Tania Teixeira, sobre o PIB: “Economia brasileira demonstra capacidade de se reerguer”
Crescimento foi de 3,4% em 2024, impulsionado pelo consumo das famílias e pela recuperação de indústria e serviços. Mas desafios estruturais ainda exigem atenção
O Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira (07) o resultado do produto interno bruto (PIB) brasileiro, com crescimento de 3,4% em 2024. O número reflete uma recuperação dos setores de serviços (3,7%) e indústria (3,4%) e uma maior influência do consumo das famílias. O investimento também apresentou uma melhora em relação ao ano anterior.
“É um resultado muito positivo e aponta uma recuperação econômica após um período de incertezas, além de mostrar que estamos no caminho da estabilização e do fortalecimento da economia”, avaliou a presidenta do Cofecon, Tania Cristina Teixeira, destacando que as projeções de janeiro de 2024 apontavam crescimento de apenas 1,5%, segundo o Boletim Focus. “A economia brasileira demonstra a capacidade de se reerguer e se posicionar novamente como uma das maiores economias do mundo”.
Ela ressalta que a recuperação do consumo das famílias (alta de 4,8%) e a melhora nos investimentos (17% do PIB) contribuíram para o crescimento de 2024. No entanto, a economia brasileira ainda possui desafios significativos que não podem ser ignorados. “A desigualdade social continua sendo um obstáculo importante. A inclusão no mercado de trabalho, a educação e a adaptação às novas tecnologias também são questões fundamentais para que a economia brasileira se torne mais robusta e capaz de gerar crescimento de forma sustentada”, comentou a economista.
“Acreditamos que o governo e o Banco Central precisam buscar uma maior coordenação entre política fiscal, monetária e industrial, de modo a garantir que o crescimento não seja apenas um resultado pontual, mas sim uma trajetória sustentável de desenvolvimento. Reduzir a taxa de juros, por exemplo, pode ser uma medida importante para estimular investimentos produtivos e aliviar o custo do crédito para empresas e famílias”, prosseguiu a presidenta do Cofecon.
Setores: maior alta foi de serviços (3,7%)
O crescimento de 2024 foi puxado pelos setores de serviços (3,7%) e indústria (3,3%), enquanto a agropecuária teve um recuo (queda de 3,2% após uma alta superior a 16% em 2023). “O motor da recuperação tem sido a demanda interna, com o reaquecimento do consumo das famílias e a retomada das atividades presenciais”, pontuou a presidenta do Cofecon. “A adaptação às novas dinâmicas do mercado, incluindo a digitalização, também impulsiona este crescimento. No setor de serviços, informação e comunicação foi o subsetor com a alta mais expressiva do ano (6,2%)”.
Investimento: 17% do PIB
A taxa de investimentos de 2024 foi de 17,0% do PIB (contra 16,5% em 2023). Já a taxa de poupança apresentou uma queda (14,5%, contra 15% em 2023). “O aumento dos investimentos é um indicativo positivo de que o Brasil está conseguindo alocar mais recursos para a formação de capital, o que é essencial para o crescimento de longo prazo”, mencionou Tania Teixeira. “A queda na taxa de poupança levanta uma preocupação, sinalizando uma maior dependência de fontes externas de financiamento, o que pode deixar a economia mais vulnerável a choques internacionais”.
Consumo das famílias cresceu 4,8%
A despesa de consumo das famílias cresceu 4,8%, enquanto a despesa do governo cresceu 1,9%. “É um sinal positivo de recuperação da demanda interna, que tem papel fundamental na sustentação do crescimento econômico. Ele reflete uma melhora no mercado de trabalho, com aumento da massa salarial e ampliação do crédito em algumas linhas, especialmente para consumo de bens duráveis”, observa a presidenta do Cofecon. “O ideal é que haja uma combinação mais equilibrada, porque o governo tem um papel estratégico para estimular setores que nem sempre recebem investimentos privados de forma espontânea, como infraestrutura, educação e saúde. O crescimento de 1,9%, abaixo do consumo das famílias, reflete uma pressão por equilíbrio fiscal”.
Para Tania Teixeira, o contexto fiscal exerce uma influência direta sobre a renda das famílias brasileiras. “Quando o ajuste é conduzido de maneira muito rígida, tende a limitar o investimento público e a própria atuação do Estado na economia. Isso reflete no nível de emprego e na qualidade dos serviços públicos, pressionando o orçamento das famílias”, argumenta a economista. “Além disso, ajustes fiscais mais severos, combinados com políticas monetárias restritivas (com juros elevados), encarecem o crédito, dificultam o consumo e os investimentos das famílias em bens duráveis ou em melhorias na qualidade de vida”, finalizou.