IPCA-15 acumula 4,95% em 12 meses; Lacerda comenta
Conselheiro federal falou à Record News sobre fatores que interferem no indicador, que apresentou queda de 0,14 ponto percentual em agosto
Na última terça-feira (26) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15, considerado uma prévia da inflação mensal. O indicador apresentou uma variação negativa de 0,14 ponto percentual – a primeira em mais de dois anos – e acumula alta de 4,95% nos últimos 12 meses. Os preços que tiveram maior impacto para a deflação registrada foram a conta de energia elétrica, os alimentos e a gasolina. O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda falou sobre o assunto ao Jornal da Record News.
“A queda era esperada, porque no Brasil o comportamento dos preços não decorre só das forças de mercado. Há também os preços administrados, que são definidos pelo governo, como é o caso da energia elétrica”, explicou Lacerda. “Nesse mês houve uma redução de preços da energia elétrica, o que influenciou na queda do custo de habitação, gerando essa deflação”.
Uma das perguntas da entrevista levantou a questão do impacto das tarifas de Donald Trump sobre a inflação brasileira. “Depende muito do desdobramento das negociações e de quanto o Brasil vai conseguir de exceções na tarifação, e também do comportamento dos mercados brasileiros, que poderão redirecionar para outros países parte da perda de exportação para os Estados Unidos”, apontou o conselheiro federal. “É o caso do café e da carne – que, em tese, deveriam cair de preço porque aumenta a oferta doméstica. Se esses produtos forem direcionados para outros mercados de exportação, a queda não será tão sentida no Brasil”.
Taxa de juros
Uma inflação mais baixa pode influenciar uma queda na taxa de juros num horizonte visível. “Estamos com uma taxa de juros absurdamente elevada, 15%, com juros reais de 10%. Isso tem impactos enormes negativos sobre a economia, a dívida pública, o endividamento das famílias e das empresas”, analisa Lacerda. “Vejo uma queda nos juros se aproximando. Se não ocorrer ainda neste ano, passará a ocorrer no início do ano que vem. As expectativas de inflação medidas pelo boletim Focus já apontam para uma inflação menor nos próximos anos”.
Lacerda explica que, no Brasil, a inflação possui vários elementos que não são afetados pela taxa de juros. “São fatores que têm pouco a ver com o nível de atividade, de emprego e de renda. Por exemplo, a indexação, os preços administrados e a taxa de câmbio”, observa. “O desafio do governo será manter uma economia com certo nível de aquecimento, porque isso gera emprego e renda, e reduzir juros para estimular o investimento produtivo (infraestrutura, novas fábricas) para que não haja gargalos no fornecimento de produtos. Isso sim, poderia, no médio prazo, pressionar a inflação”.
Meta contínua
Lacerda falou sobre a meta contínua de inflação, que passou a ser adotada a partir de 2025, como um avanço. “É difícil calibrar a inflação dentro do ano-calendário. Este aperfeiçoamento ocorreu depois de 30 anos de implementação do regime de metas”, comentou. “Mas ela ainda é muito apertada para uma economia como a nossa: 3% é uma meta muito baixa e a variação de 1,5 ponto percentual também é pouco. Isso praticamente induz a prática de uma taxa de juros excessivamente elevada, que gera grandes distorções na nossa economia”.
O economista vê o alcance do teto da meta como algo para os próximos meses. “Mas o importante não é só manter a inflação sob controle, mas criar condições para que a economia continue crescendo e gerando renda e, sobretudo, ampliar o investimento, para que aumente a capacidade produtiva e não gere um gargalo à frente”, aponta. “Para isso, é preciso uma taxa de juros mais baixa. Por isso é tão importante flexibilizar a meta de inflação”, finalizou.