Lacerda comenta intervenção no Fed e analisa impactos sobre o Brasil
Conselheiro federal falou na última quarta-feira (27) ao Jornal da CBN e apontou que queda nos juros americanos pode atrair mais capitais para o Brasil
O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda falou nesta quarta-feira (27) ao Jornal da CBN sobre a interferência do presidente norte-americano Donald Trump sobre o Federal Reserve (Fed), o banco central do país. Trump pressionou para que a diretora Lisa Cook renunciasse até o dia 20 de agosto, o que ela não fez. No dia 26, o presidente anunciou a demissão e a diretora anunciou que entrará com uma ação judicial.
A interferência tem impactos econômicos, que foram comentados na entrevista concedida por Lacerda. “As taxas de juros longas ficaram 1,17 ponto percentual mais altas do que o nível praticado há alguns meses. Já é um efeito direto dessa tentativa de intervenção”, mencionou o conselheiro federal. “Outros impactos previstos são uma inflação mais alta, se ele conseguir fazer uma interferência direta, e também uma redução, mesmo que artificial, da taxa de juros de curto prazo, que é aquela que um banco central tem uma influência muito maior”.
A medida também impacta a própria instituição: “O Fed tem essa tradição de independência, de critérios muito mais técnicos do que políticos. Uma interferência direta de Trump na nomeação dos diretores ou nas decisões abalaria esta confiança no banco central norte-americano como instituição de referência internacional”, analisou o economista.
Impacto no Brasil
Apesar de ser uma medida que diz respeito a uma instituição de outro país, há alguns impactos sobre o Brasil. “Com a globalização financeira, todos os mercados estão interligados. Toda mudança que há no mercado norte-americano, que é o mais relevante, influencia nos demais mercados”, pontua Lacerda. “Apesar do desconforto de curtíssimo prazo, há aspectos que poderão ser favoráveis do ponto de vista da economia brasileira. Uma queda na taxa de juros dos Estados Unidos (e tudo indica que ocorrerá), em tese, torna a nossa economia mais competitiva para atrair fluxos de capitais. Olhando isoladamente, é um aspecto positivo”.
“Mas não se pode descolar este dado específico do conjunto da obra de Trump, com seu tarifaço e suas intervenções sobre a economia como um todo, com reflexos tanto na economia doméstica (porque está encarecendo produtos para o consumidor e as empresas norte-americanas) como dificultando as exportações do próprio Brasil: 12% das nossas exportações são dirigidas aos Estados Unidos e, à exceção daqueles itens que fazem parte da lista que foi retirada do tarifaço de 50%, alguns produtos continuam com dificuldades”, prosseguiu o economista. “O Brasil está tomando medidas para compensar essas empresas e buscar novos mercados”.
Choques nas cadeias produtivas
Ao comentar os impactos do tarifaço sobre a inflação nos Estados Unidos, Lacerda falou sobre a situação como o quarto grande choque recente que as cadeias internacionais de suprimentos sofreram. “A pandemia de Covid-19 teve um impacto significativo sobre preços e fornecimento; os efeitos da crise climática impactam significativamente as safras; e as guerras e conflitos geopolíticos afetam também a logística e dificultam, por exemplo, o fornecimento de chips e microprocessadores, o que teve impacto sobre a produção em vários países, inclusive no Brasil”, enumerou o conselheiro federal.
“O tarifaço vem se somar a estes três elementos e provoca, como os demais fatores, um reposicionamento das cadeias produtivas internacionais. Como hoje muitas relações se dão intrafirma (entre matriz e filial de uma mesma empresa ou entre filiais), isso também tem um papel muito relevante a ser desempenhado pelas empresas multinacionais ou transnacionais, porque são fortemente impactadas e têm um peso relativo bastante intenso na economia mundial”, finalizou o economista.