Tania Teixeira: “Mundo mudou desde 1951, mas nossa lei é a mesma”
Presidenta falou no 8º Encontro de Economia do Sudeste. Conselheiros Pedro Afonso Gomes e Antônio Corrêa de Lacerda realizaram palestras sobre o mercado de trabalho do economista
Nos dias 28 e 29 de agosto foi realizado em São Paulo o 8º Encontro de Economia do Sudeste. O evento trouxe palestrantes renomados para debater temas como desenvolvimento, papel do Estado, cenário geopolítico, transição demográfica, mercado de trabalho do economista, distribuição de renda e descarbonização, entre outros.
O Cofecon se fez presente no evento com a presidenta Tania Cristina Teixeira, o vice-presidente João Manoel Gonçalves Barbosa e os conselheiros federais Pedro Afonso Gomes e Antonio Corrêa de Lacerda. Barbosa esteve presente na mesa de abertura e fez uma breve saudação a todos os participantes.
Análise do primeiro dia
Ao terminar o primeiro dia de debates, a presidenta do Cofecon ressaltou as discussões ocorridas durante a programação. “Trouxemos para este espaço uma diversidade de olhares que compõem a região Sudeste, que é o principal polo de desenvolvimento do Brasil, mas que também é palco de profundas desigualdades sociais”, apontou a economista.
Tania destacou também que “os debates foram compostos por vários eixos de reflexão, que englobam temas como um projeto de desenvolvimento para o Brasil, o papel do Estado e do setor privado, a importância das fontes de financiamento, a posição do nosso País no cenário geopolítico atual e a transição demográfica. São temas importantes que se colocam para nós, economistas, neste momento em que o Brasil busca uma trajetória de crescimento com distribuição de renda a fim de trazer a prosperidade que nosso País merece e reduzir as desigualdades que nos colocam numa posição muito ruim na comparação com outras nações”.
A presidenta também comentou os temas discutidos no primeiro dia do evento e reafirmou o compromisso do Cofecon com um tema essencial para os economistas: a aprovação do Projeto de Lei 3.178/2024, que tramita na Câmara dos Deputados. “O mundo mudou muito desde a década de 1950, mas a nossa lei, com exceção de umas poucas alterações em temas menores, continua sendo a mesma”, comentou. Mas ela também defendeu uma mudança nos cursos de economia: “Que sejam comprometidos com uma formação que permita o desenvolvimento de habilidades e competências que deem conta de dar respostas a este mundo em que vivemos”.
Mercado de trabalho do economista
O painel sobre mercado de trabalho do economista contou com palestras de dois conselheiros federais: Pedro Afonso Gomes e Antonio Corrêa de Lacerda. Ao refletir sobre as transformações tecnológicas e suas consequências, Gomes citou o exemplo da mecanização em cemitérios municipais, que reduziu drasticamente o número de trabalhadores necessários. Para ele, a lição vale para todas as áreas. “Essas pessoas precisaram ser retreinadas, e os economistas também precisam ser retreinados. O mundo é dinâmico, muda todos os dias, e nós precisamos nos adaptar a ele, e não o mundo se adaptar à gente”, disse. Ele ressaltou ainda a necessidade de conhecimentos multidisciplinares, trabalho em equipe e atualização constante para enfrentar os desafios.
Gomes também falou sobre novas oportunidades para a profissão, como a economia digital, a mensuração de danos ambientais e a economia solidária. “Aqui em São Paulo há uma demanda muito grande por peritos na área ambiental, peritos economistas, porque existe a parte técnica, que é a constatação de danos potenciais ou reais, e esta parte cabe aos engenheiros florestais, agrícolas ou outras profissões; mas o economista faz a apuração e a mensuração econômica do dano ambiental ou potencial. Não temos muitos economistas atuando nesta área”, observou. Citando Fernando Sabino, concluiu a palestra incentivando os presentes a perseverarem na valorização da profissão: “De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estamos começando, a certeza de que é preciso continuar, a certeza de que poderemos ser interrompidos antes de terminar. Façamos da interrupção um caminho novo, da queda um passo de dança, e do sonho, uma ponte”.
Lacerda mencionou a história econômica do mundo no último século, citando a resposta em forma de tarifas à crise de 1929. “Quem não conhece a história está condenado a repeti-la, não é? Provavelmente é o que está acontecendo hoje. Quem toma as decisões na maior economia do mundo provavelmente não leu a história e repete o erro em bases diferentes”, pontuou o conselheiro, referindo-se às tarifas de Donald Trump. Ao falar das crises recentes (climática, geopolítica e sanitária) mencionou o economista como o profissional preparado para lidar com elas.
Ele também comentou que a principal face da economia que chega ao grande público é a financeira. “O poder econômico do setor financeiro é muito forte, não só atraindo profissionais qualificados, como também patrocinando e adquirindo veículos de mídia”, criticou. Na sua visão, as políticas de austeridade frequentemente impostas pelo sistema financeiro internacional dificultam alternativas de desenvolvimento autônomo. “Não se trata apenas de crescer, mas de pensar que modelo de sociedade queremos construir”, afirmou, chamando atenção para a necessidade de políticas públicas consistentes e de longo prazo.
Por fim, o palestrante reforçou o papel dos economistas e da juventude na construção de um novo paradigma econômico. Ele apontou a urgência de incluir sustentabilidade, justiça social e inovação na agenda do desenvolvimento. “O futuro não está dado, ele será resultado das escolhas que fizermos agora”, concluiu.