Ana Cláudia Arruda: “Houve modernização, mas não reformas sociais e urbanas”
Conselheira federal falou ao programa Debate da Super Manhã, da Rádio Jornal, sobre a região metropolitana de Recife
A conselheira federal Ana Cláudia Arruda participou na última quarta-feira (23) do programa Debate da Super Manhã, que vai ao ar pela Rádio Jornal, em Recife, e que também tem transmissão pelo YouTube. Durante a conversa, ela abordou os desafios do desenvolvimento urbano e regional da região metropolitana do Recife, com base num estudo publicado pela Fecomércio sobre cinco municípios localizados ao norte da capital pernambucana (Paulista, Abreu e Lima, Igarassu, Itapissuma e Ilha de Itamaracá). O estudo pode ser acessado clicando AQUI.
Custo de vida na capital expulsa moradores
Segundo Ana Cláudia, a capital pernambucana vem enfrentando um processo de expulsão de moradores devido ao alto custo de vida. “Recife se tornou uma cidade muito cara para morar. Isso é um fenômeno global, mas aqui, como uma metrópole periférica brasileira, concentramos o poder e empurramos para as cidades do entorno uma população que não consegue usufruir dessa centralidade”, explicou. “Por outro lado, as cidades periféricas, embora tenham programas e projetos, além de investimentos industriais, não avançam nos indicadores sociais. É preciso ter informações georreferenciadas, estatísticas bem monitoradas, com planejamento e gestão”.
Ao mencionar os indicadores, Ana Cláudia apontou que 40% da população de Recife é informal e 25% das habitações na cidade são precárias. “Temos palafitas dentro da cidade! Cabe ao poder público, junto à sociedade, promover um programa integrado de desenvolvimento, com uma gestão metropolitana que pense em mobilidade, habitação, saneamento e infraestrutura social básica. A BR-101 corta a cidade para levar produtos a Suape, mas o arco metropolitano está atrasado. Essas são decisões políticas que precisam ser enfrentadas”, argumenta a conselheira federal.
“Modernização conservadora”
Ela também comentou o que chamou de “modernização conservadora” observada a partir dos anos 2000. “Houve modernização da elite, do capital imobiliário e do Estado, mas não houve reformas sociais e urbanas. Continuamos com fraturas sociais profundas. Temos palafitas atrás de shopping center. O Cabo de Santo Agostinho, onde está Suape, continua violento. Não tivemos as transformações estruturais que outros estados conseguiram”, apontou Ana Cláudia. “Temos um modelo histórico formado dentro de um modelo mercantil colonial escravocrata. Houve um impulso de investimentos nos anos 2000, mas não conseguimos fazer as reformas estruturais para termos avanços sociais”.
“Por outro lado, a elite dominante fica dentro da metrópole, centralizada, numa combinação de tecnocratas e capital imobiliário, com um descolamento do restante da região metropolitana, com fragmentos de investimentos que não se traduzem em transformações sociais. Essas cidades são muito pobres e precisamos resolver isso”, constata a conselheira federal. “Ainda temos problemas do Século XX. O porto de Suape não tem uma ferrovia – depende do transporte rodoviário com estradas deterioradas. A rodovia PE 60 é um terror e ela leva para a praia dos Carneiros, que é nosso eixo de turismo, com grandes empreendimentos turísticos. Então, a questão dos transportes é central”.
Educação é importante – mas é preciso mais
Entre os caminhos apontados, a conselheira defendeu investimentos em infraestrutura e educação, além da valorização dos ativos culturais da região. “Não basta só educar as pessoas, tem que ter postos de trabalho e saúde. A questão da infraestrutura básica e social é o primeiro ponto”, argumenta. “A questão do turismo é fundamental dentro da cidade de Recife. Olinda é uma preciosidade, mas Recife e Olinda não dialogam como deveriam. Clarice Lispector pegava um bondinho com o pai em Boa Viagem e descia em Olinda para tomar banho de mar. Por que não resgatar? Isso atrairia turistas e traria vitalidade ao centro cultural da região. Precisamos descobrir e potencializar os motores de desenvolvimento da metrópole”.
Por fim, ela fez um apelo por políticas públicas com visão de longo prazo: “Estamos em 2025 e os problemas são os mesmos do século passado. O tempo urge. Se não resolvermos agora, como estaremos em 2050?”, concluiu.