Podcast Economistas: Potencialidades do Brasil na área da saúde

Terceiro e último episódio da série sobre o complexo econômico e industrial da saúde aborda campos em que o Brasil se destaca

Está no ar mais um episódio do podcast Economistas! Nesta semana temos o terceiro e último episódio sobre o complexo econômico e industrial da saúde, com participação do economista Carlos Gadelha. Nesta ocasião falamos sobre as potencialidades do Brasil nesta área. O podcast pode ser ouvido na sua plataforma favorita ou no player abaixo – e no fim da matéria você encontra os links para os outros dois episódios da série.

Quando falamos em saúde, muitas vezes pensamos apenas no direito fundamental de acesso a serviços de qualidade. Mas há outro aspecto que precisa ser incluído na agenda econômica do país, que é a saúde como vetor de desenvolvimento. O complexo econômico e industrial envolve diversas áreas, que vão desde a produção de medicamentos até a inteligência artificial aplicada à medicina. O setor é estratégico para gerar empregos de alta qualificação. E no centro da engrenagem está a inovação. Ela pode impulsionar a economia e gerar novas cadeias produtivas.

“Se olharmos hoje o tratamento de câncer e de doenças raras, mesmo aquelas negligenciadas como Chagas e malária, todo este campo depende de tecnologias ultra-avançadas e ultrassofisticadas, não apenas para tratamento, mas também para prevenção”, comenta Gadelha. “Se eu tenho inteligência artificial (IA) e o uso de grandes bases de dados que permitem ver por que é que as pessoas procuram o Sistema Único de Saúde (SUS) em determinada localidade, isso pode ser um indicador do surgimento de uma epidemia ou pandemia de uma doença transmissível. O campo das novas terapias genéticas, da IA, do big data, é altamente importante e decisivo. Não se faz mais saúde pública sem essas bases de conhecimento”.

Transição demográfica como impulso à demanda

O Brasil vem vivendo um período de transição demográfica, em que a média de idade da população vem crescendo com o tempo. Isso significa uma demanda maior por determinados serviços de saúde que envolvem o uso de tecnologia. Além disso, o aumento da longevidade impulsiona a busca por uma velhice com qualidade de vida. Gadelha vê no setor da saúde um motor importante de investimentos no século 21.

“A saúde não é uma área em que a gente resolve os problemas e depois encolhe o investimento e a inovação. Quando trato o câncer de uma pessoa com novas terapias genéticas e a curo, em vez de ela morrer aos 40 anos, ela vai viver até os 80, 90 ou talvez 100, e vai demandar novas tecnologias e serviços de saúde”, explica o economista.

“A dinâmica do gasto em saúde se apresenta como caminho para o avanço da inovação tecnológica, o que ao mesmo tempo traz uma melhor qualidade de vida, mas também puxa mais inovação”, prossegue Gadelha. “Quanto mais eu consigo viver com qualidade, mais ainda eu vou precisar de tecnologias de prevenção, que permitam promover a saúde, de biotecnologia para vacinas, câncer e novas doenças. Então, unimos a dinâmica social e econômica com a própria dinâmica de inovação da saúde”.

Brasil já se destaca em alguns setores

Existem setores dentro do complexo econômico e industrial da saúde nos quais o Brasil já se destaca. Um deles é o campo das vacinas: durante a pandemia institutos brasileiros firmaram parcerias com empresas internacionais para produzir e distribuir vacinas dentro do nosso país. Mas o potencial do nosso país vai muito além. “O Brasil claramente tem uma proficiência no campo das vacinas e da formulação final de medicamentos. Conseguiu se mover para tecnologias de fronteira, inclusive no campo da biotecnologia”, aponta Gadelha.

“No primeiro governo Lula, quando pude colaborar na Fiocruz, e no governo Dilma, quando fui secretário, o Brasil viabilizou o que seria impensável: investimentos em moderna biotecnologia”, comenta. “Visitei algumas plantas produtivas que eram terrenos baldios no Rio, com alguns pesquisadores e empresários querendo investir em parceria com o setor público. O que parecia ser um sonho, o Brasil conseguiu colocar em pé na área pública e privada. Hoje, com um conjunto de dez plantas industriais, o Brasil voltou a produzir insulina e começou a produzir medicamentos biotecnológicos e imunoterápicos”.

SUS como principal potencialidade

Dentro da visão de que o aspecto social deve dirigir a política industrial, um dos pontos fortes do Brasil reside na possibilidade de atender às demandas do SUS. “É possível dar essa garantia de mercado de 10 anos para produtos que sejam essenciais para o SUS, e criar uma estabilidade institucional para que gestores honestos e empreendedores possam fazer seu trabalho. Talvez nossa grande potencialidade seja o nosso Sistema Único de Saúde”, argumenta o economista.

“No campo dos hemoderivados, a Hemobrás nasceu e ela inaugurou uma planta de engenharia genética no sertão brasileiro. A transferência de tecnologia foi concluída. Vai ser inaugurado o projeto de processamento de plasma, gerando valor e inovação tecnológica e cuidando das pessoas que têm hemofilia e doenças ligadas aos fatores de coagulação sanguínea”, comemora.

Gadelha mencionou que o SUS precisa ser defendido e ampliado e que ainda é bastante subfinanciado no nosso país. “O SUS é o sistema universal de saúde mais subfinanciado do mundo, com 4% do PIB. O mínimo dos sistemas universais é 7%. Na Alemanha, França, Reino Unido e até nos Estados Unidos chega a 9%. O SUS é a grande janela de oportunidades para o complexo econômico e industrial da saúde e para o desenvolvimento produtivo e tecnológico da saúde no Brasil”, afirma.

Carlos Gadelha

Carlos Gadelha é graduado e doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestre pela Universidade Estadual de Campinas. Foi vice-presidente da Fundação Oswaldo Cruz e tem uma vasta trajetória como pesquisador e docente. No setor público, atuou como secretário de Desenvolvimento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo Econômico e Industrial da Saúde no Ministério da Saúde. Atualmente coordena uma rede de pesquisa sobre desenvolvimento sustentável, ciência, tecnologia, inovação e o complexo econômico industrial da saúde, com mais de 45 pesquisadores de 10 instituições.

Episódios anteriores

Clique AQUI (https://cofecon.org.br/cofecon/?p=25918) para ouvir o primeiro episódio da série, no qual ele aborda a importância do setor e os desafios frente às tarifas de Trump. Ouça também o segundo AQUI (https://cofecon.org.br/cofecon/?p=26219), no qual ele fala sobre a importância de o país ter soberania na área da saúde.


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