Copom eleva taxa básica de juros para 13,25% ao ano

Presidenta do Cofecon, Tania Cristina Teixeira, destaca que juros altos propiciam ganhos para o mercado financeiro e inibem o consumo e o investimento produtivo 

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou nesta quarta-feira (29) a taxa básica de juros para 13,25% ao ano. O aumento de um ponto percentual já era uma decisão esperada e a votação foi unânime. O colegiado ainda sinalizou, em seu comunicado, um ajuste da mesma magnitude na próxima reunião. 

No cenário externo, o Copom destaca que “os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões do mercado de trabalho”. Já no cenário doméstico, a atividade econômica e o mercado de trabalho apresentam dinamismo. A inflação de 12 meses encontra-se em 4,83% – acima do teto da meta – e as expectativas para 2025 e 2026 apontadas no último boletim Focus foram de 5,5% e 4,2%, algo que também foi mencionado no comunicado do Copom. 

“Juros elevados propiciam ganhos para o mercado financeiro e impactam o crédito, inibindo o consumo e o investimento produtivo. Isto reduz a demanda agregada e desacelera a atividade econômica”, comenta a economista Tania Cristina Teixeira.

“O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões do mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”, argumentou o Comitê. “O Copom então decidiu elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 13,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”. 

Para a presidenta do Cofecon, Tania Cristina Teixeira, o aumento da taxa básica de juros tem um impacto negativo sobre a atividade econômica. “Juros elevados propiciam ganhos para o mercado financeiro e impactam o crédito, inibindo o consumo e o investimento produtivo. Isto reduz a demanda agregada e desacelera a atividade econômica”, comenta a economista.  

Tania também observa que “há um impacto sobre as contas públicas. O gasto anual com juros já é altíssimo. A estratégia de controle da inflação via juros elevados precisa ser equilibrada com uma visão mais ampla de desenvolvimento econômico. O estímulo ao investimento produtivo é fundamental para garantir que o crescimento seja sustentável e socialmente inclusivo”. 

“É decorrente de fatores de oferta, como alimentos, cujos preços têm sido impactados internacional e domesticamente pela crise climática, bem como da recente desvalorização do real frente às demais moedas. São fatores que requerem outras medidas que não a elevação dos juros”, menciona conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda.

O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda aponta que o aumento de um ponto percentual havia sido sinalizado antes. “Já estava contratado o aumento de um ponto nesta reunião e outro na seguinte. Ainda é uma herança da gestão anterior do Banco Central”, aponta o economista. “Entendo que há um exagero nisso, pois o juro real, descontada a inflação prevista, está acima de 8% ao ano, um dos mais elevados do mundo”. 

Lacerda também menciona que grande parte da inflação recente ocorrida no Brasil não está relacionada à alta da demanda. “É decorrente de fatores de oferta, como alimentos, cujos preços têm sido impactados internacional e domesticamente pela crise climática, bem como da recente desvalorização do real frente às demais moedas. São fatores que requerem outras medidas que não a elevação dos juros”. 

Lacerda também faz uma avaliação positiva da nova gestão do Banco Central, que desde janeiro passou a ter como presidente o economista Gabriel Galípolo. “Creio que o trabalho desenvolvido tem sido bem-sucedido nesse sentido, atuando sem grande alarde no monitoramento da taxa de câmbio, de forma a amenizar os efeitos do ataque especulativo contra o real”, observa. “Isso vai diminuir um dos fatores de pressão sobre a inflação e abrir espaço, junto a outras medidas, para futuramente reduzir os juros”, finaliza Lacerda. 

Meta contínua 

O sistema de metas de inflação passa por uma alteração em 2025. Anteriormente elas eram verificadas no período de janeiro a dezembro de cada ano; a partir deste ano, a meta se refere à inflação acumulada em doze meses, apurada mês a mês, também conhecida por “meta contínua”. Caso a inflação anual medida pelo IPCA permaneça fora da meta por seis meses consecutivos, ela é considerada descumprida.  

A meta de inflação vigente é de 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Desde outubro – há três meses, portanto – a inflação encontra-se acima da margem de tolerância, e ela fechou o ano de 2024 em 4,83%. Este dado é importante porque a principal ferramenta utilizada pelo Banco Central para combater a inflação é a elevação da taxa básica de juros.  

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