Lacerda, sobre mudanças na globalização: “insumo mais caro é o que você não tem” 

Em entrevista ao podcast Conversar, o economista destacou o papel do BNDES no fortalecimento da política industrial e as oportunidades do Brasil no cenário pós-pandemia 

O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda foi o entrevistado do episódio número 48 do podcast Conversar. O vídeo foi ao ar pelo canal do programa no YouTube no dia 20 de novembro e pode ser acessado clicando AQUI.

Ao abordar a importância do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a economia brasileira, Lacerda – que é assessor da presidência da instituição – mencionou que ele vem reassumindo sua função histórica. “Claro que em novas bases. Hoje o espaço para subsídio está muito limitado, em função das regras fiscais, então o Banco tem buscado ampliar suas fontes de funding para financiar e tem tido muito sucesso. Voltou a financiar a indústria, a infraestrutura e a transição ecológica”, comentou o economista. “Ele é o principal instrumento da Nova Indústria Brasil, a política industrial do governo Lula”.

O conselheiro federal também falou da recriação de vários ministérios da área econômica ainda durante a etapa de transição do governo anterior para o atual. “O Ministério da Economia, na nossa avaliação, perdeu a interlocução com os agentes econômicos e capacidade de formulação. Ainda na transição foram recriados os ministérios clássicos da Fazenda, para a questão fiscal; do Planejamento, para o médio prazo; e da Indústria e Comércio. E foi criado um quarto ministério muito importante, que é o da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos”, aponta Lacerda. “Essa nova organização conduz o papel articulador do Estado, que não se contrapõe ao setor privado; ao contrário, é complementar, como mostram as melhores experiências internacionais”.

Outra questão comentada na entrevista foi o investimento público, com um questionamento sobre o que havia levado a uma queda tão expressiva nas últimas décadas. “O governo militar teve como uma de suas heranças não benéficas o acirramento da desigualdade. A Constituição de 1988 criou um Estado social mais justo e democrático e isso tem custo. Para amenizar as mazelas do País em termos de distribuição e tudo mais, o Estado teve que assumir este papel mais relevante”, observa Lacerda. “Nos anos pós 2016 houve também o papel da Emenda 95, a Lei do Teto, cuja variável de ajuste acabava sendo o investimento público. Em 2022 chegamos ao menor nível de investimento público provocado pelas regras muito rígidas da emenda 95. Um conjunto de fatores limitou bastante a capacidade de investimento, e há ainda o custo de financiamento da dívida, que se tornou proibitivo”.

Lacerda também mencionou que o quadro para a reindustrialização do País é adverso, mas que alguns fatores colocam o Brasil no jogo: “ainda somos o maior parque industrial da América Latina e temos um mercado produtivo entre os maiores do mundo. Temos também autossuficiência energética, alimentar e hídrica”, avalia. “O cenário pós-pandêmico também trouxe uma mudança nas cadeias produtivas globais, o que nos abre oportunidades. Muitas empresas de tecnologia têm interesse em se desenvolver no Brasil. As atividades dos data centers demandam muita energia e, dentro da visão de uma transição energética e descarbonização, isso é uma vantagem para o Brasil e está no radar da neoindustrialização”.

Dentro do contexto de enfrentamento à pandemia, o paradigma da globalização reduzindo os custos tem sido revisto. “O insumo mais caro é aquele que você não tem. Tivemos a paralisação de produções mundo afora por falta de chips, fertilizantes e outros recursos. Então a primeira revisão se dá pelo conceito de custo, substituído pela segurança do fornecimento”, argumenta Lacerda. “A transferência da produção suja também tem sido revista, porque o planeta é o mesmo. E isso leva a uma reconfiguração das cadeias globais de valor. O Brasil tem muito a oferecer em todos os campos”.

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