – Por um Brasil líder na transição justa e no equilíbrio climático

O XXVI Congresso Brasileiro de Economia apresenta à sociedade brasileira e à comunidade internacional este Manifesto, às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém do Pará. Pela primeira vez na história, a Amazônia, coração da biodiversidade planetária, acolhe o encontro climático mais importante do mundo, consolidando o papel estratégico do Brasil no enfrentamento da emergência climática e na construção de um futuro sustentável.

Esta Conferência não representa somente uma oportunidade para debater emissões, tecnologias ou metas climáticas; é um chamado à compreensão de que sem equilíbrio climático não haverá prosperidade econômica, justiça social ou democracia sólida. A emergência ambiental exige uma atuação integrada, em que governos, empresas, organizações da sociedade civil e cidadãos assumam responsabilidades compartilhadas para a preservação do planeta e a garantia de um futuro digno para todas as gerações.

Nós, economistas, e demais profissionais desempenhamos um papel central ao analisar impactos econômicos, propor políticas públicas ecoeficientes e avaliar, através de múltiplos critérios, os impactos socioeconômicos e ambientais de cada processo econômico que se realiza na busca por soluções que permitam uma transição ecológica justa. Nossa profissão tem um papel importante na formulação de medidas e na construção de políticas.

O Sistema Cofecon/Corecons, como instância de representação da categoria, reafirma seu compromisso de não se omitir neste debate: estará ativo na discussão de estratégias e soluções que conciliem desenvolvimento econômico, justiça social e sustentabilidade ambiental, reforçando que a economia do presente e do futuro deve ser verde, inclusiva e responsável com a nossa geração e com as próximas.

Necessidade de transição justa

Vivemos tempos em que os impactos das mudanças climáticas já não podem ser ignorados. Eventos extremos (enchentes, estiagens, ondas de calor e desastres ambientais) afetam milhões de brasileiros e comprometem a produção, a infraestrutura e a qualidade de vida. No ano passado, o Rio Grande do Sul viveu a maior catástrofe climática de sua história, com 184 mortes, 25 pessoas ainda desaparecidas e quase 100 mil desabrigados. Na Amazônia, uma estiagem prolongada levou vários rios ao menor nível de sua história e ocasionou o registro de mais de 25 mil focos de incêndio. A região sofre, ademais, com os efeitos do avanço do desmatamento, da grilagem e da exploração predatória.

Nas grandes cidades, a combinação de ilhas de calor urbano, precariedade habitacional e desigualdade socioambiental evidencia a urgência de políticas integradas e resilientes. É necessário articular planejamento urbano, investimentos em infraestrutura verde, mobilidade sustentável e gestão eficiente dos recursos hídricos e energéticos, de modo a reduzir vulnerabilidades e promover cidades mais justas e saudáveis. O papel do economista reveste-se de relevância estratégica nesse processo ao avaliar os impactos socioeconômicos, propor mecanismos de incentivo à adaptação e orientar a implementação de políticas que conciliem crescimento econômico, inclusão social e preservação ambiental.

O Cofecon entende que a transição necessária não pode se restringir a mudanças tecnológicas – ao contrário, deve ser ecológica, social e econômica, ancorada em princípios de justiça climática. Isso implica que os povos da floresta, comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas e trabalhadores (urbanos e rurais) não sejam meros objetos de políticas, mas protagonistas e beneficiários de uma transformação estruturante.

Amazônia: centro da agenda global

A Amazônia, além de ser o maior patrimônio natural do Brasil, é também um pilar do equilíbrio climático global. Conscientes de que a floresta em pé tem valor superior ao da derrubada indiscriminada, defendemos a construção de um pacto econômico pela Amazônia, que fortaleça a bioeconomia, valorize os conhecimentos tradicionais, enfrente o desmatamento e atividades ilegais e assegure alternativas econômicas endógenas e sustentáveis.

Neste sentido, é imprescindível ampliar os investimentos em ciência, tecnologia e inovação, criar mecanismos de compensação financeira justa (como royalties climáticos, pagamentos por serviços socioambientais e créditos de carbono com viés redistributivo) e garantir o protagonismo dos amazônidas no planejamento e execução das políticas públicas para a região. Só assim será possível conciliar conservação ambiental, justiça social e desenvolvimento econômico sustentável.

Participação no debate econômico

Como resultado de um amplo processo de reflexão coletiva, três documentos foram consolidados no âmbito do Sistema Cofecon/Corecons, expressando o compromisso da categoria com a agenda climática e a transição justa. Após os debates realizados no 29º Encontro de Economistas da Região Sul (Enesul), em agosto de 2025, o Corecon-SC apresentou um documento com propostas para discutir no âmbito do Sistema Cofecon/Corecons e, posteriormente, levar à COP30. A Carta do XIII Encontro das Entidades de Economistas da Amazônia Legal, sediado no mesmo mês em Manaus, também foi confeccionada com o intuito de ser encaminhada à COP30. Da mesma forma, no Cofecon, a Comissão de Sustentabilidade Econômica e Ambiental conduziu o ciclo de seminários “Diálogos Econômicos à Luz da COP30”, reunindo especialistas, acadêmicos, representantes da sociedade civil e economistas de diferentes regiões do país. A partir desse processo, foi elaborado o documento “Equilíbrio Climático para um Futuro Ecológico Comum”, cuja finalidade é oferecer subsídios qualificados à liderança brasileira na COP30 e contribuir para que o país assuma um papel protagonista na governança climática global.

Entre as medidas propostas pelo Sistema Cofecon/Corecons, encontram-se:

  • Transição ecológica justa: integração de bioeconomia, economia circular, agroflorestas regenerativas, energias renováveis e renda básica como instrumentos de inclusão e sustentabilidade.
  • Valoração econômico-ecológica: políticas que reconheçam o valor dos serviços socioambientais, garantindo redistribuição justa e evitando a financeirização predatória da natureza.
  • Governança climática: fortalecimento de marcos regulatórios, transparência, combate ao greenwashing e alinhamento entre políticas fiscal, monetária e ambiental.
  • Financiamento sustentável: criação de fundos nacionais e internacionais para adaptação e mitigação, incluindo o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, proposto pelo Brasil.
  • Educação e ciência: incentivo a laboratórios regionais de economia ecológica, integração entre saberes tradicionais e científicos e fortalecimento da formação técnica para gestores e comunidades.

O Cofecon reafirma que não há economia próspera em um planeta doente. A COP30 oferece a oportunidade histórica de consolidar um projeto nacional de desenvolvimento sustentável, inclusivo e democrático. O Brasil deve assumir uma posição de liderança global, não como exportador de commodities ambientais, mas como exemplo de transição justa, de justiça climática e de construção de prosperidade a partir da biodiversidade e do êxito na descarbonização da economia.

Este Manifesto é um chamado a governos, empresas, instituições e cidadãos. O equilíbrio climático deve ser o alicerce de um futuro ecológico comum. Somente com ação coordenada, conhecimento científico e valorização das comunidades locais será possível construir um Brasil líder na transição justa e no equilíbrio climático, capaz de oferecer segurança ambiental, prosperidade econômica e justiça social para todos.

XXVI Congresso Brasileiro de Economia

Outubro, 2025

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