XXXII ENE – Paulo Cavalcante: “Não é só crescer mais rápido, é ter o perfil de crescimento certo”

Professor da UFPB aponta que há setores com papéis diferentes na economia e que a política industrial para a região não deve ser meramente aceleracionista

Para que o Nordeste se desenvolva, é preciso que ele cresça acima da média nacional, certo? Sim – mas isso não é o bastante. O professor Paulo Fernando Cavalcante, da Universidade Federal da Paraíba, explica que crescer não é suficiente. Há setores diferentes da economia com papéis diferentes, e que por isso é preciso ter o perfil correto de crescimento – e, para isso, ele menciona a importância da indústria de bens de capital. Clique AQUI para assistir a palestra de Cavalcante no XXXII Encontro de Entidades de Economistas do Nordeste (ENE).

Não adianta usar os recursos do Banco do Nordeste para aumentar o tamanho da indústria de bens de consumo porque isso não muda o perfil da região. Aumenta o tamanho da economia, mas não muda o perfil da região, não muda a necessidade que ela tem de transferência de renda para gerar demanda suficiente para ter rentabilidade”, argumentou o professor. “Não vamos entender a importância da regionalização ou da territorialização da política se não percebermos que há setores com papéis diferentes na economia. Se eu não tiver setor de bens de capital nessa economia, vou precisar de transferências de renda governamental ou que essa economia seja tão competitiva que ela consiga exportar”.

Uma questão que já está sendo discutida com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio: a estratégia da política industrial não deve ser meramente aceleracionista”, explicou. “O Nordeste pode crescer mais rápido que o Sudeste. Isso não é ruim, mas não resolve o problema. Eu posso dobrar o tamanho dessa economia, mas aumentarei o tamanho do problema. Não é apenas questão de crescer mais rápido, mas sim o perfil do crescimento certo. Celso Furtado dizia que acelerar o crescimento sem transformar a estrutura aprofunda o subdesenvolvimento”.

Como exemplo, Cavalcante disse que em grande parte do Nordeste, se uma máquina apresenta defeito, é preciso esperar que venha um engenheiro de Recife para consertá-la. “A cidade que concentra a maior parte dos serviços sofisticados oferecidos às empresas é o Recife. Isso é um entrave para a interiorização. Como é que eu vou colocar uma empresa a quinhentos quilômetros do Recife, se quando quebrar uma máquina a empresa ficará parada esperando vir alguém de lá? Como eu localizo esses serviços no interior?”, questionou. “As experiências desenvolvimentista e neoliberal não mudaram características básicas do problema regional: a heterogeneidade estrutural e a integração do Nordeste ao Sudeste; as desigualdades socioeconômicas intra e inter-regionais; e a estrutura de poder político institucional enraizada e retroalimentadora dos dois fatores”.

Paulo Fernando Cavalcante é graduado e mestre em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco, doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutor pela Universidade Estadual de Campinas. É professor da Universidade Federal da Paraíba e sócio fundador do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba.