Cofecon entrega Prêmio Paul Singer de Boas Práticas Acadêmicas

Foram distribuídos R$ 10 mil em prêmios a iniciativas de segurança alimentar e nutricional, assessoramento a atividades de moradores de rua e atividades numa cadeia pública feminina

Segurança alimentar e nutricional, assessoramento para atividades econômicas de moradores de rua e atividades de economia solidária dentro de uma cadeia pública feminina. Estes foram os temas dos trabalhos que receberam o primeiro lugar em suas respectivas categorias no III Prêmio Paul Singer de Boas Práticas Acadêmicas, cuja entrega ocorreu nesta quinta-feira (20), em Brasília, durante a solenidade de posse da nova diretoria do Cofecon.  

Confira AQUI as fotos do evento.

Implantação de Projetos 

Na categoria implantação de projetos, o prêmio de R$ 3 mil foi para Marcio Carneiro dos Reis, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Na solenidade ele esteve acompanhado do reitor da instituição, Marcelo Pereira de Andrade. O grupo liderado por Marcio desenvolveu o programa de extensão “Diálogos de saberes e práticas para a promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional como estratégia de desenvolvimento no território Vertentes em Minas Gerais”. A área de atuação abrange as microrregiões de Conselheiro Lafaiete, Barbacena e São João del-Rei, reunindo 50 municípios.   

A intenção do programa é fortalecer os laços entre indivíduos e instituições, a agroecologia e a economia solidária no território, melhorando a saúde individual e coletiva, fomentando o desenvolvimento rural, urbano e regional e o fortalecimento de mercados de proximidade e construindo espaços de diálogo entre movimentos de economia solidária e a sociedade civil em geral. 

“Desenvolvemos e apoiamos iniciativas que levam alimentos saudáveis para as pessoas em situação de fome e desnutrição crônica, geralmente mulheres grávidas ou com filhos pequenos ou ainda em situação de violência doméstica”, conta Marcio. “Também desenvolvemos e apoiamos ações que fortalecem mercados de proximidade e circuitos curtos de comércio, em geral, de Economia Popular Solidária e de produtos agroecológicos, ambientalmente sustentáveis e culturalmente adequados”. 

Marcio e seu grupo também participam de fóruns sobre desenvolvimento territorial, trazendo resultados de pesquisas e discussões que ocorrem no âmbito das disciplinas ministradas na universidade. Além das parcerias com pesquisadores, ele traz outros resultados do programa, como a realização de dois cursos de extensão, a articulação para envios de cestas de produtos agroecológicos para 14 famílias de catadores de resíduos, o apoio a hortas comunitárias e marmitas solidárias, o envio de propostas a prefeituras e câmaras municipais, publicações diversas e a realização de um seminário, disponível para visualização no YouTube

Assessoramento de Projetos 

Durante a pandemia de Covid-19 a Associação Pastoral Nacional Povo da Rua criou o Canto da Rua Emergencial na Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte, para oferecer abrigo, alimentação e apoio a pessoas em situação de rua. Neste espaço surgiram algumas iniciativas de economia solidária, como o grupo Pop Limp, dedicado à produção de produtos de limpeza; o grupo de produção alimentícia, formalizado como Cooperativa de Trabalho Solidária Sabor do Canto (COTRASSB); e o grupo Estampa Rua, focado na confecção de bolsas, costura criativa e itens artesanais.   

O trabalho de assessoramento, desenvolvido pelo grupo liderado por Karen Munhoz de Oliveira, recebeu o prêmio de R$ 6 mil e conta com apoio da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Os resultados são visíveis: o Pop Limp consolidou-se ampliando suas atividades e alcance de mercado. A produção artesanal e a solidariedade interna do grupo têm sido reconhecidas como fatores cruciais para o êxito. A COTRASSB também é considerada um caso de sucesso: os cooperados já não vivem nas ruas, mas possuem sua própria moradia. 

“O que mais me realiza é ver a economia solidária transformar vidas de maneira concreta. Trabalhar com pessoas em situação de rua me permite testemunhar como o acesso a oportunidades de geração de renda fortalece a autonomia das pessoas e resgata sua dignidade”, conta Karen. “A economia solidária não é apenas um modelo econômico, mas uma forma de resistência e inclusão, em que cada sujeito é protagonista da sua própria história. Saber que o trabalho que desenvolvo pode criar alternativas sustentáveis e ampliar perspectivas de vida para quem está em extrema vulnerabilidade me motiva todos os dias”. 

Em relação ao reconhecimento que o Prêmio Paul Singer traz à iniciativa, Karen comenta que ele “demonstra que as alternativas construídas junto as pessoas em situação ou trajetória de rua são legítimas e eficazes, e isso reforça o compromisso de seguir lutando por um modelo econômico mais justo e humano. Como pesquisadora e mestranda dedicada ao estudo da economia solidária, vejo esse reconhecimento como um incentivo ao aprofundamento das pesquisas e à construção de conhecimento acadêmico conectado com a realidade e as necessidades das comunidades. Ele reafirma a importância de produzir ciência comprometida com a transformação social, mostrando que é possível unir teoria e prática para fortalecer iniciativas de base popular”. 

Artigo Científico 

O artigo “Práticas de Economia Solidária na Cadeia Pública Feminina de Londrina: Uma possibilidade de (re)começo”, apresentado por Taila Angélica Aparecida da Silva, foi o grande vencedor desta categoria. O texto aborda as atividades realizadas em parceria com o Programa Municipal de Economia Solidária e a Cáritas Arquidiocesana de Londrina, proporcionando a estas mulheres o desenvolvimento de uma atividade que gera renda, reduzindo a reincidência criminal e permitindo a elas um novo começo.  

“Trabalhar com economia solidária com mulheres privadas de liberdade vai muito além da perspectiva do trabalho e geração de renda. Traz a esperança de um recomeço com dignidade”, expressa Taila. “Em sua maioria, elas estão presas por tráfico ou associação e são mulheres com vidas sofridas desde a infância, marcadas por agressões, abusos sexuais, pobreza, grande parte delas cresceram sem a figura paterna, tendo a mãe ou a avó como alicerce, e foram levadas ao crime por parceiros amorosos”. 

Taila também destaca a solidão que existe dentro de uma penitenciária feminina. “Ao contrário das cadeias masculinas, com filas imensas nos dias de visitas, o abandono das mulheres é uma realidade em todas as prisões femininas. Estima-se que apenas 20% delas recebam visitas ou tenham algum contato com a família”, conta. “O prêmio é extremamente importante, significa que estamos fazendo um bom trabalho, é um reconhecimento e dá visibilidade ao nosso projeto. Quem sabe nós possamos ver mais iniciativas como esta Brasil afora com mulheres privadas de liberdade”. 

Confira, abaixo, as fotos do evento:

Solenidade de Posse - Nova diretoria Cofecon 2025
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