Faculdades de Ciências Econômicas no Estado da Bahia: relevância, desafios e hipóteses de parcerias com o Conselho Regional de Economia
Artigo de opinião da presidenta do Corecon-BA, Econ. Isabel de Cássia Santos Ribeiro*, publicado originalmente no portal ABED Bahia (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia)
O objetivo deste artigo é analisar a importância das faculdades públicas de Ciências Econômicas no Estado da Bahia, suas contribuições para a formação e inserção de profissionais no mercado de trabalho, e seus atuais desafios, propondo alternativas entre o Conselho Federal de Economia (Cofecon) e o Conselho Regional de Economia do Estado da Bahia (Corecon-BA) para, ao menos, mitigar esses atuais desafios.
As Faculdades de Ciências Econômicas possuem um papel essencial na formação de profissionais capacitados a compreender e intervir nos processos econômicos que moldam a sociedade. Na Bahia, esse papel se torna ainda mais relevante diante das desigualdades regionais e da necessidade de desenvolvimento socioeconômico sustentável. A escolha por abordar a situação das Faculdades Públicas de Ciências Econômicas da Bahia se justifica por sua contribuição estratégica na formação de quadros técnicos qualificados para o setor público e privado.
O estado da Bahia abriga importantes instituições públicas que oferecem o curso de Ciências Econômicas, entre elas: Universidade Federal da Bahia (UFBA) – Salvador, Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) – Feira de Santana, Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) – Ilhéus e Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) – Vitória da Conquista. Essas instituições desempenham um papel formativo crucial, especialmente no interior do estado, promovendo não apenas o ensino, mas também pesquisa e extensão, com foco em políticas públicas, planejamento regional, combate à pobreza e sustentabilidade. Elas oferecem ensino de qualidade gratuito, promovem a democratização do conhecimento e ajudam a combater as desigualdades históricas regionais da Bahia.
A grade curricular do curso de Ciências Econômicas inclui disciplinas como: Macroeconomia e Microeconomia, Econometria e Estatística, Finanças Públicas, História Econômica, Planejamento Econômico. Economia Regional e Urbana. Essas disciplinas proporcionam ao estudante um conjunto robusto de ferramentas analíticas e quantitativas que permitem atuação em diversas áreas do mercado de trabalho.
No setor público, o economista pode atuar como analista de políticas públicas, técnico em planejamento, gestor orçamentário, entre outros. No setor privado, as áreas de consultoria, análise de investimentos, planejamento estratégico, pericias econômicas, finanças corporativas e logística oferecem amplas oportunidades de colocação. Além disso, a interdisciplinaridade com áreas como administração, contabilidade e ciências sociais amplia a versatilidade do profissional, tornando-o apto a ocupar funções diversas em empresas, instituições financeiras, ONGs e organismos internacionais. Há também oportunidades na Academia e Pesquisa: carreira acadêmica como professor e pesquisador, e até mesmo no Empreendedorismo: Startups e Negócios Próprios, aplicando conhecimentos econômicos para criar e gerir novos negócios, identificando oportunidades de mercado e estratégias de crescimento.
Apesar da importância e contribuições dessas faculdades para formação dos profissionais economistas, elas enfrentam alguns desafios para atrair novos ingressantes e levá-los e conclusão dos cursos, entre as quais se podem citar:
- Concorrência com outas graduações: nos últimos anos, o curso de Ciências Econômicas tem enfrentado forte concorrência de outras graduações, muitas vezes vistas como mais promissoras em termos de empregabilidade e retorno financeiro. Os principais concorrentes incluem: Administração; Contabilidade; Engenharia; Relações Internacionais e Ciências Sociais. Com uma abordagem interdisciplinar, esses cursos atraem alunos interessados em política e desenvolvimento, competindo com o perfil dos estudantes de Economia.
- Dificuldades para Atrair Alunos, pelas seguintes razões: Falta de perspectiva de ganhos: muitos jovens não veem a educação superior como uma garantia de emprego ou de bons salários, o que desmotiva a busca por cursos universitários; Custos e Acessibilidade: Os custos associados à educação superior, incluindo, transporte e materiais, são altos, especialmente para estudantes de baixa renda; Relevância do Currículo: A percepção de que os currículos acadêmicos não são suficientemente relevantes para o mercado de trabalho atual pode afastar potenciais ingressantes
- Dificuldades para Manter Alunos: Alta Taxa de Desistência: a Bahia tem uma das maiores taxas de desistência no ensino superior do país, com mais da metade dos estudantes abandonando os cursos antes de concluir; Falta de Políticas de Permanência: A falta de programas robustos de apoio à permanência, como bolsas de estudo, auxílio transporte e acesso a tecnologias, dificulta a continuidade dos estudos; Desafios Logísticos: Estudantes que moram longe das instituições enfrentam dificuldades com transporte e horários, o que pode levar à desistência.
- Cortes Orçamentários: A partir de 2016, especialmente após a aprovação da Emenda Constitucional nº 95/2016 (Teto de Gastos), as universidades federais e estaduais passaram a sofrer sucessivos cortes orçamentários. Esses cortes têm implicado em: Redução de bolsas de pesquisa e extensão; Diminuição na oferta de disciplinas e turmas; Precarização das condições de trabalho docente; Atrasos em obras de infraestrutura; Aumento da evasão estudantil, especialmente no interior. Essas dificuldades comprometem não apenas a qualidade do ensino, mas também a capacidade das instituições públicas de cumprir seu papel de agentes do desenvolvimento regional.
- Dificuldades para captação de recursos: é provável que os impactos das restrições orçamentárias, causadas por cortes e contingenciamentos criem dificuldades para as faculdades implementarem estratégias de captação de recursos junto a iniciativa pública e privada, no âmbito nacional e até mesmo internacional. Além disso, a ampliação de custos operacionais, devido ao crescimento das universidades, não é acompanhada por aumentos proporcionais nos repasses orçamentários, observando-se, também, atrasos no envio de recursos financeiros e inviabilidade de precisão na execução orçamentária.
Diante das dificuldades enfrentadas, é necessário buscar alternativas para garantir a continuidade e qualidade do ensino nas faculdades de Economia. Algumas estratégias possíveis incluem: Ampliação de parcerias institucionais com empresas, organizações não governamentais e governos locais, que podem financiar projetos de extensão, estágios e pesquisa aplicada; Captação de recursos externos por meio de editais de fomento, inclusive internacionais; Inovação no uso de tecnologias de ensino que complementem o ensino presencial sem comprometer sua qualidade; Fortalecimento dos egressos, criando redes de ex-alunos que possam contribuir com projetos, palestras e mentoria.
Nesse cenário, embora de maneira relativamente tímida, Cofecon e o Corecon-Ba podem promover alianças com o corpo docente e discente das faculdades de economia no estado da Bahia, para, dentre outras iniciativas: Promover eventos e seminários sobre os desafios do ensino e do mercado de trabalho na Bahia; Incentivar programas de capacitação e certificação profissional para estudantes e recém-formados; Intermediar parcerias com órgãos públicos e empresas privadas que possam gerar oportunidades para os alunos; Apoiar ações de valorização da carreira de economista por meio de campanhas e prêmios acadêmicos; Oferecer apoio técnico e institucional na formulação de políticas públicas baseadas em evidências econômicas.
Por fim, as faculdades de Ciências Econômicas públicas na Bahia são peças-chave para o desenvolvimento regional e a formação de profissionais capacitados a enfrentar os desafios econômicos locais e globais. Apesar das dificuldades em atrair e manter novos ingressantes, crescente concorrência de outras graduações e dos graves problemas decorrentes dos cortes orçamentários, essas instituições mantêm-se como referência em ensino e produção de conhecimento. Para garantir sua sustentabilidade e ampliar sua relevância, é necessário: Reforçar o papel estratégico das instituições públicas no interior do estado; Investir na formação técnica e crítica dos estudantes, com foco no mercado de trabalho; Buscar parcerias e fontes alternativas de financiamento; Fortalecer a articulação com os conselhos profissionais, como o Cofecon e o Corecon-Ba; Valorizar o papel do economista como agente de transformação social. Com ações coordenadas, planejamento estratégico e valorização institucional, é possível superar os desafios atuais e fortalecer o ensino de Economia na Bahia.
Referências
Instituto Semesp. Mapa do Ensino Superior no Brasil: 15ª edição. 2 São Paulo: Instituto Semesp, 2025. 3 Disponível em: chrome- https://www.semesp.org.br/mapa/edicao-14/. Acesso em: 18/04/2025.
SOUZA, Cláudio Said Barros de; SOUSA, Jean Carlos da Silva; NETO, Alexandre Rabêlo. Planejamento Estratégico nas Universidades Federais do Nordeste Brasileiro: Uma Análise em Contexto de Cortes Orçamentários. IX Encontro de Administração Pública da ANPAD VI – EnAPG 2022, On-line, 30 maio 2022. Disponível em: chrome-extension: //efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://anpad.com.br/uploads/articles/119/approve d/22785dd2577be2ce28ef79febe80db10.pdf. Acesso 18/04/2025
*Presidenta do Conselho Regional de Economia no Estado da Bahia e gerente da Unidade de Planejamento Estratégico do Sebrae Bahia