Faleceu o economista e fotógrafo Sebastião Salgado
“A formação e a consciência social de economista permearam todo o seu trabalho”, expressou a presidenta do Cofecon, Tania Cristina Teixeira
O Brasil perdeu nesta sexta-feira um de seus mais reconhecidos profissionais: faleceu em Paris, aos 81 anos de idade, o economista e fotógrafo Sebastião Ribeiro Salgado Júnior. Ele deixa a esposa, Lélia Wanick Salgado, e os filhos Juliano e Rodrigo.
“Ele foi um economista, e mesmo tendo deixado seu cargo para trabalhar com a fotografia, a formação e a consciência social de economista permaneceram dentro dele e permearam todo o seu trabalho”, expressou a presidenta do Cofecon, Tania Cristina Teixeira. “Sua câmera foi seu instrumento de denúncia, compaixão e transformação, percorrendo as feridas do planeta com um olhar marcado pela dignidade com que retratava as pessoas, mesmo nas condições mais difíceis”.
Salgado nasceu em 1944 na vila de Conceição do Capim, no município de Aimorés, Minas Gerais, localizado no vale do Rio Doce. Viveu parte da juventude em Vitória e graduou-se em economia pela Universidade Federal do Espírito Santo (1967). Na sequência, obteve seu mestrado pela Universidade de São Paulo (e o devido registro no Corecon-SP) e, perseguido pelo regime militar, mudou-se para Paris, onde obteve seu doutorado em economia.
Entre 1971 e 1973 ele trabalhou para a Organização Internacional do Café, em Londres. Em uma viagem a Angola, começou a fotografar por hobby, usando a câmera de sua esposa. De volta a Paris, iniciou sua carreira de fotógrafo como freelancer, fazendo fotos para as agências Gamma (para a qual registrou imagens da Revolução dos Cravos), Sygma (fotografando em vinte países) e Magnum (com viagens pela América Latina entre 1977 e 1984).
Em 1981, trabalhando para o New York Times, foi encarregado de registrar os primeiros cem dias do governo de Ronald Reagan e foi o único profissional a documentar o atentado ocorrido em 31 de março de 1981. A venda das fotos para jornais de todo o mundo lhe permitiu financiar seu primeiro projeto pessoal, com uma viagem à África.
Em 1986 publicou os livros Outras Américas, com fotos sobre as condições de vida dos camponeses e índios da América Latina, e Sahel: o Homem em Pânico, no qual, filiado à ONG Médicos Sem Fronteiras, cobriu a devastação acusada pela seca no norte da África. Naquele mesmo ano, passou mais de 30 dias em Serra Pelada, região na qual mais de 50 mil homens trabalhavam na maior mina de ouro a céu aberto do planeta, formando um verdadeiro formigueiro humano.
Outros trabalhos de Salgado incluem a série “Trabalhadores” (1986-1992), na qual fotografou o trabalho manual e as condições de vida de trabalhadores de todo o mundo; “Êxodos” (1993-1999), com registros de imigrantes; e “Gênesis” (2004-2012), fotografando a cultura de povos tradicionais.
Salgado recebeu diversos prêmios de fotografia – e também um Jabuti, em 1998, com o livro Terra, na categoria reportagem. Em 2014 seu filho Juliano e o fotógrafo Wim Wenders produziram o documentário O Sal da Terra, que mostra a trajetória do fotógrafo desde os trabalhos em Serra pelada até o Gênesis. O filme foi indicado ao Oscar de melhor documentário em 2015. Em 2017 ele assumiu uma das quatro cadeiras de fotógrafos da Academia de Belas Artes da França. Em 2024 sua trajetória foi reconhecida pela World Photography Organisation.
Ele também fundou o Instituto Terra, uma ONG para recuperar a mata atlântica e as nascentes da antiga Fazenda Bulcão, onde passou a infância. A área de 600 hectares havia sido utilizada para criação de gado e estava bastante degradada. O trabalho de recuperação fez com que a fazenda se tornasse um posto avançado de reserva da biosfera da mata atlântica.