Lacerda analisa impactos das tarifas de Trump para o Brasil
Conselheiro federal participou do programa Visão Crítica, da Jovem Pan News, e defendeu pragmatismo e ação ao negociar e buscar alternativas
O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda participou na última quinta-feira (16) do programa Visão Crítica, veiculado na Jovem Pan News. O assunto discutido foi a repercussão da crise causada pelas tarifas anunciadas pelo presidente norte-americano Donald Trump. O programa pode ser assistido no player abaixo.
“Foi uma surpresa, porque o Brasil já havia sido taxado junto a outros países naquela tarifa mínima de 10%, e também pela justificativa. Provavelmente ele não ouviu seus assessores técnicos, porque cita dados equivocados. O Brasil tem déficit comercial com os Estados Unidos e a carta diz o contrário, e mistura uma série de fatores econômicos e políticos”, apontou Lacerda. “Surpreende por certo amadorismo na justificativa e no formato. E, do ponto de vista econômico, se for praticado, é um tiro no pé. Não por acaso, as empresas norte-americanas sediadas nos Estados Unidos e suas filiais no Brasil estão alertando para o impacto da medida”.
Quais seriam os impactos? Lacerda citou um estudo apontando para meio ponto percentual no crescimento do PIB. “Precisamos ver o cenário que vai se delinear a partir dessa nova configuração. Blefes e bravatas têm sido uma característica de Trump”, analisou. “O fato de o Brasil ser um player global, que exporta para várias partes do mundo e tem a China como principal parceiro, ameniza um pouco o fato específico dos Estados Unidos, mas não nos exime dos efeitos.
O economista também citou o processo de reversão da globalização. “O que mudou nos últimos anos? Primeiro, a pandemia de covid-19 nos mostrou que, mais do que o preço, é importante a segurança do fornecimento. Muitos países, inclusive o Brasil, padeceram o fato de não terem insumos para determinados equipamentos básicos de segurança, dependendo da importação”, comentou. “Depois, os efeitos da crise climática que se agravaram, trazendo impactos significativos sobre as cadeias internacionais. Terceiro, os conflitos geopolíticos, afetando o processo logístico e o fornecimento. Agora temos um elemento novo, que são as tarifas de Trump. Tudo isso impacta a localização industrial mundo afora, mas a mudança não ocorre num estalar de dedos”.
Para responder a esta situação, é preciso pragmatismo e ação. “Ficou claro que o Brasil já havia enviado uma carta, em maio, com uma proposta de negociação que não foi respondida. Mais recentemente, tivemos essa mobilização com reuniões intensas com os setores envolvidos, tanto da indústria quanto do agronegócio”, explicou o conselheiro federal. “Há também a publicação da lei de reciprocidade econômica, que muitas vezes é mal compreendida em alguns setores da mídia. Reciprocidade não é taxar com a mesma tarifa e com o mesmo instrumento; pode ser feito isso se a negociação não for bem-sucedida. Há outros mecanismos previstos no cardápio da própria Organização Mundial do Comércio, como quebra de patentes, tarifação, cotas, uma série de outros elementos”.
“Tudo indica que as negociações se intensificarão até 1º de agosto. Restam duas semanas. Muito provavelmente, no detalhamento, não será possível”, prosseguiu Lacerda. “Mas não há dúvida de que o estrago está feito. A economia vive de expectativas e de decisões que têm que ser tomadas. Em algum momento a produção já foi paralisada, há uma incerteza com relação ao preço. A estratégia brasileira está correta ao buscar a negociação e as alternativas. O Brasil tem boas relações com outras economias e pode buscar apoio no sentido de interesses comuns voltados para a negociação envolvendo as práticas de comércio”.