“Câmara não barrar super salários é uma derrota da nação brasileira”: Lacerda analisa PEC do Corte de Gastos e seus impactos econômicos
Conselheiro federal participou da bancada do Jornal da Cultura no dia 19 de dezembro e destacou. “Do ponto de vista macroeconômico a PEC sinaliza positivamente ao atenuar a narrativa de desequilíbrio fiscal, algo que pode aliviar pressões sobre juros, câmbio e outros indicadores”
A aprovação da PEC do Corte de Gastos pela Câmara dos Deputados gerou intensos debates sobre seus reflexos econômicos e sociais. Para o economista e conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda, a medida traz consequências significativas, afetando principalmente os mais pobres enquanto mantém privilégios como os super salários. Durante sua participação no Jornal da Cultura, Lacerda também comentou questões como a instabilidade cambial, a atuação do Banco Central e o avanço de plataformas clandestinas de apostas, enfatizando a urgência de regulação e de uma postura mais responsável do legislativo para enfrentar os desafios econômicos. Clique AQUI e assista na íntegra.
PEC do corte de gastos
Para o economista, a aprovação da PEC gerou impactos que vão além do executivo e representam uma perda significativa para a população brasileira. “A derrota é mais da nação brasileira do que do governo”, afirmou, destacando que as decisões tomadas pelo legislativo mantiveram distorções que ampliam o déficit de representatividade. Ele apontou que, embora os super salários não tenham um peso significativo no ajuste fiscal, possuem um forte efeito simbólico de justiça.
Sobre as alterações no Benefício de Prestação Continuada (BPC), por exemplo, estão previstas restrições de acesso, o que Lacerda classificou como uma retirada de recursos dos mais pobres, bem como da educação e da saúde. Para ele, o legislativo deveria contribuir mais, reduzindo privilégios como super salários e emendas. Do ponto de vista macroeconômico, no entanto, Lacerda destacou que a PEC sinaliza positivamente ao atenuar a narrativa de desequilíbrio fiscal, algo que pode aliviar pressões sobre juros, câmbio e outros indicadores. “A maior parte dos países do G20 hoje é deficitária e endividada porque o Estado é chamado a atuar”, ponderou, defendendo o papel do Estado em momentos de crise.
Dólar
A instabilidade cambial no Brasil e a atuação do Banco Central foram temas abordados Lacerda, que destacou a importância de enfrentar a questão cambial no curto prazo, acima das preocupações com a dívida pública. Segundo ele, a ideia defendida por segmentos do mercado financeiro de que o desequilíbrio fiscal é o principal fator por trás da volatilidade cambial “não se sustenta à luz dos dados”.
Lacerda explicou que o cenário atual não se trata de um ataque especulativo clássico, mas de um fenômeno conhecido como arbitragem. “As posições tomadas entre o mercado à vista e o mercado futuro, especialmente envolvendo derivativos, criam profecias autorrealizáveis. Agentes econômicos que apostam no dólar futuro acabam influenciando o dólar à vista, precificando e, na prática, impactando a economia real”, disse.
O Banco Central, segundo Lacerda, tem desempenhado bem o papel de intervenção no mercado à vista, suprindo a demanda por dólares de pessoas e empresas que precisam captar recursos, além de agir para coibir especulações. “Na última semana, por exemplo, foram utilizados 21 bilhões de dólares das nossas reservas para esse tipo de atuação. Essa intervenção serve como uma ‘força de contenção’, porque nada indica que essa especulação irá persistir. A tendência é que a taxa de câmbio se acomode, e esses dólares podem retornar às reservas”, explicou.
O economista ressaltou a robustez das reservas internacionais do Brasil, atualmente em cerca de 350 bilhões de dólares, e a sua importância para evitar oscilações cambiais acentuadas. Ele também destacou os impactos da instabilidade cambial na economia. “Além da desvalorização em si, a volatilidade e a instabilidade da taxa de câmbio são extremamente prejudiciais. Isso não afeta apenas a inflação, mas também a tomada de decisão de empresas e pessoas, pois inviabiliza o cálculo econômico necessário para planejamento e investimentos.”
Bets
A crescente influência das plataformas clandestinas de apostas também foi tema de análise do economista Lacerda, e quando questionado, Lacerda destacou a urgência de fortalecer órgãos reguladores como a Anatel e o Banco Central para enfrentar a operação dessas atividades ilegais. “Com certeza, isso é fundamental. A dimensão que essas plataformas clandestinas ganharam é muito maior em comparação, por exemplo, ao tradicional jogo do bicho, que sempre existiu no período analógico”, afirmou.
Segundo Lacerda, as apostas clandestinas no meio digital atingem proporções muito mais preocupantes. “Com a digitalização, essas operações clandestinas têm bombardeado celulares e computadores com propagandas recorrentes, apresentando um pretenso ganho fácil que, na maioria das vezes, não se concretiza. Isso tem causado inúmeros problemas”, ressaltou.
Para o economista, a regulação desse setor é uma prioridade e deve incluir normas claras para propaganda e limites de atuação dessas plataformas, visando proteger a saúde financeira da população. Lacerda também defendeu uma abordagem que vá além da educação financeira tradicional. “Fala-se muito em educação financeira, o que é importante, mas eu diria que, nesse caso, precisamos ir além. É necessário promover uma educação para a cidadania, ajudando as pessoas a entenderem os riscos e a tomarem decisões mais conscientes nesse ambiente digital”, concluiu.