Flávia Vinhaes: “Estamos andando na direção da justiça social”
Em entrevista à TV Aparecida, vice-presidente do Cofecon falou sobre conceitos, programas e situações práticas e mencionou o trabalho do Fórum Nacional pela Redução da Desigualdade Social
A vice-presidente do Cofecon, Flávia Vinhaes, falou ao programa Aparecida Debate sobre justiça social. Ela foi entrevistada na edição que foi ao ar na última terça-feira (20). O programa, com a participação da economista, pode ser assistido clicando AQUI.
Antes da entrevista, a justiça social foi definida como ações voltadas para a garantia de direitos básicos como saúde, educação, justiça, segurança, trabalho e manifestação cultural. “São características complementares, e as políticas sociais fazem muito mais sentido quando estão interligadas. Elas se imbricam e compõem aquilo que a gente chama de maior igualdade social”, expressou a economista. “O principal problema do Brasil é a desigualdade social. Existem vários fatores que levam a isso, não vamos conseguir combater todos ao mesmo tempo, mas é fundamental que avancemos”.
Ao abordar a importância de programas sociais como o Bolsa-Família, Vinhaes destacou que mais de 75% da renda das famílias no Brasil é composta por salários, mas que nem sempre é possível garantir que todos estejam no mercado de trabalho. “Às vezes não há vagas disponíveis em momentos de recessão, ou eventualmente as pessoas não podem ser absorvidas pelo mercado de trabalho, pode ser que elas tenham dramas pessoais ou momentos em que não conseguem se integrar”, comentou a vice-presidente do Cofecon. “Esses programas de transferência de renda são fundamentais para esse momento, fazem com que as pessoas não vivam numa condição de miséria, inclusive comprometendo as próximas gerações. Quando os pais vivem na miséria, isso compromete o desempenho dos filhos na escola, eles vão se alimentar mal, elas ficam numa situação degradante, uma pobreza intergeracional. É fundamental romper estes mecanismos de empobrecimento e degradação da sociedade”.
“Às vezes não há vagas disponíveis em momentos de recessão, ou eventualmente as pessoas não podem ser absorvidas pelo mercado de trabalho, pode ser que elas tenham dramas pessoais ou momentos em que não conseguem se integrar”, comentou.
Flávia Vinhaes, vice-presidente do Cofecon
A economista destacou que, muitas vezes, a entrada no programa é apenas momentânea. “Depois a pessoa já consegue uma inserção no mercado e já sai do Bolsa-Família. É importante que o mercado de trabalho, a previdência, a assistência social e a educação estejam interligados”, apontou Flávia. “As políticas de assistência social fazem parte de uma estrutura de proteção social. O primeiro mundo é primeiro mundo também porque tem muitas políticas sociais, eles fazem assistencialismo no melhor sentido da palavra. As pessoas precisam ter acesso a saúde, educação, qualidade de vida, bens de consumo, lazer e cultura. Tudo isso é fundamental para construir cidadania”.
O Brasil viveu quase uma década com índices elevados de desemprego e os níveis atuais são os menores desde 2014. “O emprego está muito relacionado à atividade econômica. Quando ela melhora, isso tem um impacto no mercado de trabalho. Estamos numa trajetória de queda do desemprego e melhora da remuneração, com várias políticas públicas no sentido de melhorar a vida do trabalhador, gerar oportunidades e reduzir as desigualdades”, abordou a economista. “Temos uma informalidade muito grande. Quando temos um trabalho com carteira assinada e algum nível de segurança, as pessoas se arriscam a fazer compras, a usar o crediário, comprar um carro, adquirir a casa própria e investir num curso para os filhos ou para si próprio. Isso só é possível se tiver estabilidade e quem não tem estabilidade não arrisca. A formalização do mercado beneficia não só o trabalhador, mas a sociedade como um todo”.
O primeiro mundo é primeiro mundo também porque tem muitas políticas sociais, eles fazem assistencialismo no melhor sentido da palavra. As pessoas precisam ter acesso a saúde, educação, qualidade de vida, bens de consumo, lazer e cultura. Tudo isso é fundamental para construir cidadania”.
Flávia Vinhaes
Vinhaes também coordena o Fórum Nacional pela Redução da Desigualdade Social, conduzido pelo Cofecon e composto por mais de 30 instituições, e falou sobre este trabalho. “Nos reunimos para debater vários temas, lançamos documentos e publicações, estreitamos o diálogo com o poder Legislativo, conversamos com ministros que nos recebem para expormos nossas propostas e nos oferecermos para travar este diálogo junto à sociedade e seus representantes”, observou Vinhaes. “Estamos sempre tentando dialogar com a sociedade por meio de seus mecanismos institucionais”.
Questionada se estamos longe da justiça social, a economista disse que sim. “Mas o que importa é que estamos andando na direção dela. Se nos movermos no caminho certo, este é o nosso papel. Não sei em quanto tempo, porque a história é feita de avanços e retrocessos, mas o importante é avançar em direção a ela”.
Confira abaixo a entrevista completa: