Lacerda: “Nenhum país se desenvolveu sem um relevante papel da indústria” 

Em debate na Fespsp, conselheiro federal destacou a importância estratégica do setor, a necessidade de superar mitos econômicos e os desafios impostos por crises globais. 

O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda participou no dia 04 de agosto de um debate sobre neoindustrialização e política industrial do Brasil. O evento foi promovido pelo Núcleo Brasileiro de Estudos Estratégicos (NBEE) da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp) e uma matéria publicada pelo Jornal GGN (disponível AQUI ) trouxe algumas das principais análises realizadas pelo economista. 

“Não se conhece experiência de país que tenha atingido o grau de desenvolvimento sem o papel relevante da indústria. Em geral, as exceções que são citadas não dão base, não justificam a ideia de que é possível se desenvolver sem indústria”, explicou Lacerda. “Países que têm um certo grau de desenvolvimento e uma renda per capita média elevada sem ter indústria são exceções, são países que têm características muito específicas”. 

Lacerda destacou que o Brasil teve êxito em seu processo de industrialização até a década de 1980, mas que a partir do processo de globalização, quando se acreditava que o mercado daria conta das demandas, a política brasileira se concentrou em importações. “As sequelas deste processo foram um aumento significativo na concentração de renda, por um lado, e na vulnerabilidade externa, porque este processo foi, em grande parte, financiado com capital externo de empréstimos sujeitos a variações nas taxas de juros”, apontou o economista. Mas ele também ressalta que a política industrial, embora necessária, não é suficiente para promover a industrialização. 

Mitos 

Ao defender a retomada das políticas industriais, Lacerda também afirmou que alguns mitos precisam ser superados. Um deles é o de que a concorrência internacional é tão grande que inviabiliza a adoção de uma política nacional. “Toda literatura internacional de boa qualidade, com as melhores práticas, aponta justamente o contrário. A maioria dos países adotaram e adotam políticas industriais voltadas para o seu desenvolvimento – claro, numa visão adaptada aos novos tempos, que tem que cuidar da economia verde, da transição energética, da questão do setor privado”, aponta o economista. 

Ele também lembrou que a pandemia escancarou a vulnerabilidade do Brasil diante da insegurança do fornecimento de insumos. “O paradigma neoliberal de que você não precisaria produzir porque você pode comprar de terceiros se mostrou absolutamente inviável, porque mesmo equipamentos simples de proteção individual, como luvas, máscaras, respiradores e outros equipamentos, acabaram, evidentemente, tendo uma grande escassez mundo afora”, recordou Lacerda. “No caso brasileiro, mesmo com o pagamento adiantado de alguns equipamentos, nós não os recebemos em tempo hábil. Então, isso ilustrou muito bem a importância da segurança de fornecimento, superando inclusive o fator custo, que era um dos motivadores da globalização”, acrescenta. 

Os conflitos geopolíticos também tiveram um impacto significativo na segurança do fornecimento de insumos. “Primeiro, Rússia e Ucrânia, depois Israel e Hamas, que implicaram não só a interrupção de fornecimento de fertilizantes, mas também, por exemplo, de chips: 90% dos chips ultraprocessados vêm de Taiwan”, observou Lacerda. 

O ciclo de debates também contou com a participação dos economistas Ricardo Bielschowsky e Haroldo Silva. O conselheiro regional Antonio Prado, do Corecon-SP, foi o mediador. A transmissão pode ser assistida clicando AQUI .

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