XXVI CBE: Economistas defendem novo projeto de desenvolvimento para o Brasil
Painel de debates destaca papel estratégico do Estado, reindustrialização verde e superação do neoliberalismo
O avanço da neoindustrialização no Brasil exige um Estado capaz de coordenar políticas produtivas, tecnológicas e sociais. Este foi o debate ocorrido no painel “O papel do Estado e a neoindustrialização”, realizado no XXVI Congresso Brasileiro de Economia. A discussão – que contou com a participação dos economistas Odilon Guedes e Haroldo da Silva, com moderação de Júlio Miragaya – reforçou a urgência de um novo modelo de desenvolvimento baseado em inovação, sustentabilidade e redução das desigualdades.
Odilon Guedes reforçou a relevância da intervenção do Estado na economia como ferramenta essencial para combater desigualdades e promover a justiça social no Brasil. Ele destaca que políticas públicas bem estruturadas podem mitigar disparidades econômicas e fortalecer o suporte às populações mais vulneráveis. Defende também o papel ativo do Estado na regulação econômica e no estímulo ao desenvolvimento sustentável, enfatizando que investimentos em áreas como educação, saúde e infraestrutura são fundamentais para alcançar o progresso social.
Odilon, que é especialista em História do Brasil e possui vasta experiência como professor na área, trouxe fatos sobre desenvolvimento histórico do país, explicando que compreender o papel do Estado exige conhecer a trajetória política e econômica do Brasil, além de entender como as intervenções estatais moldaram o funcionamento dos órgãos públicos e impactaram a sociedade ao longo do tempo. O presidente do Corecon-SP ressaltou a importância de analisar os desafios para encontrar um equilíbrio entre a intervenção estatal e a autonomia dos mercados, sem que haja controle total por parte do governo.
Haroldo Silva falou sobre a importância da indústria de transformação para o crescimento econômico do país, destacando que ela é fundamental para a geração de empregos e salários dignos. No entanto, segundo o especialista, o Brasil enfrenta desafios significativos, incluindo a desindustrialização, que é atribuída a um ambiente econômico que foi dominado por ideologias neoliberais, desde o início dos anos 1990; e a necessidade urgente de reposicionar sua política industrial, de forma perene. “Precisamos de uma nova abordagem que fortaleça setores estratégicos e que promova a inovação e o aumento da produtividade”, diz.
Haroldo ressaltou que, num recorte temporal, enquanto o PIB brasileiro cresceu 53,5%, entre 2003 e 2024, a indústria de transformação cresceu apenas 9,2%, evidenciando um descolamento preocupante entre esses indicadores. Para reverter essa situação, o economista apontou que existem três caminhos para a legitimação das nações líderes: um foco econômico em diversificação, um compromisso ambiental com a sustentabilidade e um fortalecimento militar para garantir a segurança geopolítica. “A vertente que mais é adequada ao Brasil é a partir do desenvolvimento industrial verde, aproveitando o potencial ecológico disponível, a partir da economia donut. É essencial romper com a ‘doxa neoliberal’ e adotar um novo mindset para a reindustrialização”.
Ele também apresentou a estratégia nacional de economia circular como uma solução para revitalizar a industrialização, promovendo a otimização de recursos e a inovação. Ele alertou para a urgência da transformação produtiva em resposta às mudanças climáticas e aos desastres ambientais recentes, especialmente num evento na Cidade de Porto Alegre, marcada pelas enchentes do ano de 2024 e que ainda está se recuperando.”
XXVI Congresso Brasileiro de Economia
O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS.
O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro.