Entrevista: André Koerich fala sobre organização do 28º SINCE

Presidente do Corecon-SC fala sobre a organização do 28º Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia, que será realizado de 16 a 18 de outubro em Balneário Camboriú-SC. 

Nos dias 16 a 18 de outubro a cidade de Balneário Camboriú receberá o 28º Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia (inscrições AQUI) e o presidente do Corecon-SC, economista André Koerich, falou sobre alguns dos desafios de organizar o evento. Em entrevista ao Cofecon, ele abordou as particularidades econômicas do estado, a escolha da cidade sede e a contribuição que o Sistema Cofecon/Corecons pode dar para a promoção do desenvolvimento econômico no Brasil. Ele também enfatiza que o sucesso do simpósio dependerá da apresentação de propostas concretas e da participação ativa de economistas de todo o País.

Em que a 28ª edição do SINCE difere das anteriores?

Vamos trazer o tema do desenvolvimento regional para o debate. Entendo que o desenvolvimento do Brasil passa pelo desenvolvimento regional. Neste contexto, o estado de Santa Catarina e a região Sul em geral podem trazer pontos interessantes sobre o tema.

Santa Catarina tem uma economia rica e diversificada. Na grande Florianópolis destacam-se os setores de tecnologia, turismo, serviços e construção civil. Temos no norte do estado um polo tecnológico, moveleiro e metalmecânico. O oeste concentra atividades de produção alimentar e de móveis, o sul destaca-se pelos segmentos do vestuário, plásticos descartáveis, carbonífero e cerâmico. No vale do Itajaí, bem próximo de Balneário Camboriú temos as indústrias têxtil e do vestuário, naval e de tecnologia.  Santa Catarina é forte pela igualdade no desenvolvimento nas regiões e pela diversificação dos setores nestas oito principais regiões: litoral, nordeste, planalto norte, vale do Itajaí, planalto serrano, sul, meio-oeste e oeste.

Devemos fazer esta análise em nível nacional: unir o País de norte a sul e construir esta sinergia em busca de caminhos para o desenvolvimento. O foco deve ser no uso eficiente dos recursos, sejam públicos ou privados.

Como foi o processo de escolha do tema central do SINCE? (A contribuição do Sistema Cofecon/Corecons para a promoção do desenvolvimento econômico do Brasil e suas regiões)

É um tema muito pertinente. O Brasil só vai crescer através do desenvolvimento econômico consistente, vindo de suas mais diversas regiões. Penso que antes de tudo os economistas são agentes de mudança em busca do desenvolvimento. O economista auxilia no planejamento, na elaboração do orçamento, no melhor uso dos recursos (que são escassos). Devemos analisar onde eles realmente estão sendo utilizados e propor melhoria no seu uso. Acredito na máxima que no Brasil não faltam recursos e sim uma boa aplicação deles.

O equilíbrio nas contas públicas é um importante fator de desenvolvimento, e equilíbrio passa por uma reforma administrativa ampla e redução de privilégios. Deve-se buscar entender as microssoluções encontradas que deram certo nos estados e tenham conduzido a um maior desenvolvimento, e encontrar formas de levar estas soluções para os demais estados. Temos que pensar no porquê de temos, em regra, uma economia pouco competitiva e com baixa inovação. O Sistema Cofecon/Corecons pode auxiliar neste caminho.

Como foi a escolha da cidade de Balneário Camboriú para sediar o evento? Que outras opções de cidade foram levadas em conta?

Santa Catarina é um estado com muitos polos de desenvolvimento. Dentre eles, temos a região do vale do Itajaí e o litoral norte, onde se encontra cidade de Balneário Camboriú, que tem grande destaque, sendo até chamada de a Dubai brasileira. Balneário tem o segundo maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de SC, perdendo apenas para capital Florianópolis. Da mesma forma, o IDH de SC é o segundo maior do Brasil, perdendo apenas para o DF. Devemos analisar o que SC está fazendo em termos de desenvolvimento e levar este benchmarking para este Brasil hoje tão desigual.

Quais são as principais dificuldades de organizar um evento da magnitude do SINCE?

Antes de tudo, é uma honra para o Corecon-SC organizar um evento desta magnitude. A organização é sempre trabalhosa, mas vejo com certa tranquilidade pela equipe de apoio que temos, tanto a nível federal como regional. Penso que a maior dificuldade esteja na busca de patrocínios. Tanto no setor privado quanto no público, não temos conseguido apoio significativo. Dentro disso, temos dificuldade no cumprimento do orçamento disponibilizado em relação aos custos que se mostram altos na cidade de Balneário Camboriú. De todo modo, faremos um excelente evento com a verba disponibilizada e dentro do orçamento. Esperamos contar com um grande número de economistas e, desde já, convido a todos para que compareçam.

A abertura do evento tem uma homenagem aos 60 anos do Corecon-SC. Que pontos da história do Regional você destacaria ao falar sobre a trajetória percorrida nestas seis décadas?

Além de cumprir o seu papel institucional, o Corecon-SC nestas seis décadas de existência promoveu a integração dos economistas catarinenses, garantiu o suporte técnico aos cursos de Ciências Econômicas, investiu em um plano de qualificação profissional e sediou eventos importantes do Sistema Cofecon/Corecons, assegurando aos economistas catarinenses a participação nos principais fóruns de discussão em economia.

Podemos destacar as seguintes ações:

  • O suporte técnico na criação e manutenção dos cursos de Ciências Econômicas de Santa Catarina. O Corecon-SC sempre se fez presentes junto às Universidades, auxiliando da melhor maneira na elaboração e atualização das grades curriculares dos cursos de economia. O Encontro dos Cursos de Ciências Econômicas realizado anualmente tornou-se um importante espaço para os coordenadores, professores e estudantes sugerirem melhorias na qualidade do ensino e atualização da grade curricular e suas ementas;
  • Os cursos de qualificação profissional promovidos e/ou incentivados pelo Corecon-SC, especialmente o de Perícia Econômico-Financeira, possibilitaram ao longo desses 60 anos a capacitação de diversos economistas e a abertura de um novo horizonte profissional;
  • Eventos como Congresso Brasileiro de Economia, Simpósio Nacional dos Conselhos de Economia e o Encontro de Economistas da Região Sul, realizados por diversas vezes em Santa Catarina, possibilitaram aos economistas catarinenses participarem de importantes discussões sobre a economia brasileira e até internacional, numa época em que este tipo de debate ficava muito concentrado na região Sudeste do país.

Uma atividade que vem se tornando tradicional nos eventos do Sistema Cofecon/Corecons é o Fórum da Mulher Economista. Como o Corecon-SC vê esta atividade?

O CORECON-SC vê essa atividade como de suma importância para a manutenção das nossas entidades. Já tivemos uma mulher como presidente do Corecon-SC. Hoje temos uma mulher na vice-presidência, como já ocorrido em mandatos anteriores, porém ainda há pouca participação feminina nos Conselhos de Economia, facilmente identificada na composição dos Plenários. Promover este tipo de atividade, além de trazer à tona as questões de gênero e de desigualdades no mercado de trabalho, muito atuais neste momento, pode incentivar a participação de mais economistas do sexo feminino nos Conselhos de Economia e no futuro da profissão.

Um dos grupos de trabalho do evento discute a conjuntura econômica, política e social do Brasil. Quais são as questões econômicas mais importantes no Brasil de hoje?

Temos sempre a questão do equilíbrio fiscal que precisa ser relembrada. O desequilíbrio traz a desconfiança do mercado, ocasionando o aumento do dólar, a preocupação com o aumento da inflação e o aumento da taxa de juros – ou, no mínimo, a inviabilidade para sua redução.

Temos um Estado hoje com foco no aumento das receitas e consequente aumento da carga tributária e pouco cuidado com o controle de gastos. Vejo como incoerente o volume de gastos públicos dispensados para a campanha eleitoral em um país que necessita, antes de tudo de segurança, saúde e educação.

Entendo que teremos, no médio prazo, melhorias com a aprovação da primeira fase da reforma tributária, que contemplou a simplificação dos impostos sobre o consumo. Temos, porém, que tomar um certo cuidado com a sua regulamentação para que não reflita em aumento da carga tributária. A continuidade da reforma, com mudanças no imposto sobre a renda, também é uma questão de suma importância.

Por fim, necessitamos urgente de uma reforma administrativa, reduzindo privilégios dos funcionários públicos, trazendo a remuneração dos cargos para algo mais próximo da realidade do mercado privado para os novos servidores, bem como mudanças na questão da previdência não contempladas em reformas anteriores.

Existem outras atividades paralelas durante o evento?

O Sistema Cofecon/Corecons promove a Gincana Nacional de Economia, que consiste na realização de um jogo eletrônico sobre a teoria econômica. Participam da Gincana estudantes pré-selecionados nos cursos de Ciências Econômicas de todas às universidades brasileiras.

Quais são os principais indicadores de sucesso do evento e como eles poderão ser medidos após o SINCE?

É importante relembrar que este é um evento interno para organização do Sistema Cofecon/Corecon. Dentro deste contexto, a apresentação de propostas de reformulações e melhorias do Sistema é, na minha opinião, o principal indicador. Outro grande indicador e a quantidade de participantes do evento, sejam presidentes, delegados, economistas em geral e estudantes de economia.

Qual a contribuição que o Sistema Cofecon/Corecons pode dar para o desenvolvimento do Brasil e suas regiões?

Antes de tudo o foco do Sistema deve ser a sua função precípua, que é de fiscalizar o exercício da profissão, exigindo que o profissional esteja regularmente habilitado para exercer a profissão de economista.

Dentro disto, os economistas têm papel fundamental como agentes de transformação em busca do desenvolvimento. Por meio de de sua expertise e conhecimento técnico, atuam na identificação de problemas, na formulação de políticas públicas e na proposição de soluções inovadoras para os desafios do desenvolvimento regional.

O Sistema Cofecon/Corecons assume um papel fundamental nesse contexto, atuando em diversas frentes:

  • Elaboração de estudos e pesquisas: O Cofecon e os Corecons produzem estudos e pesquisas relevantes sobre a realidade socioeconômica das diferentes regiões do país, fornecendo subsídios para a formulação de políticas públicas eficazes.
  • Promoção de debates e eventos: A realização de debates, seminários e workshops permite o compartilhamento de conhecimentos e experiências entre economistas, gestores públicos e a sociedade civil, fomentando o diálogo e a busca por soluções conjuntas para os desafios do desenvolvimento regional.
  • Assessoria a órgãos públicos: O Sistema Cofecon/Corecons oferece assessoria técnica especializada a órgãos públicos dos diversos níveis de governo, contribuindo para a qualificação da gestão pública e a implementação de políticas públicas eficientes.
  • Fortalecimento da representatividade da classe: O Sistema Cofecon/Corecons representa os interesses da classe dos economistas em âmbito nacional e regional, defendendo seus direitos e promovendo a valorização profissional.

Por fim, vale destacar a importância do tema: “A contribuição do Sistema Cofecon/Corecons para a promoção do desenvolvimento econômico do Brasil e suas regiões”. O desenvolvimento regional é um tema de extrema importância para o futuro do Brasil. A superação dos obstáculos que o impedem é fundamental para garantir o crescimento econômico sustentável, a justiça social e a qualidade de vida da população em todas as regiões do país.