Lacerda participa do programa Conversando com Economistas

Conselheiro federal analisou o cenário econômico atual, destacou a importância das entidades representativas e compartilhou sua trajetória

O conselheiro federal Antonio Corrêa de Lacerda foi o entrevistado do episódio número 67 do programa Conversando com Economistas.  A entrevista foi ao ar nesta quinta-feira (24) pelo canal da TV Economista no YouTube (clique AQUI para acessar). Lacerda abordou sua trajetória, a importância das instituições de economistas e o momento econômico atual.

“Fui estudar economia e me apaixonei pela profissão. Fui, durante muitos anos, economista-chefe e diretor de economia em empresas, principalmente indústrias e entidades representativas destas indústrias, como Fiesp, Abinee e Abdib”, contou o economista. “O professor José Maria Arbex, da PUC/SP, nos incentivou a conhecer o Corecon, e inclusive ele chegou a presidente do Cofecon. Mais tarde eu participei das entidades e considero que são fundamentais para a profissão e para o País. Temos a contribuição de mostrar para a sociedade, com a nossa especialidade, que não existe um caminho único”.

Sobre o momento da economia brasileira, Lacerda comentou que tem surpreendido favoravelmente. “Ano passado as projeções do boletim Focus, em janeiro, apontavam um crescimento inferior a 1%. Elas foram revistas e o resultado chegou a quase 3%. No início deste ano elas apontavam 1,5% e já há projeções acima de 3%”, observou Lacerda. E por que há distorções? “Muitas vezes os modelos utilizados nessas projeções estão defasados. Segundo, elas nem sempre captam as transformações em curso. Está sendo feito um trabalho de resgate das funções do Ministério da Fazenda e tudo isso tem gerado medidas positivas, mas nem sempre os resultados são mensuráveis, menos ainda no curto prazo”.

O ex-presidente do Cofecon cita três programas estruturantes (Nova Indústria Barsil, Plano de Transição Ecológica e Novo Programa de Aceleração do Crescimento) que conduzem várias políticas implementadas no sentido de fortalecer a estrutura da economia brasileira. “E outro braço importante são os programas sociais. O fortalecimento do Bolsa-Família, a retomada da política de valorização do salário mínimo e os demais programas”, comentou. “Eles muitas vezes surpreendem os economistas que estão presos à análise de conjuntura. Ela é necessária, mas precisa ser complementada com a análise da estrutura econômica”.

O próximo ano será algumas dificuldades para a economia. “Temos um desafio triplo: vivemos o cenário pós-pandemia, a crise climática e os conflitos geopolíticos, que afetam não só a região, mas a logística global e as migrações”,a ponta Lacerda. “É preciso repensar o que está em curso no processo de relocalização da economia global. O Brasil tem desafios e oportunidades, porque é o país que tem a matriz energética mais limpa do mundo, com 50% de fontes renováveis (hídrica, solar, eólica e biomassa), contra uma média mundial de 15%. Isso nos dá uma condição favorável, mas o Brasil também é um jogador importante na geração de energia fóssil”.

O Banco Central terá um novo presidente em 2025. “Conheço bem o Galípolo, tive a satisfação de ser professor dele e depois colega. Ele foi professor da PUC/SP, tem uma visão pluralista e muito pragmática da economia, e um desempenho importante no mercado”, comentou. “Apesar da sua relativa pouca idade, levará uma experiência inovadora e, junto com a sua diretoria, poderá aprimorar os instrumentos de política monetária como um todo. Vejo uma economia em crescimento, com inflação sob controle e juros mais baixos em 2025”.

O conselheiro federal também abordou a importância das entidades representativas dos economistas e fez uma comparação com a área da saúde. “Nós observamos recentemente, em outra área, uma falha regulatória que levou ao transplante de órgãos infectados por HIV. Profissionais não habilitados assinaram o laudo falso. Este é um bom exemplo do papel das entidades representativas das profissões, regulando e monitorando os profissionais habilitados”, argumentou Lacerda. “Na área econômica temos um segundo papel relevante, que é oferecer à sociedade alternativas e avaliações das medidas econômicas. A Comissão de Conjuntura do Corecon-SP exerce esta função. Existem várias visões de mundo a partir da economia, todas elas legítimas, mas muitas vezes é passada para a opinião pública a visão de que há um único caminho. Todas as decisões são políticas. A solução é técnica, mas é a política quem define os rumos”.

Por último, o economista deixou um recado aos estudantes: “Conhecer uma área de estudo como a economia exige muita leitura e interação com os professores. Aproveitem ao máximo o que eles podem transmitir. Não existe matéria mais ou menos importante, elas formam o todo, e o curso é bastante plural e diversificado”, opinou. “Para ser um bom economista, você precisa conhecer teoria econômica, história do pensamento econômico, história econômica, métodos quantitativos e cultura da economia. A economia tem profissões correlatas que são importantes, mas o economista se diferencia por uma capacidade analítica baseada na história e na teoria que pode fazer a diferença”.