Lacerda analisa cenário econômico nacional e global 

Conflito no Oriente Médio, alta da Selic, revisão de benefícios fiscais e acordo automotivo com a Argentina foram alguns dos temas comentados pelo conselheiro federal no Jornal da Cultura na última quarta-feira (18) 

O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda esteve na última quarta-feira (18) na bancada do Jornal da Cultura, comentando as notícias veiculadas no noticiário televisivo. Os temas abordados foram a elevação da taxa básica de juros, os impactos econômicos do conflito Israel-Irã, o ressarcimento aos aposentados que foram vítimas de descontos indevidos, a revisão de benefícios fiscais e o acordo automotivo entre o Brasil e a Argentina.

Elevação da Selic 

O Comitê de Política Monetária do Banco Central elevou a taxa de juros para 15% ao ano – uma alta de 0,25 ponto percentual em relação ao patamar anterior. Nos Estados Unidos o Federal Reserve anunciou, na mesma data, uma manutenção dos juros no patamar entre 4,25% e 4,5% ao ano.  “A postura do Federal de permanecer onde está para ver como fica é muito própria para situações como a que estamos vivendo. Você tem ‘n’ variáveis econômicas, políticas, geopolíticas que influenciam o mundo e as maiores economias”, pontuou Lacerda. “No caso do Fed, tudo indica que haverá, num futuro próximo, um corte nas taxas de juros”. 

Perguntado sobre os motivos da elevação da Selic, mesmo com sinais de desaceleração da economia, Lacerda respondeu que esta era “a pergunta de um milhão”. “Se você considerar que os fatores inflacionários se sobrepõem aos fatores deflacionários, aumentar a taxa de juros em 0,25 ponto percentual é quase que inócuo. É claro que, como a base está muito alta, teria sido melhor manter a taxa de juros”, observou o economista. “De qualquer forma, no comunicado, tudo indica que o ciclo de alta terminou. Tudo é muito dinâmico e, quando o Copom se reunir de novo, haverá fatores internacionais e domésticos que corroborarão ou não este ciclo de alta. Penso que o cenário mais provável para o Brasil é de uma manutenção dessa taxa para, daqui a dois ou três meses, iniciar um processo de queda”. 

Conflito Israel-Irã 

O conflito entre Israel e Irã pode ter diversos impactos sobre a economia mundial, e Lacerda falou sobre eles. “Aquela é uma área sensível para a definição dos preços do petróleo, mas há questões geopolíticas envolvendo a indústria armamentista e toda a corrida nuclear que há entre as grandes potências”, analisou. “Um cenário que já era complexo ganha mais um fator de incerteza, trazendo como consequências uma redução no ritmo de crescimento da economia mundial, queda os fluxos de investimento (não necessariamente com impactos iguais para todos os países) e nos fluxos de comércio, também afetados por uma guerra tarifária iniciada pelo governo norte-americano, mas que já teve várias respostas. Há um quadro de incerteza que prejudica o desempenho da economia mundial como um todo”. 

Ressarcimento dos aposentados 

O anúncio do INSS acerca de realizar ainda neste ano o ressarcimento aos aposentados que foram vítimas de desvios foi visto por Lacerda como algo positivo. “Tendo em vista que é uma atitude proativa do governo em enfrentar a crise e garantir o ressarcimento, e ao mesmo tempo intensificar as investigações para, aí sim, punir os culpados e tentar obter esses recursos de volta, eu diria que o impacto fiscal está amenizado”, afirmou. “Isso representa um impacto de desembolso, mas nada que comprometesse mais do que o efeito contrário, de ser entendido como uma omissão ou uma injustiça com quem foi lesado. Essa proatividade tende a ter um resultado final positivo”. 

Revisão de benefícios fiscais 

O Ministério da Fazenda apresentará aos líderes do Congresso a proposta de revisão de benefícios fiscais. “O foco está nas isenções fiscais concedidas especialmente a empresas, e cuja estimativa atinge 800 bilhões de reais. E o corte previsto, ou que vai se propor, seria de 10%”, explicou o economista. “Para além de algumas propostas que surgiram, como diminuição da correção do salário mínimo e do Benefício de Prestação Continuada, que pegam a população mais carente, é preciso enfrentar a questão dos benefícios fiscais, cujos valores estão longe dos 800 bilhões. Falar de um corte de 10% parece bastante factível, preservando a visão de que precisa minimamente enfrentar a desigualdade no Brasil. A questão tributária e fiscal, de forma ampla, não pode estar dissociada de um objetivo maior, presente no atual governo, que é combater a desigualdade”. 

Acordo automotivo Brasil-Argentina 

O Brasil e a Argentina ampliaram o acordo que os dois países possuem em relação ao setor automotivo desde a década de 1990. Entre outras medidas está a isenção para importação de autopeças. “Um dos grandes desafios brasileiros dentro do projeto de neoindustrialização é justamente agregar mais valor. O nosso maior mercado de bens industriais é o latino-americano, com destaque para a Argentina”, comentou Lacerda.  “É muito importante fixar os acordos com base no cenário que tem, com risco de que possa mudar, mas aproveitá-lo da melhor forma possível para viabilizar um aumento do comércio internacional e da industrialização”.  

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