Em discurso de posse, Tania Cristina Teixeira defende compromisso com a construção de um mundo digno e solidário
Primeira mulher a presidir o Cofecon, Tania destaca a importância da representatividade, da educação e da justiça social para o desenvolvimento do País.
Ao assumir a presidência do Cofecon, a economista Tania Cristina Teixeira fez um discurso emocionado sobre sua trajetória e a importância de promover mudanças no País. Ela ressaltou que sua trajetória foi marcada por superação e o apoio da educação, a qual considera essencial para a inclusão e a inovação. Ela também fez questão de homenagear as mulheres que pavimentaram o caminho para sua liderança, destacando o legado delas na luta pela diversidade e igualdade no campo da economia, e falou sobre a importância dos economistas para as políticas públicas. A fala da presidenta Tania Crisitna Teixeira pode ser assistida clicando AQUI.
Ao saudar a mesa de honra, Tania afirmou que “todas vocês retratam o esforço que é ser uma mulher economista e ter o compromisso com a mudança e a criação de um mundo em que possamos viver de forma digna e solidária”. E recordou sua trajetória: “Sou filha de uma família numerosa, sou a mais velha e tive muitas dificuldades para estudar e para romper a pobreza. A única coisa que meus pais tinham era a esperança de que todos os filhos estudariam. Todos fizemos uma faculdade e, mais do que isso, todos estudamos a vida inteira. Como professora universitária, tenho um respeito absoluto pela educação e pela formação. Sem isso, vamos estar fora de todas as possibilidades de inserção e inovação”.
Ao falar sobre sua chegada à presidência do Cofecon – sendo a primeira mulher a fazê-lo em mais de 70 anos de história da autarquia – mencionou que este caminho foi pavimentado por outras mulheres. “Elas não estão penduradas na galeria de fotos, mas tiveram um papel de suma importância para a construção e são inspiração para todos nós. Precisamos honrar o legado delas e estar à altura desta responsabilidade e, acima de tudo, abrir caminhos para que muitas outras possam trilhar trajetórias que valorizem todo o seu potencial e suas contribuições essenciais para a economia nacional e internacional”, afirmou Tania.
“Não posso deixar de pensar em outros presidentes que me antecederam, em especial o presidente Paulo Dantas, que a partir da Comissão da Mulher Economista, incluiu a Diversidade, coordenada pela conselheira Teresinha de Jesus Ferreira da Silva, que foi antecedida pela conselheira Mônica Beraldo”, recordou. “Neste ato conseguimos avançar, inclusive para pensar na questão da população negra, quilombola, LGBTQIA+ e outras minorias, que muitas vezes são maioria no nosso país, mas participam de forma muito precária dos espaços de liderança”.
Ao mencionar a importância do combate à desigualdade, Tania afirmou que “não conseguimos fazer a melhor reforma tributária, mas fizemos a reforma possível. Mas podemos pensar nela enquanto uma estratégia de desenvolvimento social, econômico e de justiça”. Defendeu também o papel dos órgãos públicos: “É muito difícil um economista pensar que vai poder prescindir do IBGE. O que é um economista sem um instituto de pesquisa que dê sustentação à sua análise? Também não podemos perder o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, não podemos perder o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, nenhuma destas instituições, porque são produto do trabalho do povo brasileiro que veio antes de nós”.
Ao abordar os conflitos internacionais, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, Tania Teixeira afirmou que os gastos militares no mundo subiram 7% em relação a 2022. “Este é um indicativo claro de que a escala militar está afetando as prioridades globais, enquanto questões essenciais como educação, alimentação, saúde, bem-estar humano e o repensado desenvolvimento visando à sustentabilidade são deixados em segundo plano”.
Tania também criticou a financeirização da economia e o fato de 3 mil pessoas concentrarem quase 15 trilhões de dólares em patrimônio. “Isso não é aceitável”, afirmou. “Eles têm retornos de 7% a 9% ao ano, enquanto a produção efetiva de bens e serviços cresce apenas 2,5% no longo prazo. Neste modelo, acumular riqueza não exige mais gerar produto ou empregos e a pobreza aumenta em igual ou maior proporção”.
A presidenta também trouxe estatísticas de gênero: 52% das mulheres ocupam funções remuneradas, contra 70% dos homens; a fome atinge 2,4 vezes mais lares chefiados por mulheres negras do que por homens brancos. “Temos que ser capazes de interpretar os dados, mas não só interpretar, mas criar políticas que inclusive possam reverter este quadro”, pontuou. “Neste sentido, nosso Conselho tem feito um trabalho relevante criando espaços para que esta discussão ocorra. Temos que contribuir para que a sociedade brasileira saia desse círculo vicioso”.
“O Bolsa-Família desempenhou um papel fundamental na redução de 85% da insegurança alimentar severa, retirando 24 milhões de brasileiros dessa situação e não é possível que programas como este possam ser questionados como aumento do gasto público. Não podemos ver o investimento na sociedade como um gasto”, prosseguiu Tania. “O Prouni beneficiou 3,4 milhões de estudantes nos últimos 20 anos e as mulheres negras e homens negros foram a maioria dos que conseguiram entrar nesta política. Por que temos que acabar com aquilo que dá certo?”
Ao falar das grandes tragédias, apontou para o pensamento no meio ambiente como algo que reforça a justiça social. “Não é só a pobreza daquele que não tem trabalho, mas a daquele que perdeu tudo e foi retirado da sua casa porque seu território foi destruído”, comentou. “Temos que ser capazes de associar um modelo produtivista, mas que permita a discussão efetiva dos direitos sociais e ambientais. Não adianta receber bolsa durante um ano se sua terra foi arrasada e a poluição acabou com a fauna, a flora e a água, que é nossa riqueza fundamental”.
Tania Teixeira também homenageou as economistas Maria da Conceição Tavares e Tania Bacelar e mencionou outras mulheres que fizeram diferença no pensamento econômico internacional, como Joan Robinson e Barbara Bergman e as ganhadoras do Prêmio Nobel de Economia Elinor Ostrom, Esther Duflo e Claudia Goldin. Também citou mulheres que tiveram influência sobre sua trajetória, como Maria Regina Nabuco, Maria Dirlene Trindade Marques (ex-conselheira do Cofecon), Luciana Acioly, Valquíria Assis e Emmanuelle Silveira.
Ao abordar a necessidade de atualização da Lei 1.411 (tramita no Congresso Nacional o PL 3.178/2024 com esta finalidade), afirmou que é preciso mostrar “para a sociedade civil, para a classe empregadora, para quem se forma e para os outros que nos observam, o que é que um economista faz. Ele tem uma gama de possibilidades de atuação, mas algumas questões estão sendo discutidas”, frisou. “Esperamos conseguir esta vitória para termos segurança jurídica e instrumentos que nos permitam maior inserção em benefício da sociedade”.
A solenidade de posse ocorreu no dia 20 de fevereiro, na Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Menções honrosas
Após o discurso de posse da presidenta, houve a entrega de homenagens para as convidadas da mesa de honra do evento, e em seguida foram entregues menções honrosas para outras autoridades. Receberam menções honrosas:
- Patrícia Sarquis Herden, Presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil
- Alcione Ribeiro de Azevedo, presidente do Conselho Federal de Biologia
- Thessa Guimarães, conselheira-presidenta do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal
- Betânia Lemos, presidenta da Escola Nacional de Administração Pública.
Confira AQUI ou no álbum abaixo as fotos do evento:
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