SINCE 2024: Grupo debate a formação e atuação dos economistas em setores importantes do mercado de trabalho

Evasão e diretrizes curriculares, isonomia de tratamento a profissionais, educação financeira e certificação por especialidade profissional foram os principais temas de debate

Diretrizes do curso de Ciências Econômicas e atuação do economista na docência, no mercado financeiro, no setor público, no meio ambiente e na perícia. Estes foram os principais temas debatidos, nos dias 17 e 18 de outubro, dentro do Grupo de Trabalho 1 no 28º Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia, que teve como tema “Formação e mercado de trabalho do economista”.

O SINCE é um evento do Sistema Cofecon/Corecons, realizado a cada dois anos, com representantes dos Conselhos de Economia de todo o país. A edição de 2024 aconteceu em Balneário Camboriú, Santa Catarina. A coordenação do GT1 foi da conselheira federal Maria de Fátima Miranda e as relatoras foram as conselheiras federais Mônica Beraldo e Josélia Souza de Brito.

O GT1 contou com as seguintes apresentações, realizadas no dia 17 de outubro:

Poema Ísis Andrade de Souza – A importância do economista na docência universitária

Professora, coordenadora do Curso de Economia da UFRPE e presidente do Conselho Regional de Economia de Pernambuco, Poema reforçou a importância do economista na docência para o desenvolvimento do pensamento crítico e analítico nas áreas das ciências econômicas, em consonância com a evolução da sociedade.

“Ao longo do tempo, a atuação dos economistas no ensino superior evoluiu muito, acompanhando as mudanças tecnológicas e a complexidade da economia moderna”.

Ela valoriza o papel do docente, destacando que é o economista dentro das universidades que forma os futuros profissionais da Economia e os pesquisadores que serão entregues ao mercado, para atuar em todas as áreas, o que impacta em toda a categoria de economistas e na sociedade.

• Roberto Luis Troster – Mercado financeiro: uma atividade fascinante para o economista

Doutor em economia e economista chefe do Instituto de Inteligência Econômica, Troster cita diversos autores para falar do mercado financeiro, como o economista e político britânico David Ricardo.

Ele explica que o sistema financeiro brasileiro não foi planejado, por isso foram necessárias diversas políticas econômicas como correção monetária. E comenta a utilização inadequada de taxas de preços como índices de inflação, juntamente com a falta de transparência, o que dificulta a compreensão por parte dos investidores sobre a taxa de juros real e outras taxas a serem aplicadas.

Troster abordou a grade curricular utilizada atualmente pelas universidades, ressaltando a importância da padronização entre as instituições de ensino para aprimorar a qualidade da formação e preparar melhor os novos profissionais da economia.

• Mônica Beraldo – A atuação do economista no setor público

A conselheira federal e especialista em Engenharia Econômica e Economia Mineral enfatizou a necessidade de os editais de concursos públicos incluírem vagas para economistas devidamente registros nos Corecons.

“Alerto ainda que Conselhos precisam estar vigilantes, exercendo influência junto aos organizadores desses concursos, quando estes não trouxerem vagas para economistas, principalmente, se as atividades descritas no edital para determinada vaga forem exercidas por nós, economistas”.

Outro aspecto foi a necessidade de estreitar laços com as faculdades de economia, especialmente para inspirar os diretórios acadêmicos. Mônica mencionou as possibilidades que existem dentro do serviço público federal, sublinhando a importância de aumentar a representatividade feminina nesse espaço.

“Temos hoje mais mulheres com mais de 60 anos registradas nos Conselhos. Onde estão as mais jovens?”, questionou.
Mônica observou que o setor de Serviços é o maior empregador de economistas no Distrito Federal, destacando a transformação que o serviço público vem passando.

• Márcio Paixão – O papel do economista no meio ambiente para o desenvolvimento sustentável

Doutorando em Biotecnologia/Bioeconomia, mestre em Desenvolvimento Regional na Amazônia e presidente do Conselho Regional de Economia do Amazonas, Márcio iniciou sua apresentação explicando o papel fundamental do economista nesta área ambiental.

“A economia sustentável, ou economia verde, é uma forma de pensar a utilização de recursos naturais de forma harmoniosa com a natureza. Para isso, é preciso conservar recursos naturais, reduzir a poluição, mitigar as mudanças climáticas. O economista está totalmente inserido nesse trabalho de desenvolver soluções para esses desafios ambientais”.

Aqueles que atuam nessa área utilizam métodos econômicos para avaliar os benefícios e custos dos recursos e serviços ambientais, como ar e água limpos e biodiversidade. Alguns recursos são:
* Avaliação de recursos e serviços ambientais;
* Desenvolvimento de políticas públicas;
* Avaliação de impactos ambientais (ElA/RIMA);
* Valoração Econômica;
* Estudos para a Transição Energética;
* Viabilidade econômica para Biotecnologia.

O contraponto trazido por Márcio é que o crescimento econômico, por sua vez, pode ter impacto negativo no meio ambiente. Como resolver esse desafio?

• Tania Cristina Teixeira – Diretriz Nacional de Educação do curso de Economia

A doutora em economia, vice-coordenadora das comissões de Responsabilidade Social e Economia Solidária e Mulher Economista e Diversidade do Cofecon, falou sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para os cursos de Ciências Econômicas, explicando, primeiramente, que as diretrizes estabelecem os princípios que as instituições de ensino devem seguir para formar economistas capazes de atuar em diferentes contextos, promovendo o desenvolvimento econômico em todo o país.

Tania comentou a estrutura dessas diretrizes, cujos pilares são: conteúdos de formação geral (filosofia, sociologia, ética, política, matemática, estatística); conteúdos de formação teórico-quantitativa (macro e microeconomia, econometria); conteúdos de formação histórica (história de pensamento econômico, formação econômica do Brasil); conteúdos teórico-práticos (pesquisas, monografia, estágio supervisionado).

A diretriz está fundamental legal está baseada na Resolução CNE/CESn’4/2007. A especialista apresentou as revisões pelas quais as DCNs já passaram.

Um dos pontos fortes comentados é a possibilidade de os cursos escolherem até 50% de sua carga horária, ou seja, as instituições podem decidir como organizar essas aulas, adaptando-as às suas características ou necessidades específicas. Há um debate sobre o equilíbrio necessário entre essa autonomia e o padrão de ensino para que essa liberdade não gere uma falta de padronização e comprometa a formação.

Assim, o tema torna-se relevante e deve ser debatido entre educadores e, no caso da economia, entre os Conselhos de Economia e a Ange (Associação Nacional de Cursos de Graduação em Ciências Econômicas).

• Tiago Jazinski – O economista na perícia econômico-financeira

O perito economista falou sobre o mercado de trabalho em todas as áreas de Perícia, desde a área cível até a área trabalhista e recuperação judicial. O Perito pode atuar, por exemplo, junto aos advogados como assistente técnico ou junto ao juízo como perito judicial.

Ele explica que o perito é um profissional que precisa de sólida formação; precisa compreender a legislação, interpretar contratos e conteúdos jurídicos e ter uma boa capacidade de argumentação escrita e verbal.

Alguns exemplos de casos para os peritos são revisões de contratos, avaliação de empresas, crimes tributários, improbidade administrativa por desvio de recursos e outros. Tiago destacou também o tamanho do mercado de perícia e as inúmeras possibilidades.

Votação das propostas de melhorias para o Sistema Cofecon/Corecons

Após as exposições dos especialistas período da manhã do dia 17 de outubro, foram apresentadas diversas propostas para serem trabalhadas no âmbito do Sistema Cofecon/Corecons. Elas foram submetidas a votação dentro do “Grupo de Trabalho 1”

Conforme o regimento do evento, aquelas propostas aprovadas por maioria dentro do Grupo de Trabalho e aquelas que foram perdedoras, mas que tiveram um mínimo de um quarto dos votos, são levadas à plenária final do Since.

Foram aprovadas as seguintes propostas:

  • Atuar, junto à ANGE, para encontrar formas de contribuir com a diminuição da evasão dos alunos de economia nas universidades. Atuar, junto à ANGE, para encontrar formas de aproximação com o MEC e sugerir possíveis mudanças na grade curricular dos cursos. Propor ações que ajudem nestes dois casos – evasão e revisão das diretrizes curriculares, tendo como resultado uma formação de qualidade para os futuros profissionais da área.
  • Incluir um novo trecho no juramento do economista.
  • Participação efetiva dos Corecons em ações de educação financeira, a fim de conscientizar a sociedade, especialmente sobre planejamento financeiro.
  • Adotar certificação por especialidade.
  • Atualizar e fortalecer as competências dos economistas acompanhando os avanços tecnológicos e a era da inteligência artificial.
  • Regulamentar / incorporar cursos correlatos no Sistema Cofecon
  • Implantar cursos de aperfeiçoamento/especialização na modalidade EAD.
  • Proposta criação de Lei Federal, inspirada da Lei Distrital nº 5.422, de 2014.
  • Apresentar a análise de que há um importante campo de atuação para os economistas na área do setor público, principalmente em relação ao planejamento municipal.
  • Aprovar Resolução que contemple a Educação Financeira e Previdenciária como atividade contemplada pela profissão de Economista.
  • Incentivar participação de Bacharéis em Ciências Econômicas em cursos de formação pedagógica.

Evasão e diretriz curricular dos cursos de Economia são temas de destaque no Grupo 1: por que tantos estudantes abandonam a faculdade de Economia?

Dentre os debates sobre as propostas apresentadas no primeiro dia de votações, o Grupo de Trabalho 1 destacou aquelas relacionadas a formação e mercado de trabalho, focando em um problema preocupante: a evasão dos alunos dos cursos de Ciências Econômicas de todo o país.

Com base nessa elevada taxa de desistência dos estudantes, foram feitas propostas, como os Corecons terem um contato mais próximo com coordenadores de cursos; realizar encontros, mesas-redondas e diálogos entre acadêmicos e economistas recém-formados com profissionais experientes. O objetivo é oferecer orientação sobre as possibilidades de atuação do economista.

Estreitar o relacionamento com alunos do ensino médio, que ainda não escolheram que profissão seguir e falar sobre a carreira na economia antes deles ingressarem na faculdade, também surgiu como proposta no Grupo 1. No entanto, nem todos os participantes acreditam que essas ações serão suficientes para mitigar a evasão. Alguns integrantes do grupo apontaram que o problema pode estar relacionado à grade curricular e à necessidade de um entendimento mais profundo sobre os motivos que levam os alunos a desistirem dos cursos.

Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais

Em um desdobramento do debate sobre evasão, o grupo também discutiu a revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Ciências Econômicas. Foi sugerido que essas diretrizes sejam atualizadas para refletir os avanços recentes no ensino e no mercado de trabalho da economia, e também para se adaptar aos cenários político-econômicos.

As relatoras do G1 e demais colegas do grupo relembraram que os Corecons, não tem autonomia para interferir na revisão das diretrizes, que são regulamentas pela Resolução CNE/CESn’4/2007. As Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Ciências Econômicas são criadas pelo Ministério da Educação (MEC) no Brasil. O que pode ser feito pelos Corecons é uma ação em conjunto com a Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Economia (ANGE), para uma aproximação junto ao MEC e sugerir possíveis mudanças na grade curricular dos cursos.

Diante dessas duas preocupações, o grupo concordou que, tanto a revisão das diretrizes quanto a compreensão das causas da evasão, são questões legítimas que precisam ser abordadas. Com isso, pretende-se propor ações que ajudem nestes dois casos, tendo como resultado uma formação de qualidade para os futuros profissionais da área.

A necessidade de um debate aprofundado sobre a incorporação de novas categorias de profissionais e ampliação do registro no Sistema Cofecon/Corecons

Outra proposta importante debatida foi a ampliação do registro no sistema Cofecon/Corecons, incluindo profissionais de cursos com forte intersecção com as Ciências Econômicas. Essa medida busca representar melhor esses profissionais e aumentar a base de inscritos nos Conselhos Regionais. Houve, por parte do Grupo, uma preocupação quanto à percepção de pertencimento desses novos profissionais. A necessidade de analisar detalhadamente a matriz curricular dos cursos relacionados foi ressaltada, a fim de garantir a compatibilidade com a formação em Economia.

A aprovação da proposta exigiria uma alteração na Lei nº 1.411/1951, o que destaca a importância da decisão. Foi citado pelo Grupo como é grande a responsabilidade dos conselheiros federais que irão tomar essa decisão, que pode impactar as prerrogativas de outras profissões.

Foi enfatizada a importância da isonomia de tratamento, ou seja, uma vez concedido o registro a um profissional de determinada categoria, todos os demais da mesma categoria devem ter o mesmo direito. A discussão ressaltou a necessidade de uma cuidadosa análise da proposta, considerando tanto os benefícios da ampliação do registro quanto as possíveis implicações para a profissão de economista e outras áreas relacionadas.

Confira as fotos do evento:

28º SINCE