Cofecon anuncia resultados dos prêmios Paul Singer e Mulher Transformadora
Na categoria Assessoramento de Projetos, prêmio vai para o apoio à Feira de Economia Solidária da UFMG; artigo que obteve o primeiro lugar abordou o Programa Renda Que Fica
O Cofecon divulgou nesta quinta-feira (18) o resultado do IV Prêmio Paul Singer de Boas Práticas Acadêmicas. A divulgação ocorreu num evento virtual realizado pelo Cofecon, com participação da conselheira coordenadora da Comissão de Responsabilidade Social e Economia Solidária, Elis Braga Licks, e do diretor-executivo do Instituto Paul Singer, Marcelo Justo, bem como dos premiados Sibelle Diniz, Carolina Beltrão de Medeiros, Sergio Silveira e Isabel Raposo.
Para a presidenta do Cofecon, Tania Cristina Teixeira, o prêmio Paul Singer cumpre um papel estratégico ao valorizar pesquisadoras e pesquisadores que produzem conhecimento comprometido com o interesse público. “Precisamos cada vez mais de uma economia que dialogue com a realidade brasileira e ajude a construir caminhos possíveis para um desenvolvimento mais justo”, expressou Tania.
Na ocasião, também foi anunciado o nome da ganhadora do prêmio Mulher Transformadora 2025, honraria entregue pelo Cofecon para reconhecer pessoas que contribuíram para o desenvolvimento dos campos da responsabilidade social, da economia solidária ou do empreendedorismo, impactando positivamente a sociedade ou capacitando comunidades em várias modalidades produtivas.
A transmissão pode ser assistida no player abaixo.
“Quero agradecer e parabenizar a todos os premiados e aos Corecons que incentivaram os grupos a se inscreverem – e, em especial, ao Corecon-MG e ao Corecon-PE, que nos têm auxiliado muito no tema da economia solidária”, agradeceu Elis Braga Licks, coordenadora da Comissão de Responsabilidade Social e Economia Solidária do Cofecon. “O Prêmio Paul Singer vai além do reconhecimento formal dos trabalhos acadêmicos e se consolida como instrumento de incentivo concreto para que professores e estudantes desenvolvam projetos, pesquisas e práticas extensionistas voltadas à economia solidária, aproximando as universidades dos territórios, das cooperativas, das associações e das iniciativas populares de geração de emprego e renda”.
Marcelo Justo, por sua vez, agradeceu ao Cofecon. “Quero agradecer ao Cofecon pela parceria que há desde o início da formação do Instituto Paul Singer, que nos possibilitou realizar uma parte da nossa missão e do nosso sonho de ter um Prêmio Paul Singer para economistas. Também agradeço à presidenta Tania Teixeira, faz muita diferença ter na presidência do Cofecon uma economista que conhece e defende a economia solidária”, expressou Marcelo Justo. “O Instituto Paul Singer está de portas abertas para acompanhar os trabalhos de vocês”.
Resultados
Os resultados da premiação foram:
Categoria Assessoramento de Projetos
1º Lugar (Prêmio de R$ 6.000,00): Representante do grupo: Sibelle Cornélio Diniz. Título: “Feira de Economia Popular e Solidária da FACE/UFMG”. Instituições: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, – Departamento de Economia.
Categoria Artigo Científico:
1º Lugar (Prêmio de R$ 1.000,00): Representante do grupo: Isabel Pessoa de Arruda Raposo. Título: “Programa Renda que Fica: uma integração do Programa Bolsa Família e moedas sociais”. Instituições: Fundação Joaquim Nabuco e Universidade Federal Rural de Pernambuco.
2º Lugar (Menção honrosa): Estudante: Jéssica Alves dos Santos. Título: “Inclusão e Protagonismo: Mulheres Negras no Cooperativismo da agricultura familiar da Bahia”. Instituições: Universidade Federal de Santa Maria – UFSM.
Feira de Economia Popular e Solidária
Na categoria Assessoramento de Projetos, o prêmio de R$ 6 mil foi para o trabalho desenvolvido pelo Departamento de Economia da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (FACE/UFMG) com a Feira de Economia Popular e Solidária. O grupo é liderado pela professora Sibelle Cornélio Diniz.
A Feira de Economia Popular e Solidária teve início no segundo semestre de 2014. Originalmente com periodicidade semestral, atualmente ela é realizada mensalmente, durante os períodos letivos, trazendo para dentro da universidade grupos de produtores da região metropolitana de Belo Horizonte associados à temática da economia popular e solidária, da agroecologia, da produção orgânica, do consumo responsável, da reciclagem e do comércio justo.
A comercialização é um dos principais gargalos enfrentados pela produção e a feira permite a articulação entre produtores e o público da universidade, proporcionando um espaço de ampliação do conhecimento sobre temas como economia solidária, segurança alimentar, agroecologia e comércio justo. Ao longo dos anos, a feira recebeu estudantes de diferentes cursos (Ciências Econômicas, Relações Econômicas Internacionais, Turismo, Nutrição, entre outros) em ações ligadas a disciplinas de formação em extensão universitária.
“Tive contato com a economia solidária já na minha graduação e me apaixonei, principalmente após a vivência junto aos empreendimentos solidários e a esses produtores que tanto nos ensinam no cotidiano”, expressou a professora Sibelle Diniz. “O grupo Colmeia foi criado pelos estudantes, eles se reuniram entre 2013 e 2014 e perceberam a necessidade de um trabalho com a extensão universitária, dentro da faculdade, atrelado à economia popular e solidária. Hoje recebemos mensalmente 20 a 25 grupos, que fazem a feira de economia solidária. Ela é um lugar de encontro, aprendizado e troca”.
Programa Renda Que Fica
O artigo premiado com o primeiro lugar – de autoria de Carolina Beltrão de Medeiros, Sérgio Silveira, João Romeo Maynard e Isabel Raposo – tem como tema o programa Renda Que Fica, implementado como projeto piloto nos municípios de Cardeal da Silva (BA), Indiaroba (SE), Nossa Senhora do Socorro (SE), Riachão do Dantas (SE) e São Cristóvão (SE). O modelo combina uma conversão parcial do Programa Bolsa Família em moeda social, com bônus de 10%, de forma a reduzir o vazamento de renda para fora da região e dinamizar as economias locais.
“Financiar o bônus do Programa Renda que Fica é uma decisão fiscalmente responsável. Trata-se de utilizar um pequeno percentual de investimento para qualificar o gasto social existente, transformando-o em um motor de desenvolvimento sustentável”, argumentaram os autores no artigo. No entanto, observa também que os recursos transferidos precisam encontrar condições adequadas para circular e multiplicar-se dentro do território.
Carolina participou da transmissão com o anúncio da premiação. “Nosso artigo é um relato de uma pesquisa de campo com a proposição de um programa, que é o Renda que Fica. Fomos a cinco municípios do Nordeste e descobrimos que onde há uma baixa densidade produtiva (com pequena estrutura de comércio e pouca estrutura bancária), os beneficiários recebem o benefício em outras cidades”, explica. “O Bolsa Família é um programa que reduz a pobreza, mas nessas cidades muito pequenas ele não consegue dinamizar a economia local”.
Conversando com beneficiários e operadores de moedas sociais, os autores observaram a circulação de renda dentro do território, criando um fluxo econômico de desenvolvimento. “No caso da cidade de Indiaroba, vimos atividades de incentivo ao empreendedorismo feminino”, contou Carolina. “Queremos que este programa se torne uma política social aplicada, para diminuir a vulnerabilidade e melhorar o desenvolvimento local”.
Isabel Raposo também participou da transmissão. “A economia solidária na Academia ainda encontra muita resistência. Há poucos centros que estudam isso. É uma área que precisa ser mais difundida e trabalhada”, comentou. “Um prêmio como este é fundamental no trabalho de divulgação e sensibilização deste campo. Trabalhamos com pesquisa, temos o rigor científico, mas nossa finalidade é ter um resultado de pesquisa que seja aplicado. A grande contribuição deste trabalho foi conseguir pegar uma política pública, a mais importante do País, e unir a um mecanismo de desenvolvimento territorial, que é a moeda social, com este incentivo de 10%”.
Mulheres negras no cooperativismo
As cooperativas da agricultura familiar na Bahia vêm passando por transformações importantes, mas ainda enfrentam desafios estruturais para garantir inclusão plena de gênero e raça. O trabalho apresentado por Jéssica Alves dos Santos, e contemplado com menção honrosa, aborda um estudo realizado com 30 cooperativas do estado mostrando que, embora a maior parte dos cooperados seja negra e haja presença de mulheres em cargos de gestão (incluindo presidências e vice-presidências), a participação masculina ainda predomina, especialmente nos espaços de maior poder decisório.
As mulheres representam 39,5% dos cooperados e estão sub-representadas na direção financeira e em outras funções estratégicas. Quando chegam às posições de liderança, sobretudo mulheres negras, isso ocorre muitas vezes graças à educação, engajamento político e redes comunitárias de apoio (elementos identificados como decisivos para romper barreiras históricas). No entanto, ainda há um longo caminho para que estes espaços reflitam, de fato, os princípios de igualdade e justiça social que fundamentam o cooperativismo.
