XXVI CBE: Gênero, diversidade e desenvolvimento sustentável

Especialistas destacam a urgência de integrar justiça de gênero, cuidado e sustentabilidade ambiental nas políticas econômicas e urbanas

O conceito de desenvolvimento sustentável, formulado nos anos 1970, continua sendo um desafio para o mundo contemporâneo. Para economistas como Marilane Oliveira Teixeira e Janine Alves, repensar crescimento econômico significa ir além do PIB, incorporando a igualdade de gênero, a justiça social e a sustentabilidade ambiental. As especialistas alertam que a crise climática não é neutra e reforçam a importância de políticas públicas e planejamento urbano que reconheçam o valor do trabalho de cuidado e protejam as populações mais vulneráveis, promovendo um desenvolvimento verdadeiramente inclusivo e sustentável.

A economista Marilane Oliveira Teixeira destacou que o conceito de desenvolvimento sustentável, criado nos anos 1970, precisa ser constantemente revisitado. “Alcançar o desenvolvimento sustentável é um grande desafio. Questionar o conceito de crescimento econômico, supostamente baseado apenas na expansão do PIB, é absolutamente necessário, mas construir outra perspectiva é difícil, sobretudo dentro dos limites do capitalismo”, afirmou.

Marilane destaca que a economia feminista oferece esse novo olhar. “A formulação da economia feminista parte de uma crítica profunda ao paradigma econômico dominante, centrado no PIB e na racionalidade do mercado. Propõe redefinir o conceito de desenvolvimento incorporando igualdade de gênero, justiça social, cuidado e sustentabilidade ambiental como dimensões interdependentes”, explicou.

Ela defendeu, ainda, a sustentabilidade da vida como conceito central, reunindo a preservação dos recursos naturais e o reconhecimento do trabalho de cuidado. “Sustentabilidade não é apenas ambiental, mas também social e reprodutiva. É preciso reconhecer o trabalho de cuidado e integrá-lo às contas nacionais, criando indicadores que reflitam o bem-estar e não apenas o crescimento econômico”, afirmou.

A economista Janine Alves, vice-presidente do Corecon-SC, trouxe um alerta contundente: a crise climática amplia as desigualdades de gênero. “A crise climática não é neutra em termos de gênero. Mulheres e meninas estão entre as mais impactadas”, afirmou, trazendo dados que revelam que 80% das pessoas deslocadas por eventos climáticos são mulheres e que elas têm 14 vezes mais risco de morrer em desastres ambientais. “Durante ondas de calor, os casos de feminicídio aumentam 28%. Até o fim do século, a mudança climática poderá estar ligada a um em cada quatro casos de violência doméstica”, relatou.

Segundo Janine, 94% dos municípios brasileiros ainda não incorporam estratégias de prevenção de desastres em seus planos diretores. “Os prefeitos e vereadores precisam compreender que o planejamento urbano é uma ferramenta de justiça climática. Quem não cuida do meio ambiente não está cuidando da vida das pessoas nem do desenvolvimento econômico”, afirmou.

XXVI Congresso Brasileiro de Economia 

O Congresso Brasileiro de Economia ocorreu de 06 a 10 de outubro no Plaza São Rafael Hotel, em Porto Alegre, com o tema “Desenvolvimento Sustentável: Reconstrução, Desafios e Oportunidades”. O evento reuniu cerca de 50 especialistas e 500 participantes (online e presencial) em torno de grandes temas que impactam o futuro do país, como reforma tributária, mudanças climáticas, comércio internacional, agronegócio, desigualdades regionais, inovação, economia comportamental, educação financeira e o papel do Estado na neoindustrialização. A promoção foi do Cofecon, em parceria com o Corecon/RS. 

O evento contou com o patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Vero/Banrisul, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Monte Bravo Investimentos, Conselhos Regionais de Economia de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro. 

Share this Post