Lacerda comenta guerra comercial: “Brasil deve agir pragmaticamente”
Conselheiro federal participou da bancada do Jornal da Cultura no dia 04 de fevereiro e, além da guerra comercial, abordou o orçamento federal e a atividade econômica em meio à alta dos juros
Guerra comercial com a China, inflação e orçamento federal. Estes foram os principais assuntos comentados pelo conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda, que esteve na última terça-feira (04) na bancada do Jornal da Cultura comentando as matérias veiculadas no noticiário televisivo.
Uma matéria sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e China abordou medidas protecionistas ao longo da história. “Atualizando um pouco a excelente linha do tempo que foi mostrada na matéria, nós tivemos a crise de 1929, depois a Segunda Guerra Mundial e houve o acordo geral de tarifas, cuja sigla em inglês é GATT. Este acordo procurava estabelecer regras gerais de funcionamento do comércio”, explicou o economista. “Depois, em 1995, já sob a égide da globalização, foi criada a Organização Mundial do Comércio – que, como a matéria também muito bem mostrou, está um tanto de mãos atadas, porque os próprios Estados Unidos não estão nomeando juízes que deveriam fazer parte deste papel. Entre a guerra comercial e a guerra de investimentos, existem vários interesses em jogo. Como lembrou o Luiz Carlos Prado (ex-presidente do Cofecon), esta é uma tática de negociação e pode trazer dificuldade para todos os países”.
E de que maneira essa guerra comercial pode respingar no Brasil? “O Brasil tem uma balança relativamente equilibrada com os Estados unidos. A matéria mostrou inclusive que esta situação tem impactado positivamente a cotação do dólar no mercado doméstico. Este conjunto de incertezas nos impacta, não só com as questões do comércio, mas do próprio crescimento econômico e inflação”, aponta Lacerda. “É impossível que o Brasil escape ileso, não só na parte comercial, mas também dos investimentos estrangeiros e da tecnologia. O que o Brasil precisa fazer, e isso de certa forma tem sido feito, é agir pragmaticamente e se posicionar de forma correta. O Itamaraty está bem-preparado para isso e os ministérios da área econômica estão atentos”.
A ata da reunião do Copom também foi tema de uma matéria veiculada no noticiário. A taxa de juros foi elevada de 12,25% para 13,25% ao ano na última semana. “Pode dificultar a expansão da economia. Vamos lembrar que ela cresceu muito acima do que o mercado previa nos últimos dois anos. Então temos uma economia aquecida, mas que na visão do Banco Central e do Ministério da Fazenda deve refluir um pouco e diminuir seu crescimento”, observou Lacerda. “Não é o ideal, mas é o possível. Não há apenas fatores de demanda influenciando a inflação. Quando falamos de preços dos alimentos e aumento ou diminuição da safra, são questões de oferta, não de demanda. De qualquer forma, o cenário de menor pressão sobre a inflação estará dado. O governo também pode atuar com medidas de médio e longo prazo – por exemplo, a retomada dos estoques reguladores, ou um certo controle sobre os oligopólios”.
O orçamento federal de 2025 – que deveria ter sido aprovado em dezembro, antes do recesso parlamentar – somente será analisado depois do carnaval. “Passada a eleição para a presidência da Câmara e do Senado, tudo isso deverá ser tratado. Quando você reajusta o salário mínimo há mais gastos, porque influi na previdência. Se desonerar o imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e não conseguir tributar os super ricos, é claro que isso afeta negativamente os recursos”, argumenta Lacerda. “Mas é importante salientar que do ponto de vista macroeconômico, além de um aspecto social que por si só se justifica, que é a maior distribuição de renda, há um impacto positivo, porque este recurso vai ser usado na compra de medicamentos, alimentos, roupas, consumo do dia a dia, que também gera arrecadação do outro lado”.